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China contesta '12 rumores' sobre sua atuação na pandemia de Covid-19

Documento divulgado nesta quarta-feira pela embaixada chinesa no Brasil enumera pontos rebatidos por Pequim
Wuhan, local de surgimento da pandemia, permitiu retomada do ir e vir Foto: STR
Wuhan, local de surgimento da pandemia, permitiu retomada do ir e vir Foto: STR

BRASÍLIA —  Em meio à guerra de informações sobre a pandemia de coronavírus no mundo, permeada pela rivalidade entre Estados Unidos e China , a embaixada chinesa no Brasil divulgou um comunicado, nesta quarta-feira, rebatendo acusações que circulam sobre o comportamento de Pequim em relação à crise. Segundo a nota, o objetivo é fazer um contra-ataque a informações que vão desde a origem do vírus até a omissão de dados sobre a Covid-19 e a permissão para o comércio de animais selvagens.

"Nas redes sociais e em algumas mídias tradicionais, mentiras, rumores e teorias da conspiração são muito populares. Seus veiculadores têm motivos próprios, alguns pretendem difamar oponentes políticos e institucionais e outros até acusam países, nações e religiões específicas", diz o texto, segundo o qual a China foi particularmente afetada por essa "epidemia da má informação".

O documento, denominado "12 rumores infundados sobre a China durante a epidemia de Covid-19", começa pela interpretação de que o novo coronavírus teria sido criado em um laboratório chinês. Os chineses negam isso e dizem que a própria Organização Mundial da Saúde ( OMS ) considera que o vírus se originou na natureza, e não artificialmente.

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"Atualmente, a comunidade científica não esclareceu a fonte natural específica deste patógeno e especula apenas que possa estar associado a morcegos e pangolins", diz um trecho do comunicado.

Os chineses também refutam a ideia de que a doença teria surgido de um acidente de laboratório no Instituto de Investigação de Virologia de Wuhan . De acordo com as autoridades daquele país, o laboratório, além de lidar com os patógenos mais mortais do mundo, fica a cerca de 30 quilômetros do centro de Wuhan "e é impossível para o vírus deixar um laboratório de tão alta segurança".

A China também afirma que o fato de Wuhan ter sido o primeiro lugar onde foram registrados casos desse vírus não significa que lá é necessariamente a sua origem. Lembra que os EUA relataram inicialmente casos de infecção por HIV, mas sua origem mais provável é a África Ocidental.

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Uma tese polêmica, que tem sido objetivo de debates entre especialistas de todo o mundo, é que a China teria sido informada do início do surto e ocultou informações relevantes durante 45 dias. Pequim rebate, dizendo que as instituições oficiais do país foram informadas pela primeira vez sobre um caso de pneumonia atípica em 27 de dezembro de 2019 e publicaram seu primeiro aviso sobre a doença no dia 31 do mesmo mês.

O governo chinês também rechaça a informação de que teria escondido e reportado com inexatidão o número de casos diagnosticados e mortes por Covid-19. Da mesma forma, nega que tenha ocultado a verdade sobre a epidemia de Covid-19 durante muito tempo antes de ela se tornar uma pandemia global. Ressalta que notificou o quanto antes o público nacional e global sobre o problema e tomou medidas rigorosas de prevenção e controle, dando ao resto do mundo pelo menos seis semanas de avanço para se preparar.

Em uma clara contraposição ao que dizem os EUA, a China nega que tenha manipulado a OMS, para que o organismo não direcionasse críticas a Pequim. Afirma que a organização tem apenas um membro chinês em sua equipe de liderança, enquanto há 11 americanos. Antes de anunciar a suspensão do financiamento da OMS , os EUA eram o maior contribuinte da instituição.

Conforme o documento, a China não é responsável pela pandemia, e sim uma vítima e, portanto, não tem de compensar o mundo pelo que está ocorrendo. Além disso, diz o comunicado, o fato de os chineses estarem ajudando outros países a combater a doença não significa que o objetivo de Pequim seja expandir sua influência geopolítica.

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"A China ajuda outros países por motivos humanitários e de solidariedade, partilhando a sua experiência acumulada na luta contra epidemias", diz o comunicado.

As autoridades chinesas rebatem declarações de que os produtos médicos importados da China são defeituosos e de qualidade duvidosa. Afirmam que as inspeções de qualidade são rigorosas.

O governo chinês nega, ainda, que o país tenha criado o novo coronavírus para paralisar a economia ocidental. Argumenta que a economia da China só estará bem se o resto do mundo operar dentro da normalidade.

Por fim, o governo chinês nega ter reaberto seus mercados de animais selvagens, mesmo porque, assegura a embaixada, não existe esse tipo de mercado no país: a legislação chinesa proíbe a caça, o comércio, o transporte e o consumo desses animais.

A Feira Livre de Frutos do Mar de Huanan, em Wuhan, foi identificada como provável fonte do surto em dezembro, sendo fechada na ocasião. Em janeiro, foi banida a venda de animais silvestres em toda a província.