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China denuncia ‘mentiras descaradas’ dos EUA, após Trump voltar a acusar Pequim de negligência

Países protagonizam mais um capítulo de tensões sobre a responsabilidade pelos estragos do coronavírus
Um homem de máscara passa em frente a um outdoor com propaganda do Partido Comunista Chinês em Pequim Foto: NICOLAS ASFOURI / AFP
Um homem de máscara passa em frente a um outdoor com propaganda do Partido Comunista Chinês em Pequim Foto: NICOLAS ASFOURI / AFP

PEQUIM - China e EUA protagonizaram mais um capítulo de sua acirrada disputa de narrativas nesta terça-feira, quando Pequim acusou os políticos americanos de "contarem mentiras descaradas" sobre a pandemia do novo coronavírus, em resposta a uma acusação feita na véspera por Donald Trump, que ameaçou exigir uma indenização chinesa por negligência.

—  As autoridades americanas ignoraram a verdade em várias ocasiões e proferiram mentiras descaradas — afirmou o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Geng Shuang.

Ele acusou Washington de "distrair a atenção pública" de seu programa "ruim" de prevenção e controle da pandemia.

—  Eles têm apenas um objetivo: eximir-se de qualquer responsabilidade sobre sua própria gestão da epidemia e distrair a atenção da sociedade.

Em sua entrevista coletiva diária na segunda-feira, o presidente dos EUA apontou a possibilidade de pedir a Pequim uma compensação de bilhões de dólares pelos danos causados pelo novo coronavírus, cujo primeiro foco foi a cidade chinesa de Wuhan no final de 2019.

—  Não estamos felizes com a China —  disse Trump, da Casa Branca.— Poderia ter parado rapidamente e não teria se espalhado pelo mundo todo.

Nesta terça, quando os EUA atingiram 1 milhão de casos da Covid-19, com quase 60 mil mortes, ele voltou ao assunto, afirmando que seu governo está fazendo uma "investigação séria" para saber se a China poderia ter contido o coronavírus antes que ele se espalhasse pelo globo,

—  Acreditamos que ela [a doença] poderia ter sido parada rapidamente, e desse modo não se espalharia pelo mundo todo —  disse.

Desde que a Covid-19 se espalhou pelo mundo, Trump e a China trocam acusações sobre a doença, ao mesmo tempo em que procuram se eximir de responsabilidade por eventuais erros.

Pequim é acusada de agir sem transparência e com lentidão para comunicar o risco da doença em suas primeiras manifestações, em dezembro. O governo americano, por sua vez, minimizou os perigos da pandemia por semanas, desconsiderando alertas de seus próprios técnicos sobre potenciais devastações que acabaram por se concretizar.

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Enquanto seus líderes trocam acusações, cientistas americanos e chineses estão trabalhando em conjunto para investigar a origem do vírus.

Ian Lipkin, diretor do Centro de Infecção e Imunidade da Escola de Saúde Pública Mailman da Universidade de Columbia, disse que estava trabalhando com uma equipe de pesquisadores chineses para determinar se o coronavírus surgiu em outras partes da China antes de ser descoberto pela primeira vez em Wuhan, noticiou o Financial Times . O esforço depende da ajuda dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças da China.

O pesquisador visitou a China neste ano e teve acesso a amostras de bancos de sangue de todo o país, obtidas de pacientes com pneumonia, para investigar a presença do novo coronavírus antes do surto coonhecido em Wuhan.