Mundo Guerra na Ucrânia

Civis que estavam em teatro bombardeado em Mariupol estão sendo resgatados com vida, diz Ucrânia

Conforme autoridades, o abrigo antibombas do edifício resistiu ao ataque
Teatro bombardeado em Mariupol era usado como abrigo por civis Foto: DONETSK REGIONAL ADMINISTRATION / via REUTERS
Teatro bombardeado em Mariupol era usado como abrigo por civis Foto: DONETSK REGIONAL ADMINISTRATION / via REUTERS

MARIUPOL — Autoridades estão resgatando com vida os civis que estavam abrigados em um teatro bombardeado na cidade de Mariupol nesta quarta-feira. A Ucrânia acusa a Rússia pelo ataque, que nega a autoria. Estima-se que até 500 mulheres e crianças estavam no abrigo antiaéreo do edifício, que resistiu ao ataque. Ainda não há informações sobre mortos e feridos.

Petro Andrushchenko, assessor do prefeito da cidade, confirmou que algumas pessoas sobreviveram à explosão.

— O abrigo antibombas resistiu. Agora os escombros estão sendo removidos. Há sobreviventes. Ainda não sabemos o número de vítimas — disse ele à Reuters por telefone.

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Sergei Taruta,  deputado da região de Donetsk, também afirmou que, “depois de uma noite terrível sem saber, finalmente temos boas notícias de Mariupol”. “O abrigo antibombas [do teatro] aguentou. Os escombros começam a ser removidos. As pessoas estão saindo vivas”, escreveu no Facebook.

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Membro do Parlamento de Mariupol, Dmytro Gurin, cujos pais estão presos na cidade, disse à BBC que o prédio do teatro estava destruído mas que também recebeu a informação de que o abrigo antiaéreo resistiu e as pessoas que lá estavam sobreviveram.

— Ainda não sabemos se há feridos ou mortos. Mas parece que a maioria sobreviveu e está bem — celebrou.

Imagem de satélite da empresa Maxar mostra, no centro, o Teatro Dramático de Mariupol: nas partes da frente e de trás aparece a palavra "crianças", em ucraniano Foto: - / AFP
Imagem de satélite da empresa Maxar mostra, no centro, o Teatro Dramático de Mariupol: nas partes da frente e de trás aparece a palavra "crianças", em ucraniano Foto: - / AFP

Troca de acusações

Imagens de satélite, fornecidas pela empresa MAXAR, mostram que a palavra “crianças” havia sido escrita em dois estacionamentos localizados ao lado do teatro, um tentativa de avisar a militares que havia apenas civs no local.

Nesta quinta-feira, o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, disse em uma mensagem de vídeo ao Parlamento Europeu que o “russo que bombardeou o teatro é um monstro”.

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A Câmara Municipal e Mariupol disse que cerca de 30 mil moradores já conseguiram escapar da cidade, que está cercada por forças russas, mas que mais de 350 mil permanecem presas. Autoridades dizem que os danos físicos à cidade foram "enormes". Estima-se que cerca de 80% das casas da cidade tenham sido destruídas, das quais não será possível reparar quase 30%.

A Casa também acusou as forças russas  de “atacarem de forma proposital e cínica” o Teatro Dramático, na região central.

“O avião jogou uma bomba no prédio onde centenas de residentes pacíficos de Mariupol estavam se escondendo. Ainda é impossível estimar o tamanho desse ato horrível e desumano, porque áreas da cidade ainda estão sendo atacadas”, afirmou a Câmara durante à noite de quarta-feira, em publicação no Telegram.

— O coração está partido pelo que a Rússia faz com nosso povo, nossa Mariupol e nossa região de Donetsk — disse o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy em um discurso noturno na quarta-feira, depois de se referir ao ataque ao teatro.

Já o Ministério das Relações Exteriores ucraniano classificou a ação como um crime de guerra.

“Ao realizar esse ataque proposital, em uma área onde havia concentração de civis, a Rússia cometeu mais um crime de guerra. E esse crime ocorreu ao mesmo tempo em que a Corte Internacional de Justiça anunciava uma decisão exigindo que a Rússia suspenda suas ações militares na Ucrânia imediatamente ”, ressaltou a pasta em comunicado.

O Ministério da Defesa russo, por sua vez, negou ter realizado o ataque, e responsabilizou o Batalhão de Azov, uma milícia ucraniana ligada à extrema direita, pela ação.

Localizada no Mar de Azov, Mariupol é um dos principais cenários da guerra na Ucrânia: a infraestrutura da cidade foi parcialmente destruída, e aqueles que deixam o local afirmam que corpos estão espalhados pelas ruas — segundo autoridades locais, o número de mortos chegaria a 2.400.

Oksana Zalavska, de 42 anos, fugiu de Mariupol há dois dias e agora está em Zaporizhzhya. Mãe de um menino de três anos e de uma menina de 12, ela estava hospedada em um abrigo antiaéreo superlotado, onde os adultos comiam uma pequena refeição por dia, porque a quantidade de alimentos era pequena.

— Agora eu sei tudo sobre a fome em 2022 — disse ela à Reuters.

Zalavska e sua família tentaram escapar de Mariupol uma vez antes, em 6 de março, quando souberam que um corredor seguro havia sido aberto. Ela disse, porém que os bombardeios russos continuaram e eles correram de volta para o abrigo. Na segunda tentativa, eles seguiram em frente.

— Para dizer a verdade, estávamos prontos para morrer — disse ela. — Poderíamos morrer em um abrigo antiaéreo ou poderíamos morrer tentando chegar à liberdade. Não tivemos escolha.