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Conflito em região na Etiópia se agrava após ataque de forças dissidentes

Foguetes danificaram aeroporto em Tigré, área que trava guerra contra forças federais; diplomatas falam em projéteis lançados contra a vizinha Eritreia
Membros de milícias da região de Amhara, que apoiam Abiy, a caminho de um confronto contra as tropas de Tigré Foto: Tiksa Negeri / Reuters
Membros de milícias da região de Amhara, que apoiam Abiy, a caminho de um confronto contra as tropas de Tigré Foto: Tiksa Negeri / Reuters

As forças do Tigré, uma região dissidente da Etiópia que trava uma guerra contra as forças federais , assumiram a responsabilidade, neste sábado (14), pelo bombardeio de dois aeroportos em Amhara, uma região vizinha. O ataque, que danificou o aeroporto local, reforça os temores da extensão do conflito em um país com fortes tensões entre muitos grupos étnicos.

Paradoxo: Entenda como um Nobel da Paz pode levar a Etiópia a uma guerra civil

Segundo o partido governante em Tigré, a Frente de Libertação dos Povos do Tigré (TPLF), os ataques tinham como alvo instalações militares, e foram uma retaliação a ações do premiê Abiy Ahmed. Ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2019. Ahmed lançou uma ofensiva militar em em várias partes do estado em 4 de novembro passado. Um médico de Gondar disse à AFP que duas pessoas morreram, e 15 ficaram feridas, todas militares. Ainda não há números de Bahir Dar.

O TPLF ambém ameaçou atacar a infraestrutura na Eritreia, a qual acusa de apoiar militarmente o governo etíope. Com o ataque, o partido estaria demonstrando sua capacidade de levar o conflito para fora de seu reduto. No início deste mês, o chefe do Estado-Maior do Exército Federal, general Berhanu Jula, havia garantido que "a guerra não chegará ao centro do país". Segundo diplomatas, pelo menos três foguetes teriam sido lançados contra o aeroporto de Asmara, capital da Eritreia, atingindo o aeroporto da cidade. O governo local não confirmou os disparos, e ressaltou não fazer parte do conflito. O país travou uma brutal guerra com a Etiópia entre 1998 e 2000 — um acordo de paz foi fechado em 2018.

O presidente do Tigré, Debretsion Gebremichael, disse à AFP neste sábado (14) não estar a par dos disparos, mas lembrou que os dirigentes da TPLF consideram que "qualquer aeroporto usado para atacar o Tigré seria um alvo legítimo".

Os aeroportos de Bahir Dar e de Gondar são usados por aparelhos civis e militares. A Força Aérea etíope já lançou vários ataques sobre o Tigré, e a TPLF afirma que esses bombardeios deixaram vítimas civis. Essa informação não pôde ser verificada, de forma independente, até o momento.

Ambas as cidades estavam tranquilas na manhã deste sábado, de acordo com os moradores.

Abiy Ahmed tornou-se primeiro-ministro na Etiópia, em 2018, após anos de protestos, trazendo esperanças de renovação. Ele libertou presos políticos e encerrou um conflito de décadas com a Eritreia. Por isso, em 2019, recebeu o Nobel da Paz. No ano seguinte, no entanto, foi alvo de manifestações que deixaram centenas de mortos , colocando opositores atrás das grades. Agora, ao ordenar que suas tropas fossem para a região de Tigré, no Norte do país, Abiy pode ter dado o pontapé inicial de uma guerra civil.