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Cortes na OMS feitos por Trump despertam críticas ao redor do mundo

Líderes de UE, Rússia, China, Alemanha, entre outros, condenam suspensão de pagamento feita por presidente americano
Sede da Organização Mundial da Saúde em Genebra Foto: FABRICE COFFRINI / AFP
Sede da Organização Mundial da Saúde em Genebra Foto: FABRICE COFFRINI / AFP

Líderes ao redor do mundo, de rivais a aliados dos EUA, criticaram ontem a decisão do presidente americano, Donald Trump , de suspender o pagamento das contribuições à Organização Mundial da Saúde (OMS) , no momento em que os casos confirmados de coronavírus ultrapassam dois milhões, com pelo menos 126 mil mortes — sendo o maior número de casos nos EUA, mais de 610 mil.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, manifestou consternação com a decisão de Trump. Os EUA são o maior doador do organismo global de saúde pública, contribuindo com mais de US$ 400 milhões por ano, cerca de 22% do seu orçamento. Neste ano, US$ 58 milhões haviam sido pagos.

— Com o apoio do povo e do governo dos EUA, a OMS trabalha para melhorar a saúde de muitas das pessoas mais pobres e vulneráveis no mundo — afirmou ele, acrescentando que trabalhará com outros países para “preencher as lacunas financeiras”. — A OMS não está apenas lutando contra a Covid-19. Também trabalhamos para combater poliomielite, sarampo, malária, Ebola, HIV, tuberculose, desnutrição, câncer, diabetes, saúde mental e muitas outras doenças e condições.

A China é o segundo maior contribuinte da organização, com cerca de 10% do seu orçamento. Em seguida vêm Japão (8,6%) e Alemanha (6,1%).

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Trump, que no passado já cortara o financiamento americano a outros órgãos da ONU, acusou a OMS de “administrar muito mal” a crise e “encobrir” a disseminação do coronavírus na China. O presidente afirmou que “muitas mortes foram causadas por seus erros”.

Uma autoridade americana disse à Reuters que Trump tomou a decisão apesar da resistência dentro de seu governo, especialmente de seus consultores de saúde. De acordo com o New York Times, o ocupante da Casa Branca agiu em alinhamento com sua base ultraconservadora, que tem culpado a China, onde o novo coronavírus surgiu, pela pandemia. A OMS havia pedido mais US$ 1 bilhão, além do seu orçamento, para financiar suas operações contra a Covid-19.

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O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que a agência global de saúde está “na linha de frente” da crise e que o momento é inapropriado para cortar seu financiamento.

— É minha convicção que a organização deve ser apoiada, pois ela é absolutamente fundamental para os esforços mundiais para vencer a guerra contra a Covid-19 — disse ele.

Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, que já recebeu elogios do próprio Trump e de autoridades de saúde dos EUA pela administração da pandemia, pediu que o país cumpra sua obrigação em um momento crucial. O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, condenou o anúncio dos EUA, que chamou de “egoísta”.

Josep Borrell, chefe da política externa da UE, disse que o bloco de 27 países “lamenta profundamente” a decisão e acrescentou que a agência é “mais necessária do que nunca” em uma crise “que não conhece fronteiras”. O chanceler da França, Jean-Yves le Drian, disse que possivelmente faltaram à OMS “mais autonomia em relação aos Estados” e mais “meios de detecção, de alerta e de informação, de capacidade reguladora”, mas “lamentou” a medida do ocupante da Casa Branca. Heiko Maas, o chanceler alemão, foi breve: “Não adianta apontar culpas”, escreveu ele no Twitter. “O vírus não conhece fronteiras.”

O premier australiano, o conservador Scott Morrison, disse que entende as críticas de Trump à OMS, mas ressaltou que trabalha em colaboração com a agência, que faz um “bom trabalho” na área do Pacífico: “Não vamos jogar o bebê fora com a água do banho”.

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O presidente da União Africana, Moussa Faki Mahamat, chamou a ação de "profundamente lamentável". "Nossa responsabilidade coletiva de garantir que a OMS possa cumprir plenamente seu mandato nunca foi tão urgente", escreveu ele no Twitter.

Autoridades americanas disseram nesta quarta-feira que Washington pode redirecionar para outros grupos de ajuda internacional o dinheiro que seria pago à OMS. Além da contribuição obrigatoria, os Estados Unidos também tradicionalmente fornecem várias centenas de milhões de dólares anualmente em financiamento voluntário vinculado a programas específicos da OMS, como erradicação da poliomielite, doenças evitáveis por vacina, HIV e hepatite, tuberculose e saúde materna, neonatal, infantil e adolescente, o que eleva o total aos US$ 400 mihões.