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Cuba retira 725 cooperantes da Bolívia e denuncia detenção de seis deles

Saída foi pedido do governo interino, comandado pela senadora Jeanine Áñez; nova chanceler anuncia saída da Unasul e expulsão de diplomatas venezuelanos
Apoiadores de Morales, com a Whipala, bandeira aimará, bloqueiam ruas de El Alto, vizinha a La Paz Foto: DAVID MERCADO / REUTERS
Apoiadores de Morales, com a Whipala, bandeira aimará, bloqueiam ruas de El Alto, vizinha a La Paz Foto: DAVID MERCADO / REUTERS

LA PAZ - Cuba repatriará 725 funcionários de cooperação da Bolívia nesta sexta-feira, que chegaram ao país no governo do ex-presidente Evo Morales , principalmente para assistência médica e educacional, disse a ministra das Relações Exteriores do governo interino, Karen Longaric. Ao mesmo tempo, Havana denunciou que seis cooperantes de saúde que trabalhavam em El Alto, cidade vizinha a La Paz, foram ilegalmente detidos.

—  Tive uma longa conversa com o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, em termos muito respeitosos e amigáveis. Eles estão se retirando nesta sexta-feira 725 cidadãos cubanos que cumprem funções de cooperação em diferentes áreas —  disse Longaric em entrevista coletiva. — Acho que a saída é oportuna e necessária e que isso também permitirá um tratamento respeitoso, como sempre houve entre Cuba e Bolívia —  acrescentou.

A nova chanceler também anunciou que está analisando a saída da Bolívia da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), a exemplo do que fizeram os governos de Jair Bolsonaro, Mauricio Macri (Argentina) e Sebastián Piñera (Chile), entre outros líderes de direita. O governo interino vai retirar o país da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América), criada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez (2009-2013). Longaric anunciou também que os diplomatas venezuelanos indicados por Nicolás Maduro serão expulsos, já que o governo interino reconheceu o líder opositor Juan Guaidó como presidente da Venezuela.

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O anúncio da saída dos cubanos ocorreu depois de a polícia, que apoia o governo interino da autoproclamada presidente Jeanine Áñez, informar que moradores de El Alto, cidade vizinha a La Paz, teriam entregado três cidadãos cubanos que estariam transportando 90 mil bolivianos (o equivalente a US$ 13 mil) que seriam destinados a financiar movimentos contra o governo interino. Longaric não se referiu a esta versão na entrevista.

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Cuba denunciou inicialmente a detenção na Bolívia de quatro cooperantes médicos, sob a "caluniosa acusação" de que estavam financiando os protestos pró-Morales. "Quatro integrantes da brigada médica de El Alto foram detidos pela polícia", disse um comunicado da Chancelaria cubana. "Exigimos que eles sejam liberados imediatamente e que as autoridades bolivianas garantam a integridade física de cada um dos colaboradores cubanos" no país. Mais tarde, Havana confirmou a detenção de mais duas pessoas.

Segundo o comunicado, o dinheiro levado pelos cubanos havia sido retirado de um banco para pagar os aluguéis e as contas dos serviços públicos dos 107 integrantes da brigada médica de El Alto.

Morales renunciou no domingo depois de enfrentar protestos da oposição, um motim policial e um ultimato militar. Os opositores contestavam sua vitória na eleição de 20 de outubro, na qual ele disputou um quarto mandato consecutivo. O governo interino, no entanto, enfrenta problemas de reconhecimento internacional, já que a senadora Jeanine Áñez, que era a segunda vice-presidente do Senado, se declarou presidente na terça-feira sem seguir os rituais previstos na Constituição.

Até agora, reconheceram o novo governo Brasil, Estados Unidos, Reino Unido e Rússia. Os demais países latino-americanos aguardam um processo mais claro de transição e a convocação de eleições.