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Discurso de posse de novo chanceler trouxe sensação de alívio ao Itamaraty

No Congresso, presidentes das comissões de Relações Exteriores das duas casas elogiam diretrizes citadas por Carlos França
Fachada do Palácio do Itamaraty Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Fachada do Palácio do Itamaraty Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

BRASÍLIA — Diplomatas brasileiros que estão no Brasil e no exterior comemoraram o discurso do novo ministro das Relações Exteriores , Carlos França. O foco dado a questões como a pandemia e o aquecimento global foi considerado por um embaixador ouvido pelo GLOBO "uma mudança radical". Outro chefe de embaixada disse que o texto lido por França é "bom, sensato e pragmático".

Para parte dos servidores do Itamaraty, o clima é de alívio. A avaliação é que, com a troca de Ernesto Araújo por Carlos França, retoma-se uma linha tradicional da diplomacia , com foco em interesses concretos, "no diálogo como método, sem devaneios", definiu um diplomata.

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Segundo fontes, existe ainda alguma irritação com a permanência na equipe de algumas pessoas ligadas ao lado mais truculento da gestão de Ernesto. O novo chanceler já indicou que isso será apenas por um período curto, enquanto não chegam do exterior os substitutos já convidados para assumirem os cargos.

Um parágrafo do discurso foi considerado fundamental para os diplomatas brasileiros e um recado importante sobre verbas de custeio, recursos materiais e, sobretudo, salários no exterior: "Diante das urgências que somos chamados a enfrentar, e no encaminhamento de tantas outras questões, manterei canais abertos também dentro do nosso país — com meus colegas de Esplanada, com os Poderes da República, com os setores produtivos, com a sociedade. São canais indispensáveis, inclusive, na solução de pendências administrativas que legitimamente afligem os integrantes do serviço exterior brasileiro".

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A presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, Katia Abreu, disse que o discurso de França foi animador, "no padrão diplomático". A parlamentar, que protagonizou um bate-boca com Ernesto Araújo na véspera do pedido de demissão do ex-chanceler , na semana passada, pediu à sua equipe que o discurso seja traduzido para o inglês e distribuído para todas as embaixadas estrangeiras e governos dos países com os quais o Brasil mantém relações diplomáticas.

— O discurso foi muito adequado e animador — disse a senadora.

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Na Câmara, o presidente da Comissão de Relações Exteriores, Aécio Neves (PSDB-MG), afirmou que França apontou o tripé de sua gestão. Em primeiro lugar, colocou em destaque a questão da diplomacia da saúde," portanto uma ação pragmática que nós sempre defendemos em favor de um acesso mais rápido e mais amplo dos brasileiros à vacinação".

O deputado ressaltou a referência do novo chanceler à questão climática, como essencial ao destravamento das relações do Brasil com várias regiões do mundo. E elogiou a preocupação de França com acordos comerciais, como o negociado entre Mercosul e União Europeia.

— É um discurso de alguém que compreende a dimensão do desafio que tem pela frente. A comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara atuará no sentido de dar a ele as condições necessárias para colocar em prática os propósitos anunciados em seu discurso de posse — afirmou.

O discurso também foi elogiado por embaixadores aposentados, como Roberto Abdenur, que chefiou as embaixadas do Brasil em países como EUA e China.

—  O discurso é positivo, traz progresso à política externa e — particularmente importante— representa completo afastamento da ideologia de radical extrema direita que, sob Araújo, tanto dano causou a nossa atuação no plano internacional —  disse Abdenur.

Ele destacou a afirmação de França de que os consensos multilaterais são “expressão de soberania”.

— Com isso, ele nega a concepção passiva, defensiva e reativa da soberania que tanto maculou nossa política externa — afirmou.