RIO — Há dez dias, quase dois meses depois de ter saído da China , a DJ brasileira Luana Pinho retornou ao país e foi levada por funcionários locais a um hotel de Xangai , onde esta semana encerrará seus 14 dias de quarentena obrigatória. A volta, contou a jovem brasileira em entrevista ao GLOBO, foi tensa. Luana chegou ao pais um dia antes de a China fechar-se totalmente, com medo de um novo surto da Covid-19 trazido por estrangeiros, e teve de cumprir um rigoroso protocolo interno. Apesar de ter pedido para ficar isolada em sua casa, sozinha, autoridades sanitárias chinesas inspecionaram sua residência e negaram a solicitação após constatarem que uma das portas era compartilhada com um vizinho.
— Vinte minutos depois que preenchi um formulário estavam no meu apartamento, checando se eu podia ficar lá. Fiquei muito impressionada com a rapidez e eficiência de todo o procedimento — disse a jovem, de 32 anos, que mora há quase sete na China.
Luana e outros recém chegados foram colocados num ônibus e trasnportados até um hotel ou suas casas. Antes de saírem do aeroporto, todos realizaram um teste da Covid-19. O da brasileira deu negativo, mas, mesmo assim, ela foi impedida de permanecer em seu apartamento. No hotel onde está há dias, não pode sair do quarto. Pode, apenas, pedir comida por algum aplicativo do celular. E, nesse, caso, está proibida de descer até a recepção quando o pedido chegar.
— Quando cheguei no quarto tinha de tudo. Shampoo, chá, café. Eles pensam em tudo — relatou Luana.
Ela saiu da China em 2 de fevereiro passado, passou pela Europa, visitou sua família no Brasil, voltou para a Europa e no dia 27 de março desembarcou novamente em Xangai, onde a vida, contou, “já voltou 70% ao normal”.
— Os bares e restaurantes já reabriram, as academias de ginástica também. Escolas e universidades ainda não. Eu diria que 70% da vida já voltaram ao normal — explicou Luana, que trabalha como DJ num hotel de luxo. O lugar já abriu parcialmente. — Eu tinha de voltar pelo meu emprego, minha vida. Hoje aqui nos sentimos seguros, a China é o país mais seguro para se estar. Eu vi como os chineses controlaram o vírus, construíram dois hospitais em 15 dias, e como as pessoas respeitaram à risca o isolamento, o que me preocupa é o Brasil — contou Luana.
Depois de ver como os chineses enfrentaram a Covid-19, Luana acompanha com “desespero” as notícias que chegam de sua terra natal. Em sua conta na rede social Instagram (@djluanapinho), a brasileira posta vídeos tentando criar consciência entre os brasileiros sobre a gravidade da situação:
—As coisas vão piorar se as pessoas não abrirem o olho e respeitarem as regras. Não sei o que se passa pela cabeça dos que continuam saindo. Tenho orgulho de ser brasileira, levamos as coisas na esportiva. Mas isso é para levar a sério.
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Sua família mora em São Paulo e com exceção de uma tia que é médica, todos estão respeitando o isolamento social. Há três meses, os pais e amigos brasileiros de Luana se preocupavam por ela. Hoje é ela quem está profundamente angustiada pela situação no Brasil.
—Vejo as imagens das pessoas na rua e entro em desespero. Se o vírus se espalhar pelo Brasil vamos perder muitos amigos e familiares, não consigo nem imaginar — desabafou.
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Em seu quarto de hotel, como nas casas de todos os que estão fazendo quarentena, foram ativados alarmes que tocam cada vez que uma pessoa abre uma porta. Luana lembra que, no período em que o governo impôs o dever de isolamento social, “não tinha uma pessoa na rua sem máscara ou luva”.
— Pode ser um país comunista, mas eles fizeram as coisas direito. Levaram as instruções médicas ao pé da letra. A China tem uma baita estrutura e hoje vemos que o número de mortos aqui não foi tão elevado como se temia — disse a DJ.
Faltam quatro dias para que Luana possa voltar para seu apartamento em Xangai. Desde que chegou ao país para trabalhar como dançarina, ela fez uma enorme rede de contatos e amizades e agradece que nenhuma das pessoas mais próximas a ela tenha se contagiado.
— Quando vi que o vírus tinha saído da China e começado a circular, fiquei muito preocupada. No Brasil não se controla direito e até mesmo na Europa vi pessoas levando essa situação pouco a sério — afirmou Luana.
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Seu objetivo, agora, é transmitir sua experiência, sobretudo aos brasileiros.
— Além de não respeitarem a quarentena, muitas pessoas acham que o covid-19 afeta apenas idosos ou grupos de risco. Devem entender que todos têm de se cuidar para diminuir o contágio — concluiu a DJ.