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Em clima de pânico, direita latino-americana busca se articular para impedir vitória da esquerda no Brasil e na Colômbia

Promovido pelo partido espanhol Vox, encontro de políticos e partidos em Bogotá, fim de semana passado, alertou para o ‘avance do comunismo’ na região
Santiago Abascal, líder do Vox, fala a participantes do encontro, que reuniu representantes da direita de Peru, Venezuela, Chile e Brasil Foto: RAUL ARBOLEDA / AFP/18-02-2022
Santiago Abascal, líder do Vox, fala a participantes do encontro, que reuniu representantes da direita de Peru, Venezuela, Chile e Brasil Foto: RAUL ARBOLEDA / AFP/18-02-2022

BUENOS AIRES — Depois da vitória de Gabriel Boric, que será empossado como presidente do Chile em 11 de março, a direita latino-americana mergulhou numa crise de ansiedade e temor pelo eventual triunfo de candidatos de esquerda nas eleições presidenciais na Colômbia, que terá o primeiro turno em maio, e no Brasil. Este clima de pavor dominou o I Encontro Regional Pela Democracia e as Liberdades, promovido na semana passada pelo Foro Madri, no hotel Radisson de Bogotá.

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Representantes da Fundação Dissenso, braço acadêmico do partido espanhol Vox e criador do Foro Madri, consideram emergencial uma articulação da direita na região. Um deles é o diretor da fundação, Jorge Martín Frías, que no último ano visitou várias vezes a capital colombiana. O Vox é um dos principais aliados internacionais da direita latino-americana e a palavra de ordem no momento é resistência. Vários dos participantes citaram o antigo Foro de São Paulo, formado por partidos de esquerda, e o mais recente Grupo de Puebla, que reúne acadêmicos e políticos da mesma linha, como inimigos a serem combatidos.

Em entrevista ao GLOBO, Frías afirmou que “a iberoesfera atravessa um momento de incerteza no qual o comunismo, em suas diferentes formas e aliado a organizações como o Foro de São Paulo e o Grupo de Puebla, está avançando na região, colocando em risco severo as democracias liberais e, portanto, os direitos e liberdades das sociedades”.

A Fundação Dissenso financiou o evento e convidou políticos de direita de vários países. Uma das estrelas foi o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe (2002-2010), ainda uma figura de peso em seu país e um dos mais preocupados com a possibilidade de que o senador e ex-guerrilheiro Gustavo Petro seja eleito presidente nas próximas eleições. Petro está em primeiro lugar nas pesquisas, mas com uma vantagem insuficiente para vencer no primeiro turno.

Também estiveram presentes políticos de direita do Peru — alguns vinculados à ex-candidata presidencial Keiko Fujimori — Venezuela e Chile, além de alguns eurodeputados. O deputado chileno José Carlos Meza, do direitista Ação Republicana, foi até Bogotá para tentar explicar aos colombianos como evitar que a esquerda chegue ao poder em seu país:

A Colômbia é a joia da coroa que a esquerda quer capturar . Precisamos aprender com a experiência chilena e entender os caminhos da esquerda — disse.

Na visão do deputado chileno, que apoiou a candidatura de José Antonio Kast nas eleições do ano passado em seu país, “a democracia está em risco na América Latina pelas ações do Foro de São Paulo e o Grupo de Puebla. No Chile, conseguiram eleger um de seus integrantes como próximo presidente. Nos une a preocupação por como a esquerda está se espalhando pela região”.

O deputado chileno e o diretor da Fundação Dissenso defenderam a necessidade de “recuperar espaços perdidos” . Ambos apontaram supostos vínculos de Petro com o narcotráfico, terrorismo e os governos chavista e castrista, todos negados pelo candidato.

Durante o encontro, manifestantes encapuçados protestaram em frente ao hotel para repudiar a realização do evento. Em sua fala, Uribe acusou Petro de estar por trás do ato. O governo do presidente Iván Duque confirmou a detenção de duas pessoas durante incidentes violentos com a polícia.

Bolsonaro ‘demonizado’

Entre representantes da direita colombiana, estava a senadora Maria Fernanda Cabal, que chegou a ser cogitada para ser a candidata presidencial do partido uribista Centro Democrático — finalmente foi escolhido Oscar Iván Zuloaga. Para ela, imaginar uma Presidência de Petro causa estupor.

— Se não nos defendermos, ninguém fará nada por nós. Eles (a esquerda) têm o Foro de São Paulo, e nós temos de ter nossa própria organização, é o que estamos construindo — comentou Maria Fernanda.

A senadora também acusou Petro e outros líderes de esquerda na região de serem financiados pelo narcotráfico.

— Estamos caindo nas mesmas garras de sempre. O fascismo é o socialismo, os depredadores da economia — disse.

Para a direita latino-americana, disse o diretor da fundação espanhola, existe uma “campanha de demonização, amparada pelo regime castrista e a tirania de Maduro, contra governos democráticos, entre eles o liderado pelo presidente Jair Bolsonaro, que fez do Brasil um bastião da liberdade frente à ameaça totalitária”.