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Japão declara emergência para combater o coronavírus e aprova estímulo de quase R$ 5 trilhões

A medida vai durar até o dia 6 de maio e atinge cerca de 44% da população do país
O primeiro ministro Shinzo Abe declarou estado de emergência no Japão Foto: POOL / REUTERS
O primeiro ministro Shinzo Abe declarou estado de emergência no Japão Foto: POOL / REUTERS

TÓQUIO —  O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe , declarou estado de emergência para tentar conter a expansão do novo coronavírus nas principais cidades do país. Nesta terça-feira, o premier também apresentou um pacote de estímulo econômico e o descreveu como "entre os maiores do mundo para aliviar o impacto" da pandemia da Covid-19 . O estado de emergência inicialmente vai durar até o dia 6 de maio e será adotado na capital, Tóquio, e em outros seis distritos, abrangendo cerca de 44% da população japonesa.

O premier enfatizou que o estado de emergência no Japão não chega a impor um isolamento obrigatório, como acontece em outros países. A medida dará aos governadores o poder de pressionar os cidadãos a ficarem  em casa e as empresas a fecharem. Porém, na maioria dos casos, não há penalidade por desrespeitar a ordem, que dependerá mais da pressão das pessoas e do respeito às autoridades.

— O mais importante agora é que cada cidadão mude nossas ações — disse Abe em declarações televisionadas em reunião de uma força-tarefa do governo. — Vamos suspender a medida quando tivermos certeza de que não é mais necessária.

Segundo o premier japonês, caso a população consiga diminuir o contato entre as pessoas em 70% a 80%, o governo espera que onúmero infecções se reduza daqui a duas semanas. De acordo com um levantamento citado por Abe, neste ritmo, os casos podem chegar a 10 mil no período, e 80 mil em um mês.

— Nós estamos nos aproximando do limite em relação aos leitos hospitalares — alertou o primeiro-ministro.

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O governo também aprovou o pacote de estímulo no valor de 108 trilhões de ienes (cerca de R$ 5 trilhões), que equivale a 20% da produção econômica do Japão. Isso vai ajudar a aliviar o impacto da epidemia sobre a terceira maior economia do mundo.

Os gastos fiscais diretos correspondem a 39,5 trilhões de ienes, ou cerca de 7% da economia, mais do que o dobro do valor que o Japão gastou após o colapso em 2008 do Lehman Brothers.

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O Japão foi poupado dos grandes surtos de coronavírus vistos em outros locais, mas uma alta recente e constante nas infecções em Tóquio, Osaka e outras áreas levou a pedidos para que Abe anunciasse o estado de emergência.

As regiões afetadas pelas medidas incluem a capital e as três zonas que envolvem os subúrbios de Tóquio; a região da grande metrópole do oeste de Osaka e sua vizinha Hyogo; assim como Fukuoka, na ilha de Kyushu (Sudoeste).

Em Tóquio, os  casos do novo coronavírus mais do que dobraram na última semana, superando a marca de 1.200 — 80 novos diagnósticos foram relatados só nesta terça-feira. No país, são 3.906 infectados e 93 mortes causadas pela doença.

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A governadora de Tóquio, Yuriko Koike, disse que está conversando com o governo central para decidir que setores do comércio ela pedirá para fecharem as portas ou  reduzirem o horário de funcionamento. Ela reiterou que não haverá restrições à compra de mantimentos e remédios.

Abe informou, ainda, que o governo não pedirá para que as companhias ferroviárias reduzam o número de trens em operação. Outras infraestruturas essenciais, como correio e serviços públicos, vão continuar funcionando, assim como caixas eletrônicos e bancos, segundo informou a emissora pública NHK.

Sem a possibilidade de sanções, as autoridades contam essencialmente com a boa vontade dos cidadãos, que são majoritariamente favoráveis ao estado de emergência, conforme uma pesquisa do canal privado TBS divulgada na segunda-feira.

Comida suficiente

O ministro da Agricultura, Florestas e Pescas, Taku Eto, pediu para que a população fique calma e compre apenas o que for necessário.

— Estamos pedindo aos cidadãos que comprem apenas o que precisam quando precisam, pois há suprimento suficiente e nenhuma suspensão é planejada nas fábricas de alimentos — disse a repórteres, acrescentando que não havia sinal de interrupção nas importações de grãos.

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Mas as restrições vão aumentar o impacto que a pandemia está causando à terceira maior economia do mundo, que já é vista em recessão, pois as interrupções na cadeia de suprimentos e as proibições de viagens reduzem a produção e o consumo. A região metropolitana da Tóquio sozinha, por exemplo, é responsável por cerca de 20% do Produto Interno Bruto do país.

O Japão vai vender uma quantidade recorde de bônus adicionais no valor de mais de 18 trilhões de ienes (R$ 862,8 bilhões) para financiar o pacote econômico, aumentando sua dívida, que é o dobro do tamanho de sua economia.

Embora o estímulo possa aliviar os danos imediatos da pandemia, parlamentares estão exigindo gastos ainda maiores para evitar falências e perda de empregos. Os analistas acreditam  que a economia, que encolheu no último trimestre do ano passado, irá registrar mais dois trimestres de contração, pressionando o governo e o Banco Central japonês a fazerem mais.

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— O governo provavelmente irá compilar outro orçamento suplementar em breve para estimular a economia com ainda mais gastos — disse Takahide Kiuchi, ex-membro do conselho do Banco do Japão que agora é economista do Instituto de Pesquisa Nomura.