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Japão vai proibir entrada de pessoas de 73 países e pôr em quarentena quem chegar do exterior

Medida passa a valer a partir de 3 de abril; com o número de casos crescendo rapidamente em Tóquio, governo vinha sofrendo forte pressão
Taro Aso, ministro da Economia do Japão, e o premier Shinzo Abe (à esquerda) participam de reunião no Parlamento para discutir o avanço do coronavírus Foto: ISSEI KATO / REUTERS/01-04-2020
Taro Aso, ministro da Economia do Japão, e o premier Shinzo Abe (à esquerda) participam de reunião no Parlamento para discutir o avanço do coronavírus Foto: ISSEI KATO / REUTERS/01-04-2020

TÓQUIO — O Japão vai proibir a entrada de estrangeiros vindos de 73 países e pedirá a todos que chegarem do exterior que se mantenham em quarentena por duas semanas, uma medida para tentar conter o coronavírus . Segundo o primeiro-ministro Shinzo Abe, o país foi pressionado “até o limite”.

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Médicos especialistas que assessoram o premier disseram em entrevista coletiva nesta quarta-feira que a rápida disseminação do contágio estava afetando gravemente os hospitais de Tóquio, Osaka e outras cidades, e que a ação rápida era vital.

— As respostas fundamentais (à crise) devem ser dadas o quanto antes, hoje ou amanhã — disse Shigeru Omi, chefe da Organização de Saúde Comunitária do Japão, alertando que o sistema médico pode entrar em colapso mesmo antes de um aumento explosivo nos casos.

Abe está enfrentando crescentes apelos públicos para declarar um estado de emergência que daria aos governadores locais maior poder de decisão para determinar que as pessoas fiquem em casa, e para fechar escolas e tomar outras medidas. A lei, no entanto, não inclui sanções na maioria dos casos.

Muitos outros países atingidos pela pandemia impuseram restrições severas à movimentação que incluem sérias penalidades para os infratores. As novas medidas do Japão sobre viagens e quarentena entrarão em vigor em 3 de abril.

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O Japão confirmou 2.362 casos de coronavírus transmitidos domesticamente e 67 mortes até esta quarta-feira, informou a emissora pública NHK. As contagens são relativamente pequenas se comparadas às de Estados Unidos, China e países europeus.

Contudo, o avanço da Covid-19 em Tóquio tem sido mais alarmante, com outros 66 casos registrados nesta quarta-feira, totalizando 587, disse a NHK, aumentando a pressão sobre o governo para que tome medidas mais drásticas. Ainda segundo a NHK, o Japão também teve seu maior aumento diário, com 237 novos casos, embora não esteja claro se esse número foi incluído no total da contagem para quarta-feira.

— Mal estamos dando conta e permanecemos em um ponto crítico no qual os casos de vírus podem surgir se baixarmos a guarda — disse Abe a uma comissão parlamentar.

O ministro da Economia, Yasutoshi Nishimura, disse que especialistas em doenças infecciosas estão especialmente alarmados com a capacidade de atendimento médico em Tóquio e que o país está à beira de uma crise.

— Precisamos impedir que as infecções se espalhem ainda mais, não importa o que aconteça. Chegamos ao limite — disse Nishimura a repórteres.

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Já Shigeru Omi, diretor de Saúde Comunitária,  disse que, embora o Japão não tenha visto um aumento descontrolado nos casos de Covid-19 até agora, mais focos de infecção estão sendo relatados. Isso, segundo ele, causou uma sobrecarga nos serviços médicos em algumas áreas.

Em entrevista coletiva posterior, especialistas em doenças infecciosas que assessoram o governo disseram que, se as medidas em vigor não impedirem uma segunda onda de contaminações e as reinfecções do exterior, seria necessário um "plano B".

— O que podemos fazer é bloquear cidades ou zonas, o que significa um controle mais rigoroso e mais severo dos movimentos — disse Hiroshi Nishiura, professor da Universidade de Hokkaido. — Pode não ser possível nos termos da legislação atual, mas estamos pensando na possibilidade.

Escassez de respiradores

Mais cedo, o ministro Nishimura disse que algumas regiões poderiam enfrentar falta de respiradores para pacientes gravemente enfermos, como já ocorreu em outros lugares. Os especialistas pediram às autoridades das áreas com picos acentuados de infecções na semana passada que peçam aos residentes que fiquem em casa e evitem reuniões de mais de 10 pessoas.

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A governadora de Tóquio, Yuriko Koike, também reiterou nesta quarta-feira seu pedido aos moradores da cidade de quase 14 milhões de pessoas para ficarem em casa e evitarem restaurantes e bares.

— As pessoas estão dizendo: "Eu não achei que estivesse infectado". Quero que todos compartilhem a consciência de que as pessoas devem se proteger e também evitar a propagação (do vírus) — disse Koike em uma entrevista coletiva.

De acordo com a governadora, as escolas secundárias particulares e administradas pela metrópole permanecerão fechadas até 6 de maio, prorrogando a suspensão de aulas decretada no início de março. Escolas de outras áreas devem decidir com base nas condições locais, disseram os especialistas.

A disseminação do vírus está atingindo em cheio uma economia que já estava à beira da recessão. Uma pesquisa do Banco do Japão mostrou que o estado de espírito dos fabricantes industriais está em seu nível mais pessimista nos últimos sete anos.

Os pedidos de bloqueio geral  vêm crescendo nas mídias sociais, com muitos usuários do Twitter expressando preocupação e apontando para as medidas mais draconianas adotadas em cidades de outras partes do mundo.

"Um dos meus amigos que trabalha em Tóquio ainda está viajando em trens lotados", escreveu um usuário da rede social, identificado como Arikan. "Estou um pouco envergonhado com o quão indeciso o Japão é comparado com outras nações."