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Milhares de militares russos ficam em quarentena após ensaios para desfile do Dia da Vitória

Membros das Forças Armadas preparavam parada para celebrar triunfo sobre o nazismo; eles foram confinados e governo não informa se estão com coronavírus
Soldados russos no tradicional desfile para celebrar a vitória sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial Foto: - / AFP
Soldados russos no tradicional desfile para celebrar a vitória sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial Foto: - / AFP

MOSCOU — Apesar da pandemia do novo coronavírus , eles participaram de dezenas de ensaios para o que seria o maior desfile militar da história da Rússia . Agora, três dias após o adiamento das comemorações do Dia da Vitória , que lembrariam os 75 anos do triunfo do Exército Vermelho sobre os nazistas, o Ministério da Defesa colocou em quarentena milhares de militares que estavam preparando a grande parada.

A decisão partiu do presidente Vladimir Putin , que se viu forçado pelo aumento no número de casos da Covid-19 no país. O Kremlin já havia sido criticado por conduzir um treinamento em meio à pandemia. Agora, os soldados devem retornar às suas bases em diferentes partes do país e permanecer isolados e sob observação durante 14 dias. O Ministério da Defesa evitou esclarecer se detectou contágios entre os participantes dos ensaios.

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No início do mês, um vídeo mostrando milhares de soldados em formação nos arredores de Moscou, quando começaram a surgir casos da Covid-19 na capital e as autoridades já apoiavam as medidas de confinamento, causou indignação nas redes sociais.

Apesar de tudo, o Ministério da Defesa manteve os treinamentos e ensaios para o grande desfile na Praça Vermelha de Moscou, do qual mais de 10 mil soldados, dezenas de aviões e tanques participariam. Até que, na sexta-feira, Putin anunciou que a grande comemoração, marcada para o próximo dia 9, foi adiada para uma nova data, ainda indefinida. Um duro golpe para o líder russo, que decretou feriado nacional para o dia do desfile. Além disso, o adiamento afetou um dos elementos mais importantes de seu discurso nacionalista, que retrata a Rússia como uma grande potência, vencedora, libertadora e forte.

O aumento no número de pessoas infectadas pelo coronavírus - são 47.121 casos detectados e cerca de 4 mil novas infecções diagnosticadas por dia -, forçou Putin a adiar o desfile, apesar dos dados oficiais indicarem baixa mortalidade: são 405 mortes em um país de 145 milhões de habitantes.

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No evento, Putin esperava receber o presidente francês, Emmanuel Macron. Ele deu a entender que poderia participar, embora ainda não tivesse confirmado uma visita que provocaria tensões na União Europeia, que em 2014 impôs sanções à Rússia por anexar a península ucraniana da Crimeia.

Putin, com a intenção de fugir do isolamento internacional e se apresentar como o grande anfitrião de convidados de alto nível, também chamou o presidente dos EUA, Donald Trump. O americano ficou inicialmente encantado com o convite, mas depois acabou repassando a questão para seu consultor de segurança nacional, Robert O'Brien.

— É uma espécie de negligência das autoridades — critica Alexánder Soloviov, chefe da divisão de Moscou de um partido de oposição ao atual governo. — Eles sabiam há muito tempo que era muito provável que o desfile do Dia da Vitória teria que ser remarcado, mas eles esperaram até o fim. Eles continuaram com os testes automaticamente, porque a máquina burocrática é extremamente lenta. E, na Rússia, esse maquinário não se importa com as pessoas. Ninguém será punido por essa estupidez que pode custar a vida de alguém porque ninguém se importa. E se eles punirem alguém, será de baixa patente. É assim que o poder funciona na Rússia moderna.

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O Ministério da Defesa da Rússia já detectou dezenas de infectados entre suas fileiras. Os últimos, nesta segunda-feira, na Academia Médica Militar de Kirov, em São Petersburgo, onde 55 cadetes foram diagnosticados com a Covid-19. Mas também estudantes da Escola Naval Nakhimov (localizada em São Petersburgo), na Escola Superior de Comando de Engenharia Militar de Tyumen e na Escola Militar de Suvorov, em Perm.