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Novo chanceler de Bolsonaro fala com ministros do Mercosul e da China, mas Brasil fica de fora de tour regional de enviado da Casa Branca

Anúncio de viagem publicado pelo governo Biden cita 'liderança climática regional' da Colômbia e 'ameaças à democracia' no continente, enquanto Carlos Alberto França busca reaproximação com vizinhos
Carlos Alberto França (direita) conversa por telefone com Andrés Allamand, chanceler chileno, neste sábado Foto: Reprodução/Itamaraty
Carlos Alberto França (direita) conversa por telefone com Andrés Allamand, chanceler chileno, neste sábado Foto: Reprodução/Itamaraty

O novo chanceler do governo de Jair Bolsonaro, Carlos Alberto França, empossado na última terça-feira, participou de diversas conversas por telefone com ministros das Relações Exteriores de outros países neste sábado, em atividades divulgadas pelo Itamaraty em redes sociais.

Segundo o ministério, França, que tem adotado abordagem mais pragmática do que a de Ernesto Araújo, conversou com homólogos de diversos países da América do Sul, incluindo Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai, Paraguai e Guiana, e também com o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi.

Neste sábado também ficou confirmado que o Brasil não foi incluído na primeira viagem para a América do Sul dos principais nomes da Casa Branca e do Departamento de Estado para o continente.

O governo de Joe Biden informou que Juan Gonzalez, assistente especial de Biden e diretor sênior para o Hemisfério Ocidental da Casa Branca, e a secretária adjunta para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, Julie Chung, viajarão de 11 a 15 de abril para Colômbia, Argentina e Uruguai para conversar com representantes dos três governos.

Segundo a Casa Branca, em Bogotá, eles discutirão “recuperação econômica, a segurança e o desenvolvimento rural, a crise dos migrantes venezuelanos e a liderança climática regional da Colômbia”.

Já na Argentina e no Uruguai, a comitiva americana discutirá com representantes locais “as prioridades regionais, incluindo o enfrentamento dos desafios da crise climática e da pandemia de Covid-19 e as ameaças à democracia, aos direitos humanos e à segurança em nosso hemisfério e em todo o mundo”, disse o comunicado.

Chamam a atenção na nota do governo americano as menções a "ameaças à democracia" na região e à "liderança climática regional da Colômbia".

Contexto: Aproximação de Biden com a Argentina, que inclui ajuda na pandemia, escancara diferença na relação com Brasil

Por seu tamanho e tradição, o Brasil sempre foi considerado a mais importante liderança regional sul-americana, sobretudo na área climática, e agora vê esse papel ser ocupado por outros países.

Gonzalez é um crítico de primeira hora de Jair Bolsonaro, e a agenda ambiental, desprezada pelo presidente brasileiro, tem importância crucial para Biden, que, dentro de menos duas semanas, liderará uma cúpula sobre o clima convocada por ele próprio.

Biden já conversou com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, por telefone, enquanto não o fez com Bolsonaro.

Enquanto o Brasil enfrenta desprestígio em Washington, França tenta remediar a situação em outras frentes. Segundo o Itamaraty, em sua conversa com o ministro chinês, ambos “concordaram na urgência do combate à pandemia e da cooperação em vacinas, IFAs e medicamentos. Autoridades dos dois países estão em contato permanente para agilizar as remessas”.

Os dois ministros também trataram de comércio e investimentos, segundo o ministério.

Com o chanceler argentino Felipe Solá, França tratou da necessidade de “cooperar em temas fronteiriços no contexto de pandemia, para garantir os fluxos comerciais”. O descontrole do vírus no Brasil há muito preocupa a região.

Os dois ministros também “coincidiram sobre a importância de aprofundar e diversificar o diálogo e as relações bilaterais” e “trataram da agenda interna e externa do Mercosul”, informou o Itamaraty.

Com Rogelio Mayta, chanceler boliviano — representante de um governo de esquerda criticado por Bolsonaro — também foram abordadas questões fronteiriças na pandemia, assim como “a cooperação energética e econômica”

Assuntos correlatos foram abordados com os ministros dos demais países. Cabe destaque a conversa com o chanceler chileno, Andrés Alland, na qual, segundo o Itamaraty, foi citada uma possível cooperação para “o fornecimento de fármacos para pacientes entubados no Brasil”.

Em nenhuma das conversas, pelo que informou o Itamaraty, foi abordada a questão do clima.

Nas fotos de divulgação das conversas, França aparece usando máscaras, o que marca mais uma diferença para a gestão de Ernesto Araújo, que, em seu período como ministro, promoveu debates no ministério para divulgar teses anticientíficas sobre os perigos da proteção respiratória. Neste sábado, Araújo publicou um texto em defesa de seu legado no Itamaraty, no qual voltou a mencionar teorias da conspiração.