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ONU exige investigação independente após a morte de preso político e ex-aliado de Chávez

Família de Raúl Baduel nega que general estivesse infectado pelo coronavírus; sepultamento é realizado sob forte esquema de segurança
Margareth e Andreína Baduel, filhas de Raúl Baduel, chegam para sepultamendo do pai, em Caracas Foto: LEONARDO FERNANDEZ VILORIA / REUTERS
Margareth e Andreína Baduel, filhas de Raúl Baduel, chegam para sepultamendo do pai, em Caracas Foto: LEONARDO FERNANDEZ VILORIA / REUTERS

GENEBRA E CARACAS — As Nações Unidas pediram, nesta quarta-feira, uma “investigação independente" da morte do general venezuelano Raúl Baduel , ocorrida na terça-feira. O general,  que ajudou Hugo Chávez (1999-2013) a retornar ao poder após o golpe de 2002 e foi seu ministro da Defesa entre 2006 e 2007, morreu aos 66 anos, de Covid-19, na prisão. Seu sepultamento hoje aconteceu sob forte vigilância de agentes de segurança.

“Lamentamos profundamente a morte de Raúl Baduel na prisão. Rogamos à Venezuela que garanta uma investigação independente”, escreveu no Twitter o gabinete da alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet.

Baduel era considerado um dos prisioneiros políticos mais emblemáticos da Venezuela desde sua primeira prisão, em abril de 2009, depois de se tornar um crítico de Chávez, em especial do referendo convocado pelo então presidente em 2007 para estabelecer a reeleição indefinida —  a proposta foi derrotada na época e aprovada em nova votação em 2009. Em 2017, o general foi acusado de conspiração pelo governo de Nicolás Maduro e estava antes de morrer em uma cela do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional).

Na ocasião, foi revogada a liberdade condicional que Baduel obtivera em 2015 , depois de ter cumprido mais de seis anos de uma sentença de 7 anos e 11 meses por supostos roubo de fundos públicos e abuso de autoridade durante seu mandato na Defesa.  A acusação de conspiração nunca foi formalizada em um processo penal.

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O governo venezuelano rejeitou o comunicado de Bachelet, e disse que “não existem pessoas detidas arbitrariamente no país”. A morte foi anunciada pelo procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, que informou que Baduel já havia tomado a primeira dose da vacina contra a Covid-19 e havia recebido o atendimento médico adequado, mas não resistiu. Os parentes de Baduel, no entanto, negam que o general estivesse infectado pelo vírus.

“O regime assassinou meu amado e valente papai, Raúl Baduel”, escreveu Andreína Baduel, uma das filhas do militar, no Twitter. “Recentemente, tivemos a comprovação de vida dele, é mentira que ele tivesse Covid-19." Andreína denunciou diversas vezes, inclusive 21 horas antes do anúncio da morte, que o ex-ministro havia sido submetido a tratamentos cruéis e degradantes.

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Entre 2017 e 2021, o general esteve em diferentes centros de detenção, incluindo a sede do Sebin. A mulher do general, Cruz Zambrano de Baduel, disse na terça que a família soube da morte pelo anúncio de Saab nas redes sociais.

A morte foi lamentada por opositores e defensores de direitos humanos do país. A advogada e presidente da ONG Controle Cidadão, Rocío San Miguel, disse que ela revela a “ausência de proteção aos presos políticos e privados de liberdade na Venezuela”.

— A morte de qualquer pessoa por Covid-19 na Venezuela é lamentável, mas a morte de Baduel revela a ausência de uma salvaguarda à integridade dos chamados presos políticos e, em geral, daqueles privados de liberdade —  afirmou ao site Efecto Cocuyo.

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Baduel fundou, ao lado do então coronel Hugo Chávez, do Movimento Bolivariano 200 (MBR-200) — grupo que daria origem ao Movimento 5ª República, e posteriormente ao Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), atualmente no governo do país.

Dois dos filhos de Baduel também foram detidos sob acusações de conspiração — o primeiro, Raúl Emilio, agora está em liberdade. Josnars Adolfo Baduel foi detido por suposta participação em uma incursão marítima da oposição, em maio de 2019, que tentava forçar a saída de Maduro. Ele continua detido.