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ONU lança plano de US$ 2 bi para combater coronavírus nos países mais vulneráveis

Segundo Guterres, a Covid-19 'ameaça toda a humanidade' e demanda ajuda coletiva; FMI e Banco Mundial pedem alívio de dívidas dos países mais pobres
Secretário-geral da ONU, António Guterres, durante entrevista coletiva Foto: SALVATORE DI NOLFI / AFP / 24-02-2020
Secretário-geral da ONU, António Guterres, durante entrevista coletiva Foto: SALVATORE DI NOLFI / AFP / 24-02-2020

NOVA YORK – A ONU anunciou, nesta quarta-feira, um plano humanitário para auxiliar os países mais vulneráveis em uma resposta coordenada à pandemia do novo coronavírus , que representa um risco “para toda a humanidade”. Para implementá-lo, a organização lançou um apelo para um fundo global de US$ 2 bilhões para financiar a iniciativa, que se estenderá até dezembro. Em paralelo, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) solicitaram aos credores bilaterais um alívio das dívidas dos países mais pobres do mundo frente à crise global.

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Chamado “Plano de Resposta Humanitária Global à Covid-19”, o fundo é destinado à resposta ao vírus na América do Sul, na África, no Oriente Médio e na Ásia – em especial, a países que á enfrentam crises humanitárias em razão de conflitos, desastres naturais e da crise climática.

A ação conjunta do FMI e do Banco Mundial, por sua vez, busca aliviar as consequências econômicas e sociais potencialmente "severas" nos cofres dos 76 países mais pobres do mundo, que compõem a Associação Internacional de Desenvolvimento . Braço do Banco Mundial, a organização empresta dinheiro a taxa zero ou realiza doações para programas sociais e econômicos nestas nações, que abrigam dois terços da população global em extrema pobreza.

O FMI e o Banco Mundial pediram aos credores bilaterais a suspensão imediata dos pagamentos de dívidas pendentes, caso seja solicitado, dando às nações tempo para avaliar o impacto da crise em seus territórios. Elas fizeram ainda um apelo para que aos países do G20 apoiem seu pedido, convidando-os a encomendar avaliações sobre os países com dívidas insustentáveis, e trabalhar em conjunto para reestruturá-las. A proposta formal será apresentada em uma reunião virtual na segunda quinzena de abril.

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'Ameaça toda a humanidade'

Implementado com o auxílio de agências da ONU e organizações não governamentais, o plano de resposta entregará equipamentos médicos, testes para o vírus e financiando campanhas de informação.  O apoio deverá conter ainda esforços nas áreas de segurança alimentar, saúde mental, nutrição e saneamento. Uma dessas medidas será a instalação de pias e tanques – segundo o UNICEF, mais de três bilhões de pessoas , 40% da população do mundo, não têm acesso a água e sabão para lavar as mãos.

Além dos países mais pobres, o impacto do vírus entre os mais de 25 milhões de refugiados e 40 milhões de pessoas internamente deslocadas é bastante temido, dada a dificuldade de pôr em prática medidas de distanciamento social e isolamento em campos de refugiados e acampamentos superlotados.

– A Covid-19 ameaça toda a humanidade, então toda a humanidade deve responder coletivamente. Respostas individuais de países não suficientes – disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres . – Nós devemos auxiliar os mais vulneráveis, milhões e milhões de pessoas que estão menos aptas a se protegerem. É uma questão de solidariedade humana básica.

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Crise financeira

No lançamento virtual do plano, Guterres e o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, fizeram um apelo para que os países-membros da ONU se comprometam com o plano – mas sem deixar de lado os auxílios humanitários correntes que atendem mais de 100 milhões de pessoas. Desvios nessas doações, segundo as entidades, poderia pôr criar um ambiente propício para a proliferação de cólera, sarampo e meningite, por exemplo.

Até o momento, a ONU já realocou US$ 75 milhões para o combate à Covid-19, que devem garantir a continuidade de cadeias de suprimento, bens de socorro e do transporte de trabalhadores humanitários. O pedido de doações adicionais, no entanto, vem em paralelo a uma crise que fez as grandes economias do mundo tomarem uma série de medidas sem precedentes para atenuar os impactos em suas economias. Agentes humanitários ouvidos pela Foreign Press acreditam que isso possa gerar dificuldades para arrecadar novas doações.

– Alguns dos maiores doadores estão vendo uma recessão global prestes a lhes atingir –  disse um deles. –  O quão generoso eles serão quando tem uma crise batendo na sua porta?