Mundo Coronavírus

Países europeus se programam para o fim lento, gradual e seguro de medidas de isolamento social

Frente ao medo de um novo pico, planos cautelosos incluem testes em massa, rastreio de contágios e reabertura controlada
Homem com roupa de proteção desinfecta rua em Tolouse, na França Foto: LIONEL BONAVENTURE / AFP
Homem com roupa de proteção desinfecta rua em Tolouse, na França Foto: LIONEL BONAVENTURE / AFP

PARIS — Em meio a sinais de estabilização da pandemia de Covid-19 na Europa, países da região começam a fazer planos para o fim lento , gradual e seguro das medidas de isolamento social adotadas nas últimas semanas. Para evitar uma segunda onda do novo coronavírus , as limitações ao movimento e ao contato deverão ser a nova normalidade , permanecendo em vigor por meses.

Coronavírus : Perguntas e respostas sobre a Covid-19

O controle total da pandemia é ainda um sonho distante: isto só chegará com uma vacina, algo que está a ao menos um ano de distância, na melhor das hipóteses, ou com um tratamento comprovadamente eficaz. Dada a inviabilidade de manter medidas draconianas de isolamento por tanto tempo, é necessário que a retomada das atividades seja cautelosa.

Pandemia: Medidas de distanciamento social já salvaram 59 mil vidas em 11 países europeus, diz estudo

França, Bélgica e Finlândia estão entre os países que criaram comissões para avaliar um retorno controlado à vida normal. Na Áustria, salvo uma mudança de cenário, lojas de até 400m 2 poderão abrir suas portas já na próxima terça-feira, seguidas por shoppings, salões de beleza e lojas maiores no dia 1 o de maio. Ainda assim, por tempo indeterminado, só poderá haver uma pessoa por 20 m 2 e clientes precisarão usar máscaras. Restaurantes e hotéis precisarão esperar até meados do mês que vem para abrirem suas portas.

Desaceleração: Itália, Espanha e Alemanha mantêm tendência de desaceleração do coronavírus

Na República Tcheca, o relaxamento parcial começará já na terça. Assim como Viena, Praga foi um dos primeiros governos europeus a implementar duras medidas de isolamento, quando a contagem de casos em seu território ainda estava abaixo de 200, e conseguiu controlar a taxa de contágio. Abrirão, primeiramente, lojas de artigos de lazer e materiais de construção, respeitando regras estritas de higiene similares às austríacas. Atividades solitárias ao ar livre também serão permitidas e restrições para viagens internacionais serão aliviadas para aqueles que tiverem "motivos razoáveis" para saírem. A quarentena de 14 dias no retorno, no entanto, será obrigatória. Na Dinamarca, escolas até o quinto ano devem voltar a funcionar no dia 15, como parte de uma reabertura gradual.

As nações europeias mais afetadas também vêm pensando em estratégias para evitar um novo pico de casos: os planos englobam, majoritariamente, a retomada gradual das atividades, com testagens em massa para a Covid-19 e para seus anticorpos, além de medidas de rastreio daqueles que tiveram contato com a doença.

Pós-pico : Depois do pior da epidemia, China vive 'novo normal' e teme surto importado

País com o maior número de casos da Covid-19 no continente, mais de 135 mil, a Espanha está em quarentena até o dia 25 de abril , mas a retomada do trabalho considerado “não essencial” deverá começar gradualmente já após a Páscoa. O país vê uma desaceleração da pandemia: após um pico de 950 mortos na última quinta, foram registradas 637 mortes nas últimas 24 horas. Segundo o premier espanhol, Pedro Sánchez, epidemiologistas trabalham há duas semanas em um plano para reiniciar a economia e as atividades sociais.

Isolamento : Conheça as medidas tomadas pelos 20 países com mais casos da Covid-19

Itália e Espanha

O alívio gradual das restrições também começa a ser pautado na Itália, onde 15,9 mil pessoas morreram em razão da doença, mais que em qualquer outro país do mundo. Tal qual a Espanha, Roma vê uma estabilização dos casos após quase um mês de quarentena. O calendário ainda é incerto, mas a retomada deverá ser em três fases: a primeira delas, visando a estabilização dos casos, já está em sua reta final.  Segundo o chefe da Defesa Civil do país, Angelo Borrelli, a “fase dois” poderá começar já no mês que vem.

Nas ruas: Google registra impacto do novo coronavírus na circulação de pessoas pelo mundo

Para essa fase dois, de reinício gradual das atividades, o país pretende, em médio prazo, realizar testes em massa na população para a Covid-19 e para seus anticorpos. Além disso, ferramentas de monitoramento de localização daqueles que estiveram em contato com um infectado também deverão ser adotadas, medidas similares às implementadas pela Coreia do Sul, país elogiado pela Organização Mundial da Saúde pela maneira como vem lidando com a Covid-19.

Anthony Fauci: o epidemiologista que corrige Trump, vira alvo da extrema direita nas redes

Bem-sucedida em evitar um desastre das proporções de países vizinhos, em especial em número de mortes, a Alemanha pretende rastrear em até 24 horas ao menos 80% das pessoas com quem o diagnosticado teve contato, segundo o rascunho de um documento ao qual a Reuters teve acesso. Associando isto à obrigatoriedade de usar máscaras em ambientes públicos e à limitação de aglomerações, Berlim acredita que conseguirá deixar a taxa de contágio da doença inferior a 1. Isto significa que cada infectado contaminará menos de uma pessoa, controlando a doença.

União: 'Maior desafio desde a Segunda Guerra', diz ONU ao pedir que países se unam para combater pandemia

Na Noruega, segundo o governo, esta taxa atualmente está em torno de 0,7. O objetivo do governo também era reduzi-la a menos de 1. Com isso, o país nórdico decidirá na quarta-feira se prorrogará o isolamento social ou se começará a abrandá-lo aos poucos.

Relato: DJ brasileira relata como foi retornar à China após dois meses fora: quarentena de duas semanas num hotel, sem poder sair do quarto

Testagem em massa

De acordo com um estudo realizado pelo Instituto econômico Ifo, em Munique, a Alemanha deve elaborar uma “estratégia de abertura, e não uma estratégia de saída”, já que não há previsões para uma retomada completa das atividades até o desenvolvimento de uma vacina. O relatório defende uma estratégia na qual algumas faixas etárias, regiões e negócios começariam a funcionar em momentos diferentes. Dado o menor risco para as crianças, as aulas voltariam primeiro, mas idosos e outros grupos de risco poderão ficar confinados por semanas, a depender da evolução do quadro.

União: 'Maior desafio desde a Segunda Guerra', diz ONU ao pedir que países se unam para combater pandemia

Segundo a pesquisa, mesmo a testagem em massa que a Alemanha vem realizando, com cerca de 50 mil por dia na semana passada, deverá ser ampliada para atender à sua população de 80 milhões. Checagens de anticorpos também seriam indispensáveis, mesmo que ainda não sejam amplamente eficazes. Estes exames são quase consensuais entre especialistas para evitar que um agravamento da pandemia volte a acontecer.

Epidemias nunca acontecem em uma onda só. Teme-se não só que uma retomada precoce das atividades desencadeie um novo pico da doença, mas também que os casos voltem a crescer exponencialmente no final do ano, com a chegada do inverno no hemisfério norte. Frente a isso, é possível que a reabertura não seja um processo em linha reta, mas sim com idas e vindas, como se vê na China.

Luto: Trump diz que 'haverá muita morte' nos EUA nas próximas semanas

Passado o pior momento da pandemia no país asiático, o novo cotidiano é marcado por reviravoltas e pelo temor de uma nova onda. Após cerca de 500 cinemas reabrirem no final de março, o governo voltou a fechá-los. A mesma coisa aconteceu com atrações turísticas em Xangai. As escolas, que voltaram a funcionar em algumas províncias, são desinfectadas várias vezes ao dia e obrigam o uso de máscaras. A nova normalidade, ao que tudo indica, deverá ser similar em alguns países europeus.