RIO — A maioria dos líderes mundiais, mesmo os que no início demonstraram relutância em adotar medidas duras contra a pandemia do novo coronavírus , agora vem pedindo à população dos seus países que fique em casa para frear o ritmo de aumento de casos da Covid-19 . Ao passar dias chamando a doença de “gripezinha” e tentar impedir o isolamento de parte da população que pode ficar em casa, alegando querer proteger a economia, o presidente Jair Bolsonaro tornou-se parte de um grupo pequeno de chefes de Estado ou de governo a minimizar a gravidade da doença — embora, no pronunciamento de terça-feira à noite, ele tenha ensaiado um recuo, dizendo que a epidemia “é o maior desafio de nossa geração”.
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O risco de o brasileiro ficar isolado em sua posição ficou claro na entrevista diária do seu aliado Donald Trump . Na terça-feira, questionado por um repórter se não pensava em impor medidas contra o Brasil , já que Bolsonaro “continua muito ativo” encontrando grupos de pessoas e isso poderia pôr em risco os esforços contra a Covid-19 nos EUA, Trump respondeu, sem dar detalhes, que poderá incluir o Brasil em uma lista de países com viagens suspensas para o território americano.
— Estamos observando muitos países e suas posições. O Brasil, por exemplo, você mencionou o presidente. O Brasil não tinha problemas até há pouco tempo. Agora estão com números subindo. E sim, estamos pensando em um veto — disse o americano.
Posições próximas às que Bolsonaro vem sustentando são verbalizadas por poucos chefes de Estado. Entre eles, Aleksandr Lukashenko , da Bielorússia, que chegou a dizer que frequentar saunas ou beber vodca poderiam ser eficazes no combate ao coronavírus; Gurbanguly Berdimukhamedov , do Turcomenistão, que baniu o uso da palavra coronavírus; e Daniel Ortega, da Nicarágua, que convocou a população à marcha “Amor nos Tempos da Covid-19”. Atualmente, mais de 3,38 bilhões de pessoas em 80 países estão confinadas em suas casas, por decreto ou voluntariamente.
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Mesmo líderes que num primeiro momento relativizaram a doença voltaram atrás. É o caso do próprio Trump . Em janeiro, quando o primeiro caso foi registrado nos EUA, ele disse não estar preocupado . Quando a epidemia cresceu na Europa, ainda minimizava a doença. Finalmente, quando seu país passou a liderar o número de infectados no mundo, acabou se rendendo .
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Boris Johnson , premier britânico, também reviu sua estratégia graças a um estudo que previu meio milhão de mortos no país caso não impusesse medidas mais rigorosas. A demora em agir na Itália, onde governos regionais impulsionaram uma campanha dizendo que a economia não poderia parar , provocou uma explosão de casos . No início de março, porém, o premier Giuseppe Conte impôs quarentena obrigatória. No México, o presidente Andrés Manuel López Obrador chegou a dizer que os mexicanos eram resistentes a calamidades , mas acabou ampliando o isolamento social nesta semana. Vladimir Putin, na Rússia, que fechou a fronteira com a China mas não tomou medidas internas, finalmente ordenou um confinamento que começou a valer ontem.
Entre os líderes que nunca questionaram os riscos da pandemia estão Benjamin Netanyahu, em Israel, e Cyril Ramaphosa, da África do Sul. Na China, depois da tentativa de líderes locais de esconder a doença, Xi Jinping adotou medidas draconianas , fechando a província de Hubei, berço da pandemia. Na Europa, o confinamento ajudou a salvar 59 mil vidas, segundo um estudo britânico. O coronavírus já deixou mais de 40 mil mortos no mundo.
Os três grupos
Negacionistas
“Quem tem menos de 40 anos de idade, a chance de óbito é quase zero. Então não tem porque não deixar esse pessoal trabalhar. Afinal de contas, se o vírus mata em alguns casos, a fome também mata”.
JAIR BOLSONARO (Presidente do Brasil)
“Você apenas tem que trabalhar, especialmente agora, no campo. Vá para a sauna, duas ou três vezes por semana, fará bem. Quando você sair da sauna, não apenas lave as mãos, mas também beba 100 mililitros de vodca. O pânico pode nos ferir mais do que o próprio vírus”.
ALEKSANDR LUKASHENKO (Presidente da Bielorrússia)
Aderiram depois de questionar medidas mais duras
“Para superar o impacto da COVID-19, escolhemos a opção de um distanciamento social em grande escala. Temos que tirar lições da experiência de outros países, mas não podemos copiá-la porque cada país tem suas próprias características”.
JOKO WIDODO (Presidente da Indonésia)
“Cada um de nós tem um papel para vencermos essa guerra. Cada cidadão, família e negócio pode fazer a diferença para parar o vírus. É nosso dever patriótico”.
DONALD TRUMP (Presidente americano)
“Todos devemos desistir de algo pelo bem da Itália. Temos que fazer isso agora, e só poderemos se colaborarmos e nos adaptarmos a essas medidas mais rigorosas. Foi por isso que decidi adotar medidas ainda mais severas para conter o avanço e proteger a saúde de todos os cidadãos”.
GIUSEPPE CONTE (Premier italiano)
“Precisamos ficar em nossas casas, precisamos manter uma distância saudável. É melhor prevenir do que lamentar”.
ANDRÉS MANUEL LÓPEZ OBRADOR (Presidente mexicano)
“Estas são medidas forçadas, são temporárias e forçadas. Mas serão mais curtas quanto mais eficientes forem, e francamente, quanto mais duras forem”.
VLADIMIR PUTIN (Presidente russo)
“Desde o início, nós buscamos implementar medidas corretas no momento certo. Não hesitaremos em ir além, se isso for sugerido por pareceres médicos e de cientistas. É importante para mim ser explícito: sabemos que as coisas vão piorar antes de melhorar”.
BORIS JOHNSON (Premier do Reino Unido)
Aderiram sem questionar gravidade da pandemia
“O coronavírus está se espalhando cada vez mais rápido apesar de todos os esforços. Não há outra maneira de permanecer seguro contra o coronavírus. Se temos que parar a propagação, temos que interromper o ciclo de infecção”.
NARENDRA MODI (Premier da Índia)
“Todas as medidas de prevenção e controle tomadas pelo Comitê Central do PCC contra o novo coronavírus têm como objetivo evitar a infecção de mais pessoas e salvar a vida de mais pacientes”.
XI JIPING (Presidente da China)
“Será um longo caminho, uma guerra contra um exército invisível. Mas tenho certeza de que faz muito sentido e que os resultados serão favoráveis”.
ALBERTO FERNÁNDEZ (Presidente da Argentina)
“Estamos em guerra. Uma guerra de saúde, mas o inimigo está lá. Invisível, escorregadio. Peço que sejam responsáveis e não entrem em pânico. A França está passando por um período muito difícil e teremos que nos adaptar, mas venceremos”.
EMMANUEL MACRON (Presidente da França)
“Nós, responsáveis públicos, devemos nos deixar guiar pelos especialistas, e apenas por eles, além de estar presentes e combater o único inimigo que nos ameaça: o vírus e seus estragos sanitários, econômicos e sociais. Cada dia que passa é um dia a menos”.
PEDRO SÁNCHEZ (Premier da Espanha)
“Digo isso da forma mais clara possível: você deve ficar em casa! Fique em casa, fique vivo. O perigo está à espreita para todos. Tenham cuidado”.
BENJAMIN NETANYAHU (Premier de Israel)
“Declaramos um estado de desastre nacional e vamos ter um mecanismo de gerenciamento integrado e coordenado que se concentrará na prevenção e redução do surto desse vírus”.
CYRIL RAMAPHOSA (Presidente da África do Sul)
“Esse estado (de catástrofe) visa a nos preparar para enfrentar o que está por vir”.
SEBÁSTIAN PIÑERA (Presidente do Chile)