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Presidente da Colômbia põe militares nas ruas para conter protestos contra reforma tributária

Desde o início da greve convocada por sindicatos e movimentos sociais, na quarta-feira, já ocorreram 10 homicídios por causas não especificadas
Polícia de choque monta guarda durante protesto contra projeto de reforma tributária em frente à casa do presidente Iván Duque, em Bogotá Foto: JUAN BARRETO / AFP/01-05-2021
Polícia de choque monta guarda durante protesto contra projeto de reforma tributária em frente à casa do presidente Iván Duque, em Bogotá Foto: JUAN BARRETO / AFP/01-05-2021

BOGOTÁ — O presidente da Colômbia, Iván Duque, anunciou na noite de sábado a mobilização de militares nas ruas das principais cidades do país para conter protestos contra a reforma tributária . A intensidade das manifestações aumentou desde quarta-feira, quando foi convocada uma greve nacional, que teve mais apoio do que o esperado, já que a Colômbia vive o pior momento da pandemia. No sábado, ocorreram incidentes entre policiais e manifestantes nas principais cidades, com saldo de mais de 330 policiais feridos e 249 detidos sob a acusação de vandalismo. Cali é a fonte de maior tensão. A polícia confirmou que, desde o início da greve convocada por sindicatos e movimentos sociais, já ocorreram 10 homicídios por causas não especificadas.

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Entre as vítimas está um menino de 16 anos. Esse pode ser o menino que aparece em um vídeo atingindo um policial motorizado. O agente, após ser chutado, corre atrás dele e atira duas vezes em suas costas. O diretor da Human Rights Watch para as Américas, José Miguel Vivanco, confirmou no Twitter a veracidade da gravação. Vivanco afirma estar recebendo graves denúncias de abusos cometidos pela polícia em Cali, capital do departamento de Valle del Cauca. “A cidade tem todo o direito de se manifestar e deve fazê-lo pacificamente. A polícia deve garantir o respeito pelos direitos humanos”, acrescentou.

Duque está tentando realizar uma reforma tributária com a qual possa aliviar o rombo que a pandemia deixou na economia. O dirigente conta com a aprovação da maioria dos especialistas em economia para realizá-la, mas esbarrou narejeição da oposição e de boa parte da sociedade. Na sexta-feira, o presidente colombiano anunciou em seu programa diário de televisão que vai modificar o texto, que está em exame no Congresso, para que o IVA (Imposto sobre o Valor Agregado) permaneça como está e a base do imposto de renda tributável não seja ampliada, um claro aceno para a classe média. Mesmo assim, milhares de pessoas saíram às ruas no sábado para expressar seu descontentamento pelo quarto dia consecutivo, que coincidiu com o Dia do Trabalho.

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A greve convocada contra a reforma está tendo mais apoio do que o esperado, principalmente por ocorrer em meio ao pior momento da pandemia. Políticos contrários ao presidente conservador Duque, como a prefeita de Bogotá, Claudia López, pediram que as pessoas não ocupassem maciçamente as ruas devido à situação crítica em que se encontram os hospitais na Colômbia. A ocupação das unidades de terapia intensiva nas grandes cidades ultrapassa 90%. No entanto, a mobilização foi maciça no sábado, depois de dois dias menos movimentados.

No anúncio da mobilização de militares, Duque tentou transmitir a mensagem de que a situação estava sob controle. Ele fez o anúncio na Casa de Nariño, o palácio de governo, acompanhado pela vice-presidente, Marta Lucía Ramírez, o ministro do Interior, Daniel Palacios, e o comandante do Exército, Eduardo Zapateiro.

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—  Quero alertar aqueles que, por meio da violência, do vandalismo e do terrorismo, buscam intimidar a sociedade e acreditam que com esse mecanismo vão dobrar as instituições —   disse Duque, antes de informar que, como comandante supremo das Forças Armadas, autorizou a presença militar nos locais onde for necessário, em coordenação com prefeitos e governadores.

Até aquele momento, o governo tinha estado em silêncio sobre o número de civis feridos nas manifestações e apenas reconheceu a existência de uma morte. A decisão de militarizar as ruas foi criticada por setores políticos contrários a Duque, como o ex-ministro da Saúde e atual reitor da Universidade dos Andes, Alejandro Gaviria: “A militarização não é a saída. Nada resolve. Vai trazer mais morte, destruição e descontentamento ”, tuitou o político, que ainda não decidiu se vai disputar a eleição presidencial no ano que vem. O prefeito de Medellín, Daniel Quintero Calle, político independente, já disse que não pedirá a ajuda dos militares.

Na sexta-feira, o ex-presidente Álvaro Uribe, mentor de Duque, havia publicado uma mensagem de apoio às forças de segurança. “Apoiemos o direito de soldados e policiais de usarem suas armas para defender sua integridade e defender pessoas e bens da ação criminosa do vandalismo e terrorismo”, escreveu. Sua mensagem no Twitter foi imediatamente interpretada por seus críticos como um incitamento à violência. Horas depois, a plataforma excluiu a mensagem por violar suas políticas.

Na noite de sábado, os manifestantes foram a Cedritos, bairro ao Norte de Bogotá onde o presidente Duque tem um apartamento. Lá, a tropa de choque foi enviada para impedir o protesto, que avançou batendo panelas. Os policiais usaram gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Caminhões e veículos bloquearam as pistas para interromper o tráfego. Após esses incidentes, as autoridades locais informaram que 89 policiais da cidade ficaram feridos, dois deles gravemente. Não foi informado o número de civis feridos foi informado.

Em Barranquilla, no Caribe, também ocorreram confrontos entre manifestantes e policiais. Em algumas imagens, os agentes podem ser vistos dispersando com canhões de água uma multidão que atirou pedras e bastões. O mesmo aconteceu em Bucaramanga. Em Manizales demoliram o busto de um político conservador e em Pasto a estátua de um herói da independência.