Mundo Guerra na Ucrânia

Presidente da Ucrânia sinaliza que país não entrará na Otan

Zelensky indica que país pode ceder a um dos principais objetivos de Moscou em sua ofensiva
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia Foto: HANDOUT / AFP
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia Foto: HANDOUT / AFP

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, sinalizou que seu país pode buscar um acordo no qual não se torne membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Zelensky afirmou que, embora a aliança tenha oficialmente uma política de portas abertas, a Ucrânia não pode se tornar um de seus membros.

— Entendemos que a Ucrânia não é membro da Otan. Entendemos isso, somos pessoas razoáveis. Durante anos ouvimos falar de portas supostamente abertas. Mas já ouvimos que não devemos entrar lá. Isso é verdade e temos que reconhecer — afirmou. —  Precisamos de novos formatos de cooperação, de uma nova determinação. E, se não pudermos entrar pelas portas abertas, devemos cooperar com comunidades que nos ajudarão e nos protegerão e ter garantias separadas.

Esta foi uma das admissões mais fortes de que a Ucrânia pode desistir da possibilidade de adesão à Otan. Kiev já demonstrara estar disposta a aceitar alguma forma de neutralidade, o que significaria não fazer parte de alianças militares. Isto contraria  um objetivo explícito da Constituição ucraniana, que estabelece a adesão à Otan como meta. Um país neutro pode ou não ser militarizado.

— Estou contente que nosso povo comece a compreender isso e possa contar só com suas próprias forças.

Além da não integração à Otan, a Rússia exige a desmilitarização  da Ucrânia, ponto em que  Kiev nunca demonstrou estar disposta a ceder. Pede também o reconhecimento da independência das repúblicas separatistas de Luhansk e Donetsk, no Leste da Ucrânia, além da admissão que a Península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, é parte do território russo.

Perspectiva da guerra

Mais cedo, declarações de autoridades russas e ucranianas permitiram ver de relance como os dois lados antecipam a continuação do conflito, e até onde acreditam que ele irá se prolongar. Ambas as declarações jogam água fria na chance de um desfecho próximo, apesar de sinais de otimismo expressos por autoridades dos dois países no fim de semana .

Nesta terça-feira, as negociações continuaram depois de serem interrompidas na segunda, mas permaneceram travadas. Conselheiro de Zelensky, Mykhailo Podolyak disse que as conversas são "muito difíceis", com "contradições fundamentais", mas pontuou que vê espaço para um acordo. Segundo ele, as negociações continuam na quarta.

Antes, o Kremlin havia dito que é muito cedo para fazer previsões sobre os possíveis resultados das negociações entre a Rússia e a Ucrânia.

—  O trabalho é árduo, e, na situação atual, o próprio fato de eles continuarem [as conversa] é provavelmente positivo —  disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a repórteres nesta terça-feira. — Não queremos dar previsões. Aguardamos resultados.

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Já o  conselheiro do chefe de gabinete do presidente ucraniano, Oleksiy Arestovich, foi mais minucioso em sua análise do conflito. Em seu entendimento, a guerra provavelmente não passará do início de maio, quando, ele acredita, a Rússia ficará sem recursos para manter seus ataques.

Em um vídeo publicado por vários meios de comunicação ucranianos, Arestovich disse que o momento exato depende da quantidade de recursos que o Kremlin se dispõe a investir na campanha.

— Acho que no mais tardar em maio, início de maio, devemos ter um acordo de paz. Talvez muito antes, veremos, estou falando das últimas datas possíveis — disse Arestovich.

Antes da reunião desta terça, que começou por volta das 10h20 de Brasília, o negociador-chefe da Ucrânia, Mikhailo Podolyak, afirmou que "as negociações estão em andamento. Consultas na principal plataforma de negociação renovadas. Assuntos de regulamentação geral, cessar-fogo, retirada de tropas do território do país [estão na pauta]…"

Já Arestovich — que não é um dos negociadores — afirmou que “estamos em uma bifurcação na estrada agora”:

— Ou haverá um acordo de paz muito rapidamente, dentro de uma ou duas semanas, com retirada de tropas e tudo mais, ou haverá uma tentativa de juntar alguns, digamos, sírios para um segunda rodada. E, quando os triturarmos também, [haverá] um acordo em meados de abril ou final de abril.

Arestovich também citou “um cenário completamente louco” que envolveria a Rússia enviando novos recrutas após um mês de treinamento. A Rússia enfrenta escassez de soldados, após uma tática de invasões fulminantes não obter sucesso. O país anunciou que contratará mercenários com experiência na guerra da Síria para compor as suas fileiras.

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Segundo ele, mesmo após um acordo de paz, pequenos confrontos táticos podem contnuar a acontecer por até um ano. A Ucrânia insiste na remoção completa das tropas russas de seu território, mas, durante as negociações, o Kremlin provavelmente reivindicará alguma espécie de controle ou de autonomia para os territórios de língua russa que ocupar durante a guerra.

As conversações entre Kiev e Moscou — nas quais Arestovich não está pessoalmente envolvido — produziram muito poucos resultados até agora, além de vários corredores humanitários saindo de cidades ucranianas sitiadas.

No final da semana passada, autoridades russas e ucranianas emitiram sinais de otimismo. A rodada de conversas da segunda-feira, que foi encerrada sem um grande anúncio, foi o quarto encontro oficial. As partes provavelmente mantêm também conversas de bastidores. O presidente da Ucrânia afirmou no fim de semana que a Rússia “parou de só emitir ultimatos e começou a ouvir” a sua posição.

Correção: Esta matéria inicialmente continha um erro de tradução. Na primeira citação de Zelensky, a frase "Entendemos que a Ucrânia não é membro da Otan" havia sido traduzida como "'Entendemos que não faremos parte da Otan". A tradução inicial baseou-se em informações transmitidas por agências de notícias e veículos jornalísticos do Leste europeu.