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Recusa de Trump em admitir derrota não terá consequência e nada deterá transição, diz Biden

Democrata procura baixar tensão política, mas diz que atual presidente causa "constrangimento" para o país
Joe Biden, presidente eleitos dos EUA, e sua vice, Kamala Harris: 'Briefings são úteis, mas podemos seguir adiante sem eles', disse Foto: JONATHAN ERNST / REUTERS
Joe Biden, presidente eleitos dos EUA, e sua vice, Kamala Harris: 'Briefings são úteis, mas podemos seguir adiante sem eles', disse Foto: JONATHAN ERNST / REUTERS

WILMINGTON —  Vitorioso na eleição presidencial nos Estados Unidos, o democrata Joe Biden procurou, nesta terça-feira, baixar a tensão política provocada pela recusa do presidente Donald Trump em admitir a derrota e dar início ao processo oficial de transição do poder.

Em entrevista coletiva, inicialmente convocada para falar de seus planos para a saúde, Biden disse que a atitude do republicano é um "constrangimento" para o país e "não vai ajudar o legado" de Trump, mas não vai deter a transição e não terá maiores consequências. Ele disse que sua equipe vai continuar o trabalho de elaborar as primeiras medidas do seu governo "de maneira sólida".

— O fato de eles não estarem dispostos a admitir que vencemos a esta altura não tem muitas consequências no planejamento do que poderemos fazer entre agora e janeiro — disse Biden, em alusão à data em que assumirá a Presidência, 20 de janeiro.

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Ao ser questionado sobre a declaração do chefe da diplomacia do governo Trump, Mike Pompeo, que mais cedo falou de um "segundo mandato de Trump", Biden riu e disse que já conversou com ao menos seis líderes mundiais , avisando que "os Estados Unidos estão de volta".

Ele também afirmou que, mesmo que não tenha acesso aos fundos federais a que sua equipe tem direito para o processo de transição, seria útil se pudesse ao menos receber informações diárias de Inteligência do governo.

— Estou confiante de que seremos capazes de colocar os Estados Unidos de volta ao lugar de respeito que tinha antes — disse Biden.

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O democrata disse que espera ter em breve uma conversa com o senador republicano Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, que endossou o discurso de Trump e também não aceitou a vitória de Biden.

— Acho que todo o Partido Republicano foi colocado em uma posição, com algumas exceções notáveis, de ser levemente intimidado pelo presidente em exercício — disse.

Em defesa do Obamacare

A entrevista coletiva foi convocada no mesmo dia em que a Lei de Cuidados Acessíveis (ACA, na sigla em inglês), mais conhecida como "Obamacare", está sendo discutida na Suprema Corte.

A instância máxima do Judiciário americano debate a constitucionalidade da legislação, sob o argumento de republicanos que ela se tornou inviável após o Congresso, em 2017, ter anulado o chamado mandato individual, que era uma penalidade tributária para quem não contratasse um seguro de saúde.

Biden afirmou que "a saúde não precisa ser uma questão partidária" e que os americanos estão "mais unidos do que nunca" em relação ao assunto. Ele prometeu também que irá expandir o acesso à saúde em seu governo.

Antes do presidente eleito falar, sua vice, Kamala Harris, fez um breve pronunciamento e chamou o processo debatido na Suprema Corte, que é movido por governadores republicanos e apoiado pelo governo Trump, de "uma tentativa de derrubar o desejo da população". Ela disse que os americanos decidiram nas urnas que "a saúde nos Estados Unidos deve ser um direito, não um privilégio".

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Apesar de a sessão plenária ainda continuar, a Suprema Corte deve votar a favor do Obamacare. Ao menos cinco dos nove juízes, incluindo dois membros da maioria conservadora, indicaram que não estavam inclinados a derrubar a legislação. Em termos legais, eles disseram que o mandato individual era separável do resto da lei.

— Parece bastante claro que o remédio adequado seria cortar a cláusula do mandato e deixar o resto da lei em vigor — disse o juiz Brett M. Kavanaugh, que foi indicado por Trump.

O debate sobre o Obamacare acontece em meio à pandemia do novo coronavírus, que causou mais de 238 mil mortes nos EUA e 10 milhões de infecções. Caso a lei seja derrubada, a quantidade de americanos sem cobertura médica aumentará em mais de 20 milhões de pessoas — um aumento de quase 70%, de acordo com novas estimativas do Urban Institute.