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Reino Unido blinda estátua de Churchill contra manifestantes, e Boris lamenta 'vergonha'

Monumento já havia sido pichado por ativistas que acusam o ex-primeiro-ministro de racismo; atual premier diz que protestos foram 'sequestrados por extremistas'
Estátua do ex-primeiro-ministro Winston Churchill em Londres foi coberta Foto: TOLGA AKMEN / AFP
Estátua do ex-primeiro-ministro Winston Churchill em Londres foi coberta Foto: TOLGA AKMEN / AFP

LONDRES — A estátua do primeiro-ministro britânico Winston Churchill (1874-1965) em frente ao Parlamento, em Londres, foi coberta por tapumes para proteger o monumento, diante da expectativa de novos protestos contra o racismo nesta sexta-feira e amanhã. No domingo, manifestantes haviam pichado a palavra “racista” na escultura. O atual premier do país, Boris Johnson, classificou o risco de um possível ataque à estátua como “absurdo” e “vergonhoso”.

“Sim, às vezes ele expressava opiniões que eram e são inaceitáveis para nós hoje, mas ele era um herói e merece esse memorial. Nós não podemos tentar editar ou censurar nosso passado. Não podemos fingir que temos uma história diferente”, escreveu Boris no Twitter.

Na publicação, o primeiro-ministro ainda disse que os protestos antirracistas foram “sequestrados por extremistas”: “Qualquer que seja o progresso que este país tenha feito no combate ao racismo — e tem sido enorme — todos reconhecemos que há muito mais trabalho a ser feito", disse. "Mas está claro que os protestos foram tristemente sequestrados por extremistas que querem violência."

Boris é um admirador de Churchill e já escreveu uma biografia sobre o ex-primeiro-ministro, “O Fator Churchill”. Pessoas próximas ao premier conservador ainda afirmam que ele tenta imitá-lo.

Churchill foi primeiro-ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial (1940-1945) e depois entre 1951 e 1955. Herói da luta contra o nazifascismo, mas convencido dos méritos do Império Britânico e da suposta superioridade da cultura ocidental, em diversas ocasiões o político conservador fez comentários racistas e antissemitas, e críticos o acusam de negar comida para a Índia durante a epidemia de fome de 1943, que matou mais de 2 milhões de pessoas na então colônia britânica.

Em sua manifestação no Twitter, Boris também disse ouvir o "inegável sentimento de injustiça" dos manifestantes, mas apelou para que eles cumpram as regras de distanciamento social a fim de impedir uma segunda onda de infecções pelo novo coronavírus. Além da estátua de Churchill, o memorial à Primeira Guerra Mundial Cenotaph, em Londres, foi coberto nesta sexta-feira.

Ataques a monumentos pelo mundo

O episódio em que a estátua de Churchill foi pichada com a frase “era um racista”, no domingo, não foi um caso isolado. No mesmo dia, em Bristol, no Oeste da Inglaterra, a estátua de Edward Colston, um traficante de escravos do século XVII, foi derrubada e jogada no porto da cidade. Um dia depois, o prefeito de Bristol, Marvin Rees, afirmou que iria guardar a escultura em um museu. Isso também levou o prefeito de Londres, Sadiq Khan, a determinar que os monumentos e os nomes das ruas da capital fossem revisados .

Na última quarta-feira, manifestantes se voltaram contra monumentos em homenagem a Cristóvão Colombo nos Estados Unidos. Em Richmond, no estado da Virgínia, uma escultura do navegante italiano foi derrubada e atirada em um lago. Outra, em Boston, foi “decapitada”.

Para os manifestantes, Colombo simboliza o genocídio dos povos americanos nativos, além de ser um símbolo da colonização europeia no continente. Ele foi o primeiro europeu a chegar à América, em 1492, em uma missão financiada pela Espanha.

Nos Estados Unidos, também foram derrubadas estátuas de líderes militares confederados, que eram contra o fim da escravidão e lutaram pela secessão do Sul dos EUA durante a Guerra Civil americana, no século XIX.

Já na Bélgica, há ações contra as estátuas de Leopoldo II, rei dos belgas de 1865 a 1909 e responsável pela colonização do então Congo Belga — chegando a transformar o território em sua propriedade particular. No início da semana, uma estátua do rei em Antuérpia foi vandalizada. Na madrugada desta sexta, outro monumento a ele foi derrubado no bairro de Auderghem, em Bruxelas. As placas da Avenida Leopoldo II na cidade amanheceram pintadas de vermelho.

Laurent, o irmão do atual rei belga, Philippe, agravou a situação ao defender Leopoldo II, dizendo que ele não era responsável pelos abusos na colônia, onde metade da população morreu na exploração de borracha e minérios durante o domínio do rei, segundo cálculo do historiador americano Adam Hochschild no livro "O fantasma do rei Leopoldo".

— Ele nunca foi ao Congo pessoalmente —  disse Laurent. —  Então não sei como ele poderia ter feito o povo de lá sofrer.