MOSCOU — A Bielorrússia anunciou neste domingo a extensão de exercícios militares com a Rússia , citando o aumento das tensões na vizinha Ucrânia. Iniciados em 10 de fevereiro, os exercícios, chamados de "Resolução Aliada", inicialmente estavam previstos para durar dez dias.
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"Tendo em vista o aumento da atividade militar perto das fronteiras (...) e o agravamento da situação em Donbass [Leste da Ucrânia], os presidentes da Bielorrússia e da Rússia decidiram continuar a inspeção das forças", declarou o Ministério da Defesa bielorrusso em sua conta no Telegram neste domingo.
O Kremlin não informou quantos soldados russos participam dos exercícios na Bielorrússia, mas Washington estima o número em 30 mil, no que seria uma das maiores mobilizações desde o final da Guerra Fria, nos anos 1990. As manobras são vistas com receio por sua localização: alguns dos exercícios ocorrem perto da fronteira com a Ucrânia, a cerca de 100 km de Kiev.
O anúncio foi feito no mesmo dia em que o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, advertiu que as repetidas previsões do Ocidente de uma invasão da Ucrânia pela Rússia são provocativas e podem ter consequências adversas.
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— O fato é que isso diretamente leva a um aumento de tensão. E quando a tensão aumenta ao máximo, como agora, por exemplo, na linha de contato [no Leste da Ucrânia], então qualquer faísca, qualquer incidente não planejado ou qualquer minúscula provocação planejada podem levar a consequências irreparáveis — afirmou Peskov à TV estatal Rossiya 1, afirmando que o presidente russo, Vladimir Putin , tem conhecimento de tais declarações.
Na sexta-feira, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse estar convencido de que Putin decidiu invadir a Ucrânia "nos próximos dias" , acrescentando que a escalada de incidentes no Leste ucraniano tinha como objetivo criar um pretexto para a Rússia lançar um ataque.
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— Então, tudo isso pode ter consequências prejudiciais. O exercício diário de anunciar datas para invadir a Ucrânia é uma prática muito danosa — advertiu, acrescentando que a Rússia pede que seus parceiros do Ocidente sejam razoáveis e que a Rússia é o último país a querer usar a palavra "guerra".
Neste domingo, diversos veículos de imprensa dos EUA divulgaram a informação de que Vladimir Putin já teria dado a ordem, aos seus comandantes militares, para dar sequência a um ataque contra a Ucrânia. Citando fontes na comunidade de inteligência, o New York Times aponta que quase metade dos 150 mil militares russos em áreas de fronteira já assumiram formaçoes de combate, e poderiam atacar em questão de dias. Segundo a CBS, essas informações estão por trás dos alertas feitos recentemente pelo presidente Joe Biden sobre um ataque "em questão de dias".
Vale ressaltar que, no começo do mês, a rede pública PBS também publicou que, segundo integrantes de agências de inteligência ocidentais, Putin havia se decidido pela invasão. Na ocasião, a rede afirmou que o ataque estava previsto para acontecer na semana passada, o que não ocorreu.
A extensão das manobras com a Bielorrússia ocorre um dia depois de Putin ter supervisionado exercícios militares de mísseis estratégicos com capacidade nuclear ao lado do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko e de líderes separatistas pró-Moscou no Leste da Ucrânia terem convocado uma mobilização militar total em meio à retirada de civis para a Rússia , citando a suposta ameaça de um ataque de forças ucranianas — acusação que Kiev nega.
Denis Pushilin, chefe da autoproclamada República Popular de Donetsk (RPD), disse que assinou o decreto da mobilização, convocando homens "capazes de empunhar uma arma" a se dirigir a instalações militares. Leonid Pasechnik, chefe da República Popular de Luhansk (RPL), assinou um decreto similar posteriormente.
No sábado, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), cujos membros incluem a Rússia e os EUA e que monitora o conflito no Leste da Ucrânia, denunciou quase 2.000 violações de cessar-fogo no leste separatista. A OSCE implantou sua missão na Ucrânia em 2014, após a anexação da Crimeia pela Rússia e a eclosão do conflito entre Kiev e os separatistas, que deixou mais de 14 mil mortos desde então.