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Rússia inicia manobras no Mar Negro, e EUA mandam mais armas para a Ucrânia

Operações ocorrem após anúncio de que Washington mobilizou 8,5 mil militares em solo europeu, algo que deixou Moscou 'extremamente preocupada'; países consideram opções para corte de gás
Funcionários do aeroporto Boryspil, em Kiev, descarregam aeronave com equipamentos de segurança fornecidos pelo governo dos EUA à Ucrânia Foto: SERGEI SUPINSKY / AFP
Funcionários do aeroporto Boryspil, em Kiev, descarregam aeronave com equipamentos de segurança fornecidos pelo governo dos EUA à Ucrânia Foto: SERGEI SUPINSKY / AFP

MOSCOU E WASHINGTON — A Rússia deu início nesta terça-feira a uma nova série de exercícios militares em áreas próximas à fronteira com a Ucrânia e na Península da Crimeia, anexada em 2014, em meio às tensões com o Ocidente envolvendo uma ameaça de invasão do país vizinho. Ao mesmo tempo, nações como os EUA reforçaram o envio de equipamentos militares a Kiev, e tentam achar meios para manter o fornecimento de gás à Europa se um conflito no Leste do continente interromper o fluxo do gás russo.

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Segundo autoridades militares russas, as manobras acontecem nas regiões de Volgogrado, Rostov e Krasnodar, no Sul russo, além da Crimeia, e envolvem cerca de seis mil militares, 60 aeronaves e tanques — as manobras ocorrem semanas depois de exercícios similares em regiões de fronteira e na própria Crimeia, onde 10 mil militares participaram de manobras, em dezembro.

Em outra frente, a Rússia participa de manobras preliminares na Bielorrússia, com o uso do sistema de defesa aérea S-400 — no mês que vem, os dois países realizarão exercícios voltados à defesa das fronteiras com a Otan e com a própria Ucrânia.

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As manobras ocorrem no momento em que a Otan, principal aliança militar do Ocidente, anunciou medidas para dissuadir a Rússia de uma invasão Os EUA puseram 8,5 mil soldados seus em prontidão , enquanto vários países da aliança enviaram ou prometeram enviar aeronaves e navios para seu flanco oriental. Movimentos que, para o Kremlin, são “muito preocupantes”, como apontou o secretário de Imprensa, Dmitry Peskov, nesta terça-feira — na véspera, afirmou que as alegações do Ocidente eram “histeria” e que eram “cheias de mentiras”.

Embora o Kremlin negue ter planos para uma nova invasão — a primeira foi em 2014, na anexação da Crimeia —, os EUA e governos europeus já preparam seus planos de contingência.

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Um deles, o mais imediato, é a intensificação da ajuda militar à Ucrânia — nesta terça, um avião pousou em Kiev com equipamentos e munições, como parte de um pacote de apoio dos EUA estimado em US$ 200 milhões. No ano passado, a ajuda militar de Washington a Kiev totalizou US$ 650 milhões. Outras nações, como o Reino Unido, também fizeram seus envios, incluindo armamento antitanque.

Contudo, a Otan deixou claro que não vai se intrometer diretamente em um eventual conflito, o que foi reiterado pelo presidente americano, Joe Biden, nesta terça.

Com isso, restam a diplomacia, hoje em curso, mas ainda sem resultados práticos , e as sanções econômicas contra o governo e a economia da Rússia, mas o tema passa longe de ser unanimidade na Otan. A Alemanha, por exemplo, teme que a Rússia suspenda o fornecimento de gás para a Europa — um terço do gás consumido pelo continente vem dos campos russos, e empresas do setor de energia afirmam que será difícil compensar um eventual fechamento dos gasodutos por conta da alta demanda internacional do produto.

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Neste cenário, Estados Unidos e Reino Unido vêm conversando com países produtores para encontrar meios de ampliar a produção, mesmo que temporariamente

— Estamos trabalhando para identificar volumes adicionais de gás não russo de várias áreas do mundo, do Norte da África, Oriente Médio, Ásia e EUA — disse à Reuters um integrante do governo americano, em condição de anonimato.

Pelo lado russo, o mercado financeiro vem registrando sequências de quedas e o rublo se encontra em um dos patamares mais baixos em anos. Na segunda-feira, a cotação da moeda chegou a 79,50 por dólar, menor valor desde 3 de novembro de 2020, obrigando o Banco Central a suspender compras de moeda estrangeira. Também na segunda-feira, o principal índice da Bolsa de Moscou chegou a registrar queda de 10%, ampliando as perdas registradas desde o agravamento da crise, em outubro.