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Sob pressão, partido de Angela Merkel escolherá nova liderança em abril

União Democrata Cristã é questionada por resultados na eleição regional de Hamburgo e aliança com a extrema direita na Turíngia, que levou à queda da provável sucessora da chanceler
Chanceler alemã Angela Merkel (D) conversa com a presidente interina da União Democrata Cristã, Annegret Kramp-Karrenbauer, durante reunião em Berlim Foto: MICHELE TANTUSSI / REUTERS
Chanceler alemã Angela Merkel (D) conversa com a presidente interina da União Democrata Cristã, Annegret Kramp-Karrenbauer, durante reunião em Berlim Foto: MICHELE TANTUSSI / REUTERS

BERLIM — Enfrentando hoje uma das piores crises desde que chegou ao poder, em 2005, a União Democrata Cristã (CDU), partido da chanceler Angela Merkel , anunciou que escolherá sua nova liderança em convenção no dia 25 de abril.

— Um novo ou nova presidente do partido será escolhido ou escolhida neste congresso. É um sinal claro sobre o candidato da CDU para o cargo de chanceler — afirmou a presidente interina da sigla, Annegret Kramp-Karrenbeuer, que renunciou após a crise provocada pela inesperada aliança com a extrema direita na Turíngia .

No começo do mês, parlamentares da CDU no estado se aliaram aos representantes da Alternativa para a Alemanha (AfD) para eleger um novo premier regional, Thomas Kemmerich, do Partido Democrático Liberal, derrotando o incumbente e candidato do partido A Esquerda, Bodo Ramelow. A decisão pegou até mesmo as lideranças da CDU de surpresa, sendo condenada até pela chanceler Angela Merkel . Uma das diretrizes do partido veta acordos com a extrema direita, representada pela AfD, e com A Esquerda, uma equivalência que já era alvo de questionamentos antes mesmo dos eventos na Turíngia.

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Kemmerich acabou renunciando pouco depoi s, mas a crise não terminaria ali. Sob pressão, Annegret Kramp-Karrenbeuer, líder da CDU e apontada como sucessora natural de Merkel, disse que deixaria o comando do partido e não seria mais candidata ao posto de chanceler, no ano que vem. No domingo, mais um golpe: a CDU sofreu uma derrota considerável na eleição da cidade-estado de Hamburgo, sendo relegada ao posto de terceira força política na região, atrás do Partido Social-Democrata (SPD) e dos Verdes, que se destacam também no cenário nacional.

Eleição arriscada

Com Kramp-Karrenbeuer fora da disputa, quatro nomes são vistos como prováveis como candidatos ao comando da CDU: Armin Laschet , premier do estado da Renânia do Norte-Vestfália; Friedrich Merz , um rival de Merkel; Jens Spahn , ministro da Saúde, e Norbert Roettgen , chefe da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento. Existe ainda a possibilidade do líder da União Social Cristã — sigla “irmã” da CDU na Baviera —, Markus Söde r, entrar na campanha.

Pelo menos em público, todos dizem concordar com um processo “dentro das regras”, assim como uma relação “cordial” entre o partido e o governo. Mas caso um rival da chanceler seja eleito, ele pode dar início a um processo de “fritura” de Merkel, algo que, em último caso, poderia até levar à sua saída do cargo antes do fim do mandato.

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Neste caso, os efeitos podem ser catastróficos para o partido. Pesquisa recente do instituto Forsa mostra que quase 2,5 milhões de eleitores não votarão mais na CDU quando Merkel deixar o cargo — caso isso ocorra de forma brusca, a perda de apoio pode ser ainda maior.

No campo legislativo, o SPD deixou claro que se a chanceler deixar o cargo antes do previsto, vai abandonar a coalizão que sustenta o atual governo, o que poderia abrir caminho para eleições antecipadas.