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Suécia segue Finlândia e confirma candidatura à Otan; países enviarão diplomatas à Turquia para tentar superar objeções de Erdogan

Ancara surpreendeu aliados ao fazer ressalvas à entrada dos dois países nórdicos na aliança, citando apoio a membros de grupos militantes curdos
Bandeira da Otan tremula durante cerimônia de chegada de tropas dos EUA na base militar de Adazi, na Letônia Foto: INTS KALNINS / REUTERS
Bandeira da Otan tremula durante cerimônia de chegada de tropas dos EUA na base militar de Adazi, na Letônia Foto: INTS KALNINS / REUTERS

ESTOCOLMO — O governo da Suécia anunciou nesta segunda-feira a decisão de solicitar adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte ( Otan ), em uma mudança histórica que direciona o país a acabar com o não alinhamento militar que durou toda a Guerra Fria.

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O anúncio, feito pela primeira-ministra Magdalena Andersson, foi feito um dia depois de o governista Partido Social-Democrata abandonar sua oposição de décadas à entrada na aliança militar. O partido afirmou esperar que o processo de adesão, estimulado pela invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro, seja rápido.

— O governo decidiu informar à Otan que a Suécia quer ser aceita como membro — disse Andersson a repórteres, acrescentando que o objetivo é sincronizar a apresentação do pedido com a Finlândia, que na véspera oficializou sua intenção de entrar na organização .

A decisão de abandonar a neutralidade militar, que tem sido um princípio central da identidade nacional sueca por dois séculos, marca uma mudança radical na percepção do público na região nórdica após o ataque da Rússia ao seu vizinho.

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— A Europa, a Suécia e o povo sueco estão vivendo agora uma nova e perigosa realidade — disse Andersson durante um debate sobre política de segurança no Parlamento nesta segunda-feira.

No entanto, ela disse que a Suécia não quer bases militares permanentes da Otan ou armas nucleares em seu território, se a adesão do país for aprovada.

Há amplo apoio no Parlamento para um pedido, embora o governo não precise de sua aprovação para prosseguir.

Mas um obstáculo surgiu antes mesmo de os pedidos chegarem à sede da Otan, em Bruxelas.

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Na sexta-feira, a Turquia surpreendeu seus aliados da Otan ao dizer que não veria os pedidos da Finlândia e da Suécia de forma positiva , citando seu histórico de abrigar membros de grupos militantes curdos.

O presidente Recep Tayyip Erdogan chamou os países escandinavos de "lar de organizações terroristas".

Os ministros de Relações Exteriores da Suécia e da Finlândia informaram que vão viajar em breve à Turquia para abordar as questões levantadas pelo país.

— Enviaremos um grupo de diplomatas para discutir e dialogar com a Turquia para que possamos ver como isso pode ser resolvido e sobre o que realmente se trata — disse o ministro da Defesa sueco, Peter Hultqvist, à emissora de serviço público SVT.

Durante um encontro em Berlim no domingo, o chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, disse que a Turquia, que entrou na Otan há 70 anos, não se opõe à política de portas abertas da aliança — algo previamente dito pelo porta-voz de Erdogan no sábado —, mas apresentou demandas para o apoio à adesão dos dois países.

Cavusoglu pediu que a Finlândia e a Suécia parem de apoiar grupos terroristas em seus territórios, ofereçam claras garantias de segurança e levantem as proibições de exportação de alguns produtos do setor de defesa ao país.

Ele afirmou que a Turquia estava apenas apontando especificicamente para o apoio ao grupo militante curdo PKK, considerado uma organização terrorista pela Turquia, União Europeia e EUA.

O PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, é um grupo de militantes e um movimento de guerrilha armada curta, e atualmente atua principalmente nas regiões montanhosas de maioria curda do Sudeste da Turquia e Norte do Iraque.

Segundo a mídia estatal turca, a Suécia e a Finlândia rejeitaram pedidos de repatriação de 33 pessoas que a Turquia alega ter ligações com grupos que considera terroristas.

Confiança

A Otan e os Estados Unidos disseram estar confiantes de que a Turquia não atrapalhará o processo de adesão da Finlândia e da Suécia — qualquer decisão sobre a ampliação da Otan requer a aprovação de todos os 30 membros da aliança e seus Parlamentos.

Diplomatas disseram que Erdogan estaria sob pressão para ceder, já que a Finlândia e a Suécia fortaleceriam muito a Otan no Mar Báltico.

— Estou confiante de que seremos capazes de abordar as preocupações que a Turquia expressou de uma maneira que não atrase a adesão — disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, no domingo.

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O debate parlamentar na Suécia — uma formalidade, pois já existe uma ampla maioria para aprovar o pedido — também deu uma chance para os dois partidos que ainda se opõem à medida expressarem suas preocupações.

— A decisão de se juntar a uma aliança com armas nucleares com regimes autoritários está sendo tomada sem a participação dos eleitores — disse o líder do Partido de Esquerda, Nooshi Dadgostar. — Existem outras maneiras de manter a Suécia segura.

Reação de Moscou

O presidente Vladimir Putin disse nesta segunda-feira que a Rússia não tem problemas com a Finlândia e a Suécia, mas que a expansão da infraestrutura militar em seu território exigiria uma reação de Moscou.

Putin, falando em Moscou em uma cúpula da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO), liderada pela Rússia, disse que a expansão da Otan é um problema para a Rússia e que o país deve examinar atentamente o que descreveu como planos da aliança militar liderada pelos EUA de aumentar sua influência mundial.