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Três candidatos se lançam na disputa pelo comando do partido de Merkel na Alemanha

Nomes incluem ex-governador, ex-ministro do Meio Ambiente e principal rival da chanceler na União Democrata Cristã; decisão acontece no dia 25 de abril
Líder interina da União Democrata Cristã, Annegret Kramp-Karrenbauer (E), e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, antes de reunião das lideranças da CDU em Berlim, no dia 24 de fevereiro Foto: ODD ANDERSEN / AFP
Líder interina da União Democrata Cristã, Annegret Kramp-Karrenbauer (E), e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, antes de reunião das lideranças da CDU em Berlim, no dia 24 de fevereiro Foto: ODD ANDERSEN / AFP

BERLIM — Em meio à mais grave crise da União Democrata Cristã (CDU) desde 2005, quando o partido chegou ao poder, três candidatos se lançaram oficialmente na disputa pelo comando da sigla — a antiga presidente, Annegret Kramp-Karrenbauer, deixou a posição no começo do mês, depois da polêmica aliança com a extrema direita no Parlamento regional da Turíngia, ponto central da crise. A votação foi marcada para o dia 25 de abril .

Friedrich Merz, candidato a liderança da CDU, durante entrevista coletiva em Berlim Foto: ANNEGRET HILSE / REUTERS
Friedrich Merz, candidato a liderança da CDU, durante entrevista coletiva em Berlim Foto: ANNEGRET HILSE / REUTERS

O mais forte nome na disputa, segundo pesquisas preliminares e na opinião de analistas, é justamente o do maior rival da chanceler Angela Merkel na sigla, Friedrich Merz , identificado com a ala mais conservadora da CDU. Ex-presidente da unidade alemã do fundo de investimentos BlackRock, o maior do mundo, chegou a abandonar a política partidária em 2009, retornando nove anos depois para disputar a liderança da sigla. Acabou derrotado por Kramp-Karrenbauer, o que não impediu que mantivesse suas críticas a Merkel. Caso seja escolhido, pode marcar uma guinada mais incisiva à direita do maior partido conservador do país, potencialmente atraindo eleitores da extrema direita, representada pela Alternativa para a Alemanha, e mesmo do Partido Democrático Liberal , visto como pró-mercado.

Norbert Röttgen, ex-ministro do Meio Ambiente e candidato à liderança da CDU, durante marcha em homenagem às vítimas dos ataques em Hanau, no dia 20 de fevereiro Foto: DAVID GANNON / AFP
Norbert Röttgen, ex-ministro do Meio Ambiente e candidato à liderança da CDU, durante marcha em homenagem às vítimas dos ataques em Hanau, no dia 20 de fevereiro Foto: DAVID GANNON / AFP

Por outro lado, Norbert Röttgen , o primeiro a anunciar a candidatura, é considerado uma surpresa na corrida. Atual presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, já atuou como ministro do Meio-Ambiente e pode ser um caminho para eventual aliança com os Verdes, que caminham para se tornarem a segunda força no Legislativo — na década de 1990, fez parte de um grupo da CDU que realizou uma série de encontros com representantes do partido, conhecidos como "Pizza Connection". O objetivo era estabelecer as bases para uma eventual coalizão de governo que jamais foi concretizada.

Governador da Renânia do Norte-Vestfália e vice-presidente da CDU, Armin Laschet fala durante entrevista coletiva em Berlim Foto: ODD ANDERSEN / AFP
Governador da Renânia do Norte-Vestfália e vice-presidente da CDU, Armin Laschet fala durante entrevista coletiva em Berlim Foto: ODD ANDERSEN / AFP

O terceiro nome na corrida pela liderança da CDU é o do governador do estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália: Armin Laschet . Considerado o mais próximo de Angela Merkel, esteve ao seu lado em momentos difíceis, como durante a crise na Grécia, quando não eram poucos os defensores da expulsão do país da União Europeia. Também defendeu a política de "portas abertas", que permitiu a entrada de cerca de um milhão de refugiados sírios desde 2015, e tem visões favoráveis à imigração. Contudo, ele lançou a candidatura com o apoio de Jens Spahn , que também era cotado para a eleição e é um crítico das políticas atuais para refugiados. Para analistas, essa união pode ser uma estratégia para atrair os eleitores de centro e os mais identificados com políticas mais conservadoras.

Futuro de Merkel

Apesar de ser a tradição, os candidatos à liderança da CDU não disseram se vão se candidatar ao posto de chanceler depois das eleições gerais de 2021, quando deve deixar o cargo. Sua sucessora natural era Annegret Kramp-Karrenbauer , desde 2018 à frente da sigla, mas uma série de eventos na Turíngia provocou uma tempestade de proporções históricas.

No começo do mês, deputados da CDU na Assembleia regional se uniram à Alternativa para a Alemanha para derrotar o candidato do partido A Esquerda, Bodo Ramelow, que buscava mais um mandato à frente do governo do estado. Em seu lugar, Thomas Kemmerich , do Partido Democrático Liberal (FDP), acabou eleito, mas a aliança pegou de surpresa não apenas os adversários, mas a própria liderança nacional da CDU, que informalmente veta alianças com a extrema direita e com A Esquerda , que tem suas origens no Partido Comunista da antiga Alemanha Oriental.

A manobra foi condenada pelos altos escalões da CDU, inclusive por Merkel , que defendeu uma nova escolha. Kemmerich deixou o cargo pouco depois, mas o estrago estava feito. Em seguida, a própria Kramp-Karrenbauer anunciou sua renúncia ao comando do partido e que não concorreria mais ao posto de chanceler.

O primeiro impacto da confusão entre os conservadores veio na eleição regional de Hamburgo, na semana passada, quando a sigla foi relegada ao posto de terceira força , atrás do Partido Social-Democrata (SPD) e dos Verdes. para tentar aplacar a crise, foi anunciada uma eleição interna para o dia 25 de abril.

Outro ponto em questão hoje é sobre o futuro de Merkel antes das eleições gerais de 2021. Ela diz que planeja cumprir seu mandato até o fim, e oficialmente todos os pré-candidatos concordam. Porém, uma eventual vitória de Merz colocaria em risco a relação entre a CDU e o governo — o rival da chanceler pode questionar de maneira mais incisiva as decisões de seu Gabinete, enfraquecendo seu apoio no Parlamento. Tal manobra pode até mesmo levar a eleições antecipadas, uma vez que o SPD , aliado da CDU no governo, disse que vai sair da aliança caso Merkel "seja afastada do posto".

Nesta terça, Merz tentou passar uma mensagem mais diplomática.

— Caso eu seja eleito, então teremos que ter a responsabilidade política com o Estado, que é maior que a que nós temos como indivíduos. Espero que encontremos uma forma razoável de chegar a um entendimento.