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Xi oferece ajuda a Trump no combate à Covid-19 em meio a tensões diplomáticas

Enquanto EUA se tornam país com maior número de casos da doença, China reabre entrada em Wuhan ; especialistas, no entanto, temem subnotificação no país
Em uma loja de Moscou, bonecos de papel de Trump e Xi usam máscaras Foto: EVGENIA NOVOZHENINA / REUTERS
Em uma loja de Moscou, bonecos de papel de Trump e Xi usam máscaras Foto: EVGENIA NOVOZHENINA / REUTERS

WASHINGTON e PEQUIM — O presidente da China, Xi Jinping , ofereceu ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , a ajuda de seu país no combate à pandemia de Covid-19 . A conversa telefônica ocorreu horas após os EUA se tornarem a nação com mais infectados pelo novo coronavírus, passando de 90 mil casos , enquanto a cidade chinesa de Wuhan, marco zero da doença, começa a sair do isolamento total .

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O telefonema no qual Xi ofereceu auxílio aos americanos veio em meio a uma guerra de palavras entre Washington e Pequim, na qual o novo coronavírus assume um papel de destaque. Os americanos acusam os chineses de pouca transparência frente à crise, enquanto Trump insiste em chamar o Sars-CoV-2 de “vírus chinês” – alcunha considerada racista.

Segundo a revista alemã Der Spiegel, os países do G7 não teriam soltado um comunicado conjunto após se reunirem virtualmente no início da semana em razão da insistência do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, de se referir ao vírus como “vírus de Wuhan”. Representantes do governo chinês, por sua vez, chegaram a sugerir, sem provas, que o Sars-CoV-2 teria sido implantado em seu território por militares americanos.

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'Muito respeito'

Durante o telefonema, de acordo com a mídia estatal chinesa, Xi teria dito ao seu par americano que a China vem sendo aberta e transparente sobre a pandemia e pediu “uma resposta coletiva da comunidade internacional” para fazer frente à crise sanitária. Trump, por sua vez, disse em seu Twitter que ambos discutiram “em vastos detalhes” o panorama desencadeado pelo novo coronavírus:

“A China tem passado por muita coisa e desenvolveu um forte conhecimento do vírus. Nós estamos trabalhando em conjunto. Muito respeito!”, escreveu o presidente, que postergou o telefonema com Xi por 90 minutos para fazer uma participação ao vivo no canal conservador Fox News.

A conversa também pautou Taiwan, outro ponto de fricção entre Washington e Pequim. Trump assinou na quinta-feira a “Lei de Iniciativa para a Proteção Internacional e Melhora dos Aliados de Taiwan” – a lei Taipé. A medida expressa o apoio de Washington ao fortalecimento das relações internacionais da ilha que, apesar de ser um Estado independente, é vista pela China como parte inalienável de seu território. Hoje, Taiwan tem relações diplomáticos formais com apenas 15 países, entre os quais os EUA não estão incluídos.

– Instamos os EUA a corrigirem seus erros, a que não ponham em atividade esta lei ou obstruam o desenvolvimento de laços entre a China e outros países – disse nesta manhã o porta-voz da Chancelaria chinesa, Geng Zhuang. – Caso contrário, encontraram inevitavelmente uma resposta decidida da China.

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Medo de subnotificações

A conversa de Trump e Xi aconteceu horas após a entrada de carros ser reaberta em Wuhan, onde o primeiro caso de Covid-19 foi registrado no início de dezembro. Ainda não é possível, no entanto, sair de lá: o fim total das restrições de locomoção entrará em vigor no dia 8 de abril, após uma quarentena que começou no dia 23 de janeiro.

Com medidas draconianas de contenção, a China conseguiu, ao menos aparentemente, controlar os efeitos da pandemia em seu marco zero. O país registrou nesta sexta-feira seu primeiro caso de transmissão local em três dias, além de 54 casos importados de Covid-19 – 13  a menos que no dia anterior. Frente a um temor de que pessoas que retornassem do exterior pudessem desencadear uma nova onda da doença, a China suspendeu cerca de 90% dos voos internacionais para o país, limitando o número de rotas para apenas uma por país.

Especialistas, no entanto, alertam que o cenário no país do Sul Asiático talvez não esteja tão controlado assim: além do governo não contabilizar casos assintomáticos, relatos de médicos  e enfermeiros de Wuhan sugerem que há uma subnotificação da doença na cidade, o que faz o cenário parecer controlado. Isso gera temor de que uma reabertura precipitada da região possa gerar uma nova explosão de infecções. O governo nega que esteja omitindo os casos.