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A três semanas da eleição, candidato de Merkel apresenta equipe política para tentar recuperação nas pesquisas

Nomes não vão necessariamente compor um possível Gabinete, mas serão os rostos para políticas relacionadas a assuntos considerados importantes pela CDU
Candidato conservador ao governo da Alemanha, Armin Laschet, ao lado de sua equipe de campanha; da esquerda para a direita: Andreas Jung, Dorothee Baer, Peter Neumann, Karin Prien, Laschet, Barbara Klepsch, Joe Chialo, Silvia Breher e Friedrich Merz Foto: JOHN MACDOUGALL / AFP
Candidato conservador ao governo da Alemanha, Armin Laschet, ao lado de sua equipe de campanha; da esquerda para a direita: Andreas Jung, Dorothee Baer, Peter Neumann, Karin Prien, Laschet, Barbara Klepsch, Joe Chialo, Silvia Breher e Friedrich Merz Foto: JOHN MACDOUGALL / AFP

BERLIM — Armin Laschet, líder do partido governista alemão União Democrata Cristã (CDU), buscou ressuscitar nesta sexta-feira sua titubeante campanha para substituir a chanceler Angela Merkel, que decidiu não concorrer à reeleição após 16 anos no poder. A três semanas das eleições de 26 de setembro, Laschet apresentou uma equipe política, tentando se recuperar nas pesquisas após ser ultrapassado pelo Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda.

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O grupo é composto por quatro homens e quatro mulheres que, segundo a CDU, serão o rosto das políticas referentes a questões importantes no debate público alemão, como o combate à crise climática, segurança, economia e políticas sociais. O partido reforça que eles não serão necessariamente componentes de um possível Gabinete, mas que fazem parte de uma estratégia de se concentrar em assuntos-chave em vez de personalidades.

O mais famoso entre os anunciados é Friedrich Merz, um antagonista de Merkel que por pouco perdeu duas disputas para chefiar o partido. Ele é bastante popular com a base partidária insatisfeita com o moderado Laschet, alvo de críticas pelo que muitos afirmam ser uma campanha marcada por gafes e derrapadas, e prometeu promover um Orçamento equilibrado, o “euro estável” e a austeridade fiscal.

Já Laschet, durante o anúncio da equipe em uma cerimônia em Berlim, desafiou o candidato social-democrata, Olaf Scholz, a seguir seus passos:

— Espero ansiosamente para ver nos próximos dias quais nomes o SPD tem para oferecer (...). Há muitas pessoas se escondendo neste momento —  disse o candidato, ao lado de sua equipe, alinhada propositalmente para formar a letra “V”. — Nós vamos lutar juntos para que, em 26 de setembro, não haja uma aliança de esquerda na Alemanha.

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Scholz é ministro da Fazenda no atual governo de coalizão entre a CDU e o SPD e tem vários caminhos possíveis para formar uma coalizão caso saia vitorioso das urnas. No entanto, quando pressionado durante o debate do último domingo, não rejeitou firmar uma aliança com o Die Linke (A Esquerda, legenda que tem sua origem no antigo Partido Comunista da Alemanha Oriental).

Em um raro posicionamento de campanha no início desta semana, Merkel foi uma das várias conservadoras a rechaçar o posicionamento de Scholz. Para a CDU, levar A Esquerda para o governo central significaria um grande afastamento da tendência centrista da Alemanha, embora a sigla esteja presente em coalizões com os social-democratas em nível estadual e na capital, Berlim.

As críticas, contudo, não têm surtido muito efeito para reduzir a vantagem do SDP. Os conservadores caíram de 34% para 21% nas intenções de voto e são superados em dois pontos pelos sociais-democratas, segundo levantamento do instituto Forsa.

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Além de Merz, os outros sete integrantes da equipe recém-apresentada pela CDU são relativamente desconhecidos no cenário nacional. Entre eles está Joe Chialo, músico berlinense que concorre ao Parlamento, e a única pessoa negra entre os oito nomes anunciados, e o especialista em terrorismo Peter Neumann. Completam a lista as ministras da Educação da Saxônia e de Schleswig-Holstein, Barbara Klepsch  e Karin Prien, respectivamente; o parlamentar Andreas Jung, e a ministra para a Digitalização, Dorothee Bär.

A apresentação desta sexta-feira não é comum em uma fase tão tardia da campanha e vem menos de uma semana após o fraco desempenho de Laschet no debate do último domingo, que sedimentou Scholz como favorito.

O candidato da CDU liderava as pesquisas até o meio de julho, quando grandes inundações deixaram mais de 180 mortos no país. Nesta sexta, Merkel, que ainda desfruta de popularidade recorde, começou uma visita às regiões mais afetadas, com a missão de restaurar a confiança em seu partido.

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Nesta sexta, foi à cidade de Altenahr, na região da Renânia-Palatinado, e no domingo, seguirá para a vizinha Renânia do Norte-Vestfália, a maior da Alemanha e atualmente sob o comando de Laschet. Será um teste para o candidato, que poucos dias após a catástrofe se envolveu em uma gafe ao ser flagrado pelas câmeras rindo durante um discurso do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, em homenagem às vítimas das enchentes.

O conservador também foi tomado como alvo da indignação das vítimas, que reclamam da lentidão do auxílio governamental e da falta de medidas de prevenção, o que levou à abertura de uma investigação judicial. À AFP, um dos moradores o acusou de ser um "megainútil" que vai pagar "a conta nas eleições". (Com agências internacionais)