Mundo Vacina

América do Sul é a região global com maior índice de vacinação contra a Covid-19

Cultura de vacinação regional e infraestrutura de aplicação fazem com que países registrem índices superiores aos da Europa e dos Estados Unidos
Profissional da saúde fala com menino de 7 anos após ele receber a vacina contra o coronavírus em Buenos Aires Foto: AGUSTIN MARCARIAN / Reuters 15-10-21
Profissional da saúde fala com menino de 7 anos após ele receber a vacina contra o coronavírus em Buenos Aires Foto: AGUSTIN MARCARIAN / Reuters 15-10-21

Após registrar os índices mais altos de mortes pela Covid-19 durante grande parte de 2020 e o início de 2021, a América do Sul agora lidera outro ranking: apesar dos serviços de saúde desiguais e de ter níveis de renda muito mais baixos do que a Europa e os Estados Unidos, a região é a líder global em taxa de vacinação.

Mais de 63% da população sul-americana está totalmente inoculada contra o coronavírus, e 12% receberam apenas uma dose de vacina, totalizando 75% de imunizados, de acordo com o projeto Our World in Data, da Universidade de Oxford, que coleta números oficiais de governos de todo o mundo.

Os índices são melhores do que os da América do Norte, onde 58% estão totalmente imunizados, do que os da Ásia (55% totalmente imunizados) e do que os da Europa (61% totalmente imunizados).

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Como resultado, as taxas de infecção e mortalidade despencaram em comparação com meados do ano. Em meados de 2021, a América do Sul registrava um terço das mortes globais para a Covid-19, apesar de só ter 8% da população mundial. Atualmente, o número acumulado de óbitos na região desde o começo da pandemia está abaixo de um quinto do total global.

Epidemiologistas apontam vários fatores para explicar os sucessos das campanhas de vacinação. Mas o mais importante, dizem eles, foram décadas de campanhas de vacinação bem-sucedidas, que criaram a infraestrutura necessária para oferecer aplicações em massa, ao mesmo tempo que inspiravam confiança na população.

Assim como no Brasil, onde parte da população atualmente diz com orgulho haver uma “cultura de vacinação” — não compartilhada pelo presidente Jair Bolsonaro, possivelmente o único chefe de Estado mundial que diz publicamente que não se vacinou —, outros países da região já tinham feito vastas campanhas de inoculação após surtos de doenças infecciosas nas últimas décadas.

— Essa confiança, construída ao longo de vários anos, baseia-se nos benefícios de nosso extenso sistema de vacinação — disse Leda Guzzi, especialista em doenças infecciosas de Buenos Aires.

O Chile é o campeão da vacinação no continente, posição que ocupou desde o começo do ano. Atualmente, só os Emirados Árabes Unidos, Cuba e Portugal, em todo o mundo, registram índices de vacinação melhores do que os 90% do país na beira do Pacífico.

O Chile também é o país com maiores índices percentuais de doses de reforço do mundo. Após usarem principalmente a vacina chinesa Coronavac para inocular a população, no dia 11 de agosto o governo chileno começou a aplicar doses da AstraZeneca e da Pfizer. Atualmente, mais de 50% da população chilena já tomou a dose de reforço.

Peru e Equador, que registraram alguns dos momentos mais dramáticos da pandemia, hoje estão entre os países que mais vacinaram. O Peru ainda é o país com maior índice de mortes per capita para o vírus do mundo.

Apesar dos altos índices de vacinação, a variante Ômicron representa uma nova preocupação para a região. Em países da Europa com índices semelhantes de vacinação, como o Reino Unido, onde 69% da população está totalmente imunizada, a variante se espalhou rapidamente, ainda que isso não tenha se traduzido em um aumento substancial no número de mortes.

Esta segunda-feira registrou o maior número de novos casos do coronavírus desde o começo da pandemia. Estudos indicam que a Ômicron pode se espalhar até 70 vezes mais rápido do que o coronavírus comum e driblar a imunidade de infecções anteriores. Isso pode ser uma má notícia em uma região onde o vírus se espalhou muito no começo da pandemia.

— Muitas pessoas, principalmente em comunidades vulneráveis no Brasil, foram infectadas — disse Albert Ko, epidemiologista da Universidade Yale e pesquisador colaborador da Fiocruz. — Vemos esse vírus infectando pessoas que já haviam sido infectadas antes.

Entre as crianças, as taxas de vacinação também variam dramaticamente de país para país. Em função de entraves do governo federal, o Brasil tem sido considerado lento nesse sentido, sem autorização do Ministério da Saúde para vacinar crianças mesmo após a aprovação da Anvisa. A Colômbia, por outro lado, é um dos poucos países do mundo que já vacina crianças de três anos

A Bolívia, também o país mais pobre da região, registra os piores índices de vacinação da América do Sul. Outros países têm se solidarizado com a situação boliviana. Nesta segunda-feira, a companhia chinesa Sinopharm anunciou a doação de 3 milhões de doses para a Bolívia, a serem usadas principalmente em crianças. Na semana passada, o governo da Argentina anunciou a doação de um milhão de doses da AstraZeneca para a Bolívia.