Mundo Guerra na Ucrânia

Após iniciativas diplomáticas, Macron anuncia que Biden e Putin concordaram com uma reunião sobre a Ucrânia

Comunicado do Palácio do Eliseu não aponta para datas, mas detalha que conteúdo do encontro será definido por chanceler russo e secretário de Estado; Casa Branca diz que cúpula só acontece se não houver guerra
Presidente da França, Emmanuel Macron, durante reunião em Bruxelas no dia 18 de fevereiro Foto: POOL / REUTERS
Presidente da França, Emmanuel Macron, durante reunião em Bruxelas no dia 18 de fevereiro Foto: POOL / REUTERS

PARIS — O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou na noite deste domingo, que os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e dos EUA, Joe Biden, concordaram, em princípio, com uma reunião de cúpula para discutir a situação na Ucrânia. De acordo com comunicado emitido pelo Palácio do Eliseu, a proposta foi feita aos dois líderes durante conversas por telefone, durante mais uma iniciativa diplomática de Paris para tentar resolver a crise e evitar uma guerra.

"Ele [Emmanuel Macron] propôs uma reunião a ser realizada pelo presidente Biden e pelo presidente Putin, e depois com os agentes relevantes, para discutir a segurança e a estabilidade estratégica na Europa", afirmou o texto. "Os presidentes Biden e Putin aceitaram o princípio de tal encontro."

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Segundo o Eliseu, o chanceler russo,  Sergei Lavrov, e o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, vão discutir os termos da reunião em um encontro presencial, marcado para o dia 24 de fevereiro. O anúncio ocorre duas semanas depois de uma visita de Emmanuel Macron a Putin, em Moscou.

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Ao comentar a proposta francesa, a Casa Branca confirmou que havia concordado em princípio com a cúpula, mas sinalizou que não vai deixar de lado a postura dura em relação a Moscou: em comunicado, a secretária de Imprensa, Jen Psaki, deixou claro que não haverá um encontro caso a Rússia decida invadir a Ucrânia.

"Nós estamos sempre prontos para a diplomacia. Também estamos prontos para aplicar consequências diretas e severas caso a Rússia escolha a guerra. E, hoje, a Rússia parece continuar com os preparativos para uma invasão de grande porte da Ucrânia, daqui a pouco tempo", afirmou Psaki. Em comentários de bastidores para a imprensa, o governo americano reitera que a proposta de um encontro é algo que se encontra em um estágio embrionário, e que todos os detalhes práticos precisam ser defindos.

A Presidência francesa também afirmou que não haverá reunião se uma guerra tiver início. O Kremlin ainda não se pronunciou, mas a imprensa russa deu destaque ao anúncio de Paris.

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Apesar da troca frequente de acusações sobre as responsabilidades na atual crise envolvendo a Ucrânia, EUA e Rússia mantiveram abertos os canais diplomáticos, inclusive entre seus líderes : Biden e Putin conversaram por telefone em diversas ocasiões nos últimos meses — na semana retrasada, Biden apontou que uma eventual invasão traria altos custos a Moscou, e produziria "grande sofrimento humano" e "diminuiria a posição da Rússia" no cenário internacional.

Putin, por sua vez, atacou o que chamou de "histeria" dos EUA, se referindo aos alertas emitidos pelo governo americano para o risco de uma guerra, e pressionou pela aceitação da sua lista de demandas de segurança, ponto central na crise.

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No final do ano passado, o líder russo detalhou uma lista com demandas de segurança de Moscou à Europa e aos EUA: além de exigir a saída das tropas da Otan dos países do Leste Europeu, citando um suposto acordo feito entre a ex-União Soviética e os EUA em 1990, o líder russo quer que a Ucrânia jamais seja aceita na aliança militar. O país apresentou sua candidatura em 2008, e mesmo antes da crise com Moscou, não tinha grandes chances de ser aceito.

Até o momento, os países ocidentais se recusam sequer a discutir as demandas russas, o que provocou críticas duras vindas de Moscou, colocando em xeque um possível acordo diplomático — ao mesmo tempo, como mostram declarações de diplomatas, há espaço para a discussão de outros tópicos centrais para a segurança coletiva na região, como sobre novos sistemas de controle de armas nucleares de curto e médio alcance.