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Após pressão, mulher de ministro das Finanças britânico aceita pagar impostos sobre sua receita no exterior

Akshata Murphy recebeu o equivalente a R$ 71 milhões em dividendos em 2021; críticas à sua situação fiscal surgiram com o plano do governo de aumento de tributação em meio à inflação em alta
O ministro das Finanças, Rishi Sunak, e a mulher, Akshata Murthy: rendimentos dela no exterior serão tributados no Reino Unido Foto: POOL / REUTERS/9-2-2022
O ministro das Finanças, Rishi Sunak, e a mulher, Akshata Murthy: rendimentos dela no exterior serão tributados no Reino Unido Foto: POOL / REUTERS/9-2-2022

LONDRES — Akshata Murthy, mulher do ministro das Finanças britânico, Rishi Sunak, disse nesta sexta-feira que deixará de evitar a cobrança de impostos britânicos sobre a renda que obtém no exterior. Dessa maneira, Akshata cede a uma pressão que seu marido havia chamado de “difamação política”.

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A crítica generalizada sobre o status fiscal de Akshata foi aumentada pela decisão de seu marido de aumentar os impostos sobre a folha de pagamento em um momento em que a inflação crescente deixa os britânicos enfrentando o maior aperto no custo de vida desde que os registros começaram, em 1956.

Akshata, cidadã indiana, é elegível para o chamado status de "não domiciliado" na Grã-Bretanha, benefício disponível para estrangeiros que não consideram a Grã-Bretanha como seu lar permanente. Isso permitiu que ela optasse por pagar o imposto do Reino Unido apenas sobre a renda que auferiu ou transferiu para a Grã-Bretanha.

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Filha de um dos fundadores da gigante indiana de TI Infosys, o bilionário indiano Narayana Murthy, Akshata detém cerca de 0,9% da empresa — o que lhe deu direito a dividendos no valor de 11,6 milhões de libras (R$ 71 milhões) no ano passado.

Em um comunicado nesta sexta-feira, após dois dias de cobertura crítica da mídia, Akshata disse que pagaria impostos britânicos sobre sua renda global, incluindo dividendos e ganhos de capital, para o ano fiscal de 2021/22 e no futuro.

— Eu entendo e aprecio o senso britânico de justiça e não desejo que meu status fiscal seja motivo de perturbação para meu marido ou afete minha família — disse ela.

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Akshata disse que seus acordos fiscais anteriores eram "totalmente legais" e que ela continuaria a reivindicar a Índia, não a Grã-Bretanha, como seu domicílio. Sunak disse anteriormente que pretende voltar à Índia para cuidar de seus pais quando eles ficarem enfermos.

Altos e baixos

Sunak foi apontado como sucessor do primeiro-ministro Boris Johnson, cuja própria posição foi questionada após críticas generalizadas sobre festas ilegais realizadas em Downing Street durante os bloqueios do Covid-19 e uma série de outros escândalos.

Depois de receber aplausos por uma resposta firme à pandemia, os índices de pesquisa de Sunak despencaram enquanto ele enfrenta desafios em muitas frentes, com a carga tributária chegando ao seu nível mais alto desde a década de 1940.

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Também nesta sexta-feira, Sunak disse em entrevista que os investimentos financeiros de sua esposa eram separados dos dele, e que perguntas sobre a riqueza de seu sogro e os acordos fiscais de sua esposa seriam tentativas de prejudicá-lo politicamente.

— Tentar difamá-lo e difamar minha esposa para chegar até mim é horrível, certo? — disse ele ao jornal The Sun.

O status de não domiciliado no Reino Unido isenta mais de 75 mil cidadãos, a maioria estrangeiros, do imposto sobre a renda no exterior, e tem sido um alvo para crítico da política fiscal, pois beneficia esmagadoramente os muito ricos.

O Partido Trabalhista de oposição da Grã-Bretanha — que pediu o fim do status de não domiciliado — disse que, se Akshata estiver sendo verdadeira ao aceitar que seus acordos fiscais eram injustos, ela também deveria pagar o imposto britânico que evitou nos últimos anos.

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Johnson disse que não sabia que Akshata tinha status de não domicílio e rejeitou sugestões que seu próprio escritório havia informado contra Sunak.

— Rishi está fazendo um trabalho absolutamente excepcional — disse ele.

Sunak também confirmou relatos da mídia de que ele só desistiu de um “green card” para os Estados Unidos — um status de imigração destinado a residentes permanentes nos EUA — depois que se tornou ministro das Finanças da Grã-Bretanha em 2020.

Um porta-voz de Sunak disse que ele pagou seus impostos integralmente e não infringiu qualquer lei ou regulamento.