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Biden anuncia o fim do apoio dos EUA à Arábia Saudita na guerra do Iêmen

Presidente também suspende retirada de tropas americanas  da Alemanha e anuncia expansão do programa de recepção de refugiados
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em discurso no Departamento de Estado nesta quinta-feira Foto: TOM BRENNER / REUTERS
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em discurso no Departamento de Estado nesta quinta-feira Foto: TOM BRENNER / REUTERS

O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou na tarde desta quinta-feira o fim do apoio americano à intervenção militar liderada pela Arábia Saudita na guerra do Iêmen, assim como a suspensão da retirada de tropas alojadas na Alemanha e uma expansão do número de refugiados aceitos anualmente em solo americano.

Depois de priorizar questões internas por duas semanas, Biden visitou o Departamento de Estado, com o propósito de trabalhar em questões de política externa. Lá, fez um discurso à tarde, abordando as prioridades do país.

As medidas mais relevantes anunciadas relacionam-se à participação militar saudita na guerra do Iêmen. Na semana passada, o Departamento de Estado anunciou a revisão de vendas de armas para Riad, autorizada por Trump nos dias finais de seu mandato. Desta vez, Biden disse que os EUA irão  "continuar a ajudar a Arábia Saudita a defender a sua soberania" de ataques de mísseis apoiados pelo Irã, mas anunciou o fim do apoio a “operações ofensivas” no Iêmen, destacando a suspensão indefinida de “vendas de armas relevantes”.  O presidente também anunciou a nomeação de Tim Lenderking, um diplomata de carreira experiente, como enviado especial ao Iêmen.

—Estamos reforçando nossa diplomacia para acabar com a guerra no Iêmen,  uma guerra que criou uma catástrofe humanitária e estratégica — disse Biden. — Esta guerra precisa acabar. Para ressaltar nosso compromisso, estamos encerrando todo o apoio americano às operações ofensivas na guerra do Iêmen, incluindo a venda de armas relevantes.

Vítimas de bombardeios e ativistas denunciam que muitos explosivos usados na guerra, ininterrupta desde 2014, são fornecidos pelos Estados Unidos. As Nações Unidas consideram a guerra no Iêmen a pior crise humanitária em curso no mundo, e cerca de 80% da população do país sobrevive com ajuda humanitária. À frente de uma coalizão de países árabes sunitas, os sauditas intervieram no país em 2015, contra a guerrilha houthi, que derrubou um governo pró-Riad e desde então controla a capital, Sanaa.

Biden também anunciou a suspensão da retirada de 12 mil soldados americanos da Alemanha, um terço do contingente naquele país. A medida foi anunciada por Donald Trump em julho de 2020, sob o argumento de que o país europeu não cumprira a meta de gastos de defesa da Otan, de 2% do PIB, ao mesmo tempo em que obtinha vantagens comerciais dos Estados Unidos.

A ação de Trump foi vista  como hostil aos aliados europeus dos EUA. Desde a Segunda Guerra, Washington considera a Alemanha um dos locais mais estratégicos no exterior, constituindo um centro de logística para movimentos de tropas não apenas na Europa, mas também no Oriente Médio, na África e em outros lugares.

Outra ordem executiva anunciada foi uma expansão do programa de admissões de refugiados nos EUA, que voltará a admitir até 125 mil pessoas por ano, assim como o fazia na era pré-Trump. Biden disse que a medida tem o objetivo de “ajudar a responder à necessidade global sem precedentes”.

— Levará tempo para recuperar o que foi tão firmemente abalado — afirmou Biden.

Sobre o clima, Biden reiterou que irá promover um encontro de líderes globais no Dia da Terra (22 de abril), para abordar as mudanças climáticas.

— Os EUA devem liderar frente a essa ameaça existencial. Assim como a pandemia, ela requer cooperação global.

Biden também citou a entrega de um memorando presidencial a agências americanas para “reforçar a liderança internacional” do país em assuntos LGBTQI. O ativismo americano internacional em pautas de gênero pode significar choques com a diplomacia brasileira, que, desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência, tem atuado para bloquear o avanço de reivindicações de minorias, por vezes se aliando a países com governos fundamentalistas, como a própria Arábia Saudita.

Mais uma vez, o presidente não mencionou o Brasil, assim como não o fez publicamente nenhuma vez desde que tomou posse.

Biden abordou ainda outras prioridades americanas. Disse que o seu governo irá “enfrentar diretamente os desafios colocados à nossa prosperidade, segurança e valores democráticos por nosso competidor mais sério, a China".

— Mas estamos prontos para trabalhar com Pequim, quando for do interesse dos Estados Unidos fazê-lo — acrescentou.

Sobre a Rússia, Biden disse ter “deixado claro para o presidente [Vladimir] Putin, de de uma forma muito diferente do meu antecessor, que acabou o tempo em que os Estados Unidos se submetiam aos atos agressivos da Rússia, como envenenamento de opositores e ciberataques”. Ele pediu ainda a libertação imediata e incondicional de Alexey Navalny.

Biden condenou também o golpe militar em Mianmar.

— Não pode haver dúvida: numa democracia, a força nunca deve procurar anular a vontade do povo ou tentar apagar o resultado de uma eleição confiável. Os militares birmaneses precisam abrir mão do poder —disse.