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Biden convoca cúpula climática para abril e diz que EUA precisam liderar ações globais para o meio ambiente

Casa Branca anuncia uma série de medidas relacionadas à reduçao de emissões, incluindo troca de frota de veículos do governo por modelos elétricos e suspensão de licenças de exploração de petróleo
Joe Biden anuncia pacote de medidas para o clima em discurso na Casa Branca. Atrás na imagem o czar do clima, John Kerry, e a vice-presidente Kamala Harris Foto: KEVIN LAMARQUE / REUTERS
Joe Biden anuncia pacote de medidas para o clima em discurso na Casa Branca. Atrás na imagem o czar do clima, John Kerry, e a vice-presidente Kamala Harris Foto: KEVIN LAMARQUE / REUTERS

WASHINGTON — Em mais uma demonstração de que a questão climática será parte fundamental das políticas do seu governo, o presidente americano Joe Biden anunciou  uma série de medidas dentro da estratégia de reduzir as emissões de gases do efeito estufa e de incentivar a chamada "economia verde". Ele ainda confirmou a realização de uma reunião de líderes para discutir o clima, em abril, para demonstrar que o país pretende ser líder no tema, que foi abandonado no governo de Donald Trump, enquanto europeus e chineses ocupavam espaço nas iniciativas internacionais.

— Para mim, já esperamos demais para lidar com a crise climática — declarou Joe Biden, ao assinar decretos executivos com medidas para o clima, na Casa Branca. — Não podemos esperar mais. Esse é um caso em que a consciência e a conveniência se cruzam, em que lidar com a ameaça existencial ao nosso planeta e aumentar nosso crescimento econômico e prosperidade são a mesma coisa. Quando penso na mudança climática e nas respostas a ela, penso em empregos.

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O presidente deixou claro que, a partir de agora, a questão climática será um dos pilares da administração pública, passando pela diplomacia, economia e segurança nacional — o Pentágono incluirá a mudança climática em suas simulações de conflitos. Biden ressaltou o potencial que as ações rumo a uma economia limpa possuem para gerar empregos, renda e recuperar parte do prestígio dos EUA no mundo. Para ele, os EUA devem liderar os esforços climáticos no planeta, mesmo que isso gere alguns problemas em casa.

A cúpula de líderes sobre o clima proposta por Biden está prevista para o dia 22 de abril, quando se marca o Dia da Terra. Não há informação ainda sobre quais países serão convidados para o evento.

Um dos pontos anunciados nesta quarta foi uma série de limites à exploração de petróleo e gás em terras federais e nas costas americanas, revertendo uma política dos tempos de Trump. Também será feita uma revisão de todos os subsídios existentes ao setor, além do lançamento de incentivos a formas consideradas limpas de geração de energia. Ao mesmo tempo, Biden confirmou que não vai proibir o fraturamento hidráulico, técnica usada para a exploração de gás que é vista como nociva ao meio ambiente, mas que é um tema sensível em vários estados.

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A reação de entidades que representam a indústria petrolífera foi imediata.

— Isso é ruim para nossa economia. Isso é ruim para nossa segurança nacional. Isso é ruim para nosso ambiente e comunidades locais — declarou Mike Sommers, presidente do Instituto Americano do Petróleo, que reúne 600 empresas do setor, em entrevista coletiva.

Troca da frota

Em uma semana na Casa Branca, Biden já assinou mais de 40 decretos executivos, em áreas que incluem a pandemia da Covid-19, imigração, economia e desigualdade social e racial. Muitos foram para reverter medidas adotadas por Trump, como a retirada dos EUA do Acordo do Clima de Paris.

Os decretos assinados nesta quarta na área do meio ambiente incluem uma ordem para que os órgãos do governo federal deem início à substituição dos veículos movidos a combustíveis fósseis por modelos elétricos e com emissão zero de gases, "para criar empregos com bons salários e sindicalizados, e incentivar a indústria de energia limpa".

Biden diz esperar que as mudanças sejam incorporadas também pela população, com carros que não emitam gases poluentes, construções verdes e fontes sustentáveis de energia. O presidente ainda anunciou que 84% da capacidade elétrica a ser incorporada à rede nacional virão de fontes limpas — fontes essas que serão exploradas pelo governo federal, com o objetivo de tornar o país "o maior exportador desse tipo de tecnologia no mundo".

Para incentivar as empresas locais, o governo vai recomendar que essa transição econômica ocorra em parceria com empresas baseadas nos EUA, o que lhe rende apoio entre o empresariado.

O compromisso de Biden com uma mudança nas bases da economia americana, que passaria ser voltada para um modelo "verde", vem desde a campanha, embora tenha sido um pouco menos ambicioso do que o "New Deal Verde" defendido pelos setores progressistas do Partido Democrata.

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No comunicado divulgado antes da fala de Biden, a Casa Branca ainda confirmou o compromisso dos EUA sob o Acordo de Paris, abandonado por Trump, de  reduzir em 28% as emissões americanas de gases de efeito estufa até 2025, neutralizar as emissões provocadas pela geração de eletricidade em 2035 e tornar a economia do país neutra em carbono até 2050. Pelo plano, todas as agências federais terão a justiça ambiental como parte de sua missão a partir de agora, sendo orientadas a desenvolver políticas voltaras à redução dos impactos ambientais em comunidades de baixa renda, além de ações ligadas à saúde e economia.