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Bolsonaro ataca México após asilo a Morales: 'Lá a esquerda tomou conta de novo'

Governo mexicano tomou decisão alegando razões humanitárias; Bolsonaro sugere que Morales 'vá para Cuba'
Jair Bolsonaro atacou decisão do México de conceder asilo político a Evo Morales, anunciada nesta segunda-feira Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERS
Jair Bolsonaro atacou decisão do México de conceder asilo político a Evo Morales, anunciada nesta segunda-feira Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERS

BRASÍLIA — O  presidente Jair Bolsonaro ironizou a decisão do México de  conceder asilo político ao ex-presidente da Bolívia, Evo Morales. Em referência ao presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD), o brasileiro disse que a esquerda "tomou conta de novo" daquele país.

— Lá a esquerda tomou conta de novo — disse Bolsonaro, ao ser questionado sobre o que achava do México ter dado concedido asilo a Morales.  Em seguida, Bolsonaro completou: "Tem um bom país para ele (Morales): Cuba."

Obrador, eleito no ano passado,  é o primeiro presidente de esquerda do México em décadas. Antes da concessão do asilo, o governo mexicano informou que reconhecia Morales como "presidente legítimo" da Bolívia, afirmando que sua renúncia se devia a um "golpe" dado pelo Exército, classificando como um grave retrocesso para a região.

À tarde, o chanceler do México , Marcelo Ebrard, confirmou a concessão de asilo a Evo Morales.  O anúncio foi feito um dia depois de Morales renunciar à Presidência, sob pressão da oposição e dos militares, e de a embaixada mexicana ter acolhido 20 integrantes do governo boliviano em sua residência oficial em La Paz.

— Há alguns instantes recebi uma ligação de Evo Morales, solicitando formalmente asilo político no país — disse Ebrard. — E o México decidiu conceder asilo por razões humanitárias. Na Bolívia, sua vida e integridade correm perigo.

Ebrard disse que já informou o Ministério das Relações Exteriores da Bolívia e pedirá que conceda um salvo conduto e "garantias de vida" a Morales. E que vai pedir à ONU proteção internacional para o ex-presidente. Mais cedo, o presidente demissionário havia denunciado a invasão e vandalização de sua casa em Cochabamba, para onde viajou no domingo e de onde anunciou sua renúncia pela TV.

A renúncia de Evo Morales dividiu os países da região. O governo do México afirmou nesta segunda-feira que reconhece Evo Morales como "presidente legítimo" da Bolívia , afirmando que sua renúncia se devia a um "golpe" dado pelo Exército, o que classificou como um grave retrocesso para a região. O Uruguai , na mesma linha, criticou a quebra do Estado de Direito, enquanto presidente Mauricio Macri, da Argentina , seguindo a reação da véspera do governo Bolsonaro, disse que "por enquanto não se pode falar em golpe" no país andino.

Já o presidente Donald Trump disse, em comunicado, que a renúncia de Morales enviava um "forte sinal para os regimes ilegítimos da Venezuela e da Nicarágua" e elogiou os militares bolivianos, cujo ultimato precipitou a renúncia de Morales no domingo, por "obedecer seu juramento de proteger não apenas uma pessoas, mas Constituição" da Bolívia.

Ressaltando que a situação “relembra momentos passados da História latino-americana”, a Espanha criticou em comunicado a intervenção militar e policial na política da Bolívia. Em comunicado, o governo do socialista Pedro Sánchez pediu que “todos os atores” evitem violência para garantir a segurança de todos os cidadãos, incluindo o ex-presidente.

Seguindo a mesma linha, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos destacou a importância de a crise política e social “ser resolvida com apego” à Constituição e por vias democráticas, respeitando o Estado de Direito. A Comissão, órgão autônomo da OEA, disse que “faz um apelo a atores políticos e sociais para cessarem todos os atos de violência de organizações ou movimentos de cidadãos”.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, por sua vez, disse estar "profundamente preocupado" e pediu "máxima moderação" às partes envolvidas. Em um comunicado, o português acrescentou que todos devem se empenhar para "garantir eleições transparentes".