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Candidato de Evo Morales denuncia que 'faltam garantias' para uma campanha eleitoral na Bolívia

Ex-ministro da Economia Luis Arce garante que voltará em breve para o país
Uma índia aimará vota em El Alto, na periferia de La Paz Foto: ENRIQUE CASTRO-MENDIVIL / Reuters 25-1-09
Uma índia aimará vota em El Alto, na periferia de La Paz Foto: ENRIQUE CASTRO-MENDIVIL / Reuters 25-1-09

BUENOS AIRES — O candidato à Presidência da Bolívia pelo Movimento ao Socialismo (MAS), o ex-ministro da Economia Luis Arce, denunciou nesta segunda-feira em Buenos Aires a “falta de garantias para fazer campanha” para as eleições de 3 de maio. Ele foi escolhido como candidato no último dia 19, domingo, tendo o ex-chanceler David Choquehuanca como vice.

— Neste momento, desde o golpe de Estado, sofremos perseguição e assédio. Exigimos que a Constituição e as leis ainda vigentes sejam cumpridas porque temos direito a nos expressar — disse.

Ele também expressou dúvidas sobre a nova composição do tribunal eleitoral , “onde estão pessoas diretamente relacionadas com os candidatos da direita”, afirmou.

Arce mora no México, em condição de asilado político, mas garante que voltará em breve à Bolívia. Na sexta-feira, ele viajou como turista a Buenos Aires, onde Evo Morales e outros ex-dirigentes bolivianos estão exilados, para participar da assembleia que escolheu os candidatos do partido.

No dia seguinte à nomeação de Arce como candidato, o Ministério Público boliviano anunciou a abertura de uma investigação contra ele pelo suposto uso de dinheiro público do Fundo Indígena por parte de vários dirigentes do MAS. Processos do tipo foram abertos contra vários integrantes do governo Morales após sua renúncia, em 10 de novembro, no que chamam de "caça às bruxas".

Ele foi ministro da Economia durante quase todo o governo de Morales, à exceção de um ano e meio entre 2017 e 2019, quando estava doente. Arce é reconhecido como o principal articulador do projeto econômico que fez o PIB boliviano multiplicar por quatro no período de 2006 a 2019, saltando de US$ 9 bilhões para US$ 40 bilhões. O PIB per capita triplicou no período e a pobreza extrema caiu de quase 38% para 15%. Choquehuanca, por sua vez, é um político aimara, ex-líder estudantil e ex-dirigente sindical, e foi chanceler entre 2006 e 2017.

O candidato minimizou a rejeição de sua candidatura por parte de organizações sociais indígenas, ao afirmar que o candidato à Vice-Presidência dialogaria e resolveria “a situação”. O Pacto de Unidade, corrente do MAS que aglutina as principais organizações de base do partido, pressionava para que a chapa fosse composta por Choquehuanca e pelo jovem dirigente cocaleiro Andrónico Rodríguez. Andrónico, como é conhecido, é representante de setores indígenas mais jovens e independentes de Morales, e tem grande apoio na cidade de Cochabamba, principal reduto do MAS.

LEIA MAIS: Movimentos Sociais próximos a Morales escolhem ex-chanceler como candidato à Presidência

Ao preferir o nome do ex-ministro, o MAS busca atrair o voto da classe média e de grandes centros urbanos, enquanto a indicação de Choquehuanca busca atrair o voto camponês-indígena. Arce disse que a classe média não se desencantou após três mandatos de Evo Morales.

— Nós levamos 12 milhões de pessoas que viviam em situação de pobreza à classe média — afirmou.

Ele também criticou a presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, que teve seu mandato estendido até as eleições.

— A presidente Jeanine Áñez não administra bem a economia, ela se volta para o passado, para a distribuição de empresas públicas entre grupos oligárquicos — disse.

Congresso aceita renúncia de Morales

Nesta terça-feira, o Congresso boliviano finalmente aprovou a renúncia de Evo Morales à Presidência, mais de dois meses após o ex-dirigente apresentar uma carta com esse pedido, em 10 de novembro, e depois partir para o exílio.

O Congresso, ainda controlado pelo MAS de Morales, aceitaram as renúncias de Morales e do vice-presidente Alvaro García Linera, que o acompanhou no exílio, primeiro no México e depois na Argentina, onde estão desde 12 de dezembro.

— Aceitamos a renúncia dos nossos companheiros Evo Morales e Alvaro García. Estamos cumprindo a Constituição que diz que aqueles que rejeitam ou aceitam a renúncia são os deputados e senadores — declarou à imprensa o congressista Henry Cabrera, influente líder do MAS.

O fato de o Congresso não ter aceitado formalmente a renúncia provocou dúvidas legais sobre a posse da senadora de direita Jeanine Áñez como presidente interina, em 12 de novembro.