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Cartunistas lamentam a morte do francês Georges Wolinski

Um dos maiores nomes do quadrinho mundial foi assassinado junto com colegas em atentado em Paris
O cartunista francês Georges Wolinski em foto de 2006 Foto: GUILLAUME BAPTISTE / AFP
O cartunista francês Georges Wolinski em foto de 2006 Foto: GUILLAUME BAPTISTE / AFP

RIO - O ataque terrorista à redação da revista satírica “Charlie Hebdo”, em Paris, na manhã desta quarta-feira, vitimou, até o momento, 12 pessoas. Entre os mortos, George Wolinski, de 70 anos, o maior nome do quadrinho francês, e um dos maiores do mundo. O cartunista nascido na Tunísia influenciou toda uma geração de colegas brasileiros, que lamentam sua morte.

Laerte Coutinho: "Wolinski é um mestre para mim, mudou a minha vida. Tive a oportunidade de falar isso para ele em meados dos anos 1990, na Feira do Livro em Bogotá. Ele influenciou com muita intensidade o meu trabalho e o de muitos de meus amigos. Ele foi um grande desenhista, um sujeito que tinha um texto extraordinário e sabia combinar perfeitamente isso, com um tom satírico e político".

Chico Caruso: "Quando o Wolinski esteve por aqui, até tomamos um porre. Sou fã dele desde a 'Paulette', em que um velho sofria uma mutação e conseguia uma mulher fenomenal. Era hilário. Todo mundo foi influenciado por ele, desde os anos 1960 e 1970. Tenho até um cartum que ele fez de mim, que é uma relíquia".

André Dahmer: “É como se tivessem matado, no cinema, um Polanski ou um Woody Allen. Era o maior cartunista vivo, o que mais influenciou outros cartunistas. O traço dele foi copiado exaustivamente pelo Fortuna, Henfil, Ziraldo. Se o "Pasquim" existisse, essa tragédia equivaleria a matar o Jaguar, o Ziraldo, um grande cara desses. Ele é um monumento do cartum francês, a maior escola de cartunistas do mundo. E mataram por nada. Absurdo”.

Adão Iturrusgarai: “Minha influência é 99% Wolinski. Estou tão paralisado que nem sei mais o que dizer”.

Arnaldo Branco: " Ridendo castigat mores , 'rindo castigas os costumes'. Sempre achei esse ditado uma bobagem: o poder do riso é limitado, nunca se derrubou um governo com uma charge ou se lesionou alguém com uma piada. Acho que estava subestimando o efeito do humor sobre aqueles que não têm nenhum - o caso dos fundamentalistas que atacaram a redação do 'Charlie Hebdo'. Só espero que, no mínimo de consciência humana que talvez habite algum pequeno espaço não ocupado pelo fervor doutrinário, esses caras entendam que atacar humoristas em defesa de sua causa só faz com que ela perca força. Que raio de verdade é essa que não aguenta a contestação de um cartum?".

Carlos Latuff: "Em que pese que sou contrário as charges de Maomé e as constantes provocações ao mundo islâmico promovidas pelo jornal 'Charlie Hebdo', não posso concordar com o fuzilamento de jornalistas e chargistas. Esse tipo de ação só favorece ao discurso anti-islâmico e anti-imigração, cada vez mais forte na Europa".

Allan Sieber: "Fui muito influenciado por ele e outro contemporâneo dele, o também francês Reiser. Wolinski tem a dimensão do Jaguar para o Brasil, e não era só um cartunista, era ícone de várias áreas do quadrinho. O mais interessante é que ele, a medida que envelhecia, virava um cartunista mais ácido, não se transformou num 'senhor bonzinho'".

Tiago Elcerdo: "Wolinski me influenciou não tão diretamente, mas aos grandes cartunistas brasileiros que tenho como referência. Foi mais uma influência de tabela. Mas, claro, tive contato com seu trabalho. Primeiro fui atraído pelo seu humor e os cartuns eróticos. Depois, por sua crítica política e cultural. O jornal 'Charlie Herbdo', com o qual Wolinski colaborava, e que foi alvo do ataque, é uma grande referência aos cartunistas. Principalmente por ser ricamente ilustrado".

Chiquinha: "Em estado de choque ainda. O ataque terrorista à redação da Charlie Hebdo é mais uma prova infeliz de que a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão e criativa ainda são catalisadores de posicionamentos extremos, de violência e ódio. Em nome de Deus e do fanatismo religioso passa-se por cima de tudo, de todos direitos democráticos. Assassinaram um dos catunistas mais incríveis da França, uma das minhas maiores influências como cartunista, o Jaguar deles. Estou de coração partido e temerosa do que virá a acontecer no velho mundo diante do culmino dessa bárbarie. Mas parafreaseando a corajosa capa da 'Charlie Hebdo' pós-atentado de 2011, sigamos em frente: 'l’amour plus fort que la haine' ('o amor é mais forte que o ódio')".