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Cessar-fogo na Síria tem relatos de violações logo após início de trégua

Frentes de batalha permanecem calmas, mas EUA afirmam que conflitos continuam
Crianças sírias brincam entre escombros de prédio em área controlada por rebeldes em Daraa Foto: MOHAMAD ABAZEED / AFP
Crianças sírias brincam entre escombros de prédio em área controlada por rebeldes em Daraa Foto: MOHAMAD ABAZEED / AFP

WASHINGTON/DAMASCO/MOSCOU — Embora um cessar-fogo acordado entre Rússia e Estados Unidos tenha entrado em vigor na Síria nesta segunda-feira, moradores relataram que a trégua foi violada em menos de uma hora na cidade de Aleppo. Por mensagens de celular, eles disseram que um helicóptero do governo lançou explosivos em um distrito controlado pelos rebeldes. Enquanto isso, uma facção rebelde disse em comunicado que matou quatro soldados do regime na província de Daraa.

O Observatório Sírio para Direitos Humanos (OSDH), no entanto, diz que as principais frentes de batalha estão calmas nesta segunda-feira. Com base no Reino Unido, o grupo monitora os conflitos que há cinco anos assolam a Síria.

— Os primeiros relatos que recebi indicam uma redução na violência, além de alguns de confrontos aqui e ali, mas é muito cedo tirar qualquer conclusão definitiva. Haverá invariavelmente relatos de violações, mas é a natureza do cessar-fogo — disse em coletiva o secretário de Estado americano, John Kerry, que destacou a importância de aproveitar a trégua para avançar com a ajuda humanitaria em regiões como Aleppo. — Não preciso soletrar o quão importante é a assistência, em alguns casos significando a diferença entre a vida e a morte de dezenas de milhares de pessoas.

A Rússia emitiu um comunicado, através do Ministério de Relações Exteriores, dizendo estar preocupada com eventuais violações à trégua por parte de grupos rebeldes. A chancelaria afirmou, na nota, esperar dos EUA uma participação na efetivação do cessar de hostilidades.

O cessar-fogo foi iniciado com muitas dúvidas se o pacto seria efetivamente respeitado. Caso seja mantido por sete dias, os EUA e a Rússia deverão realizar ataques aéreos coordenados contra jihadistas na Síria.

O Exército sírio anunciou nesta segunda-feira a interrupção de suas operações militares no país, depois da entrada em vigor da trégua negociada entre a Rússia e os Estados Unidos. Os principais grupos insurgentes, no entanto, ainda não manifestaram oficialmente sua conformidade com o trato.

Mais cedo, o presidente sírio, Bashar al-Assad, afirmou que pretende “recuperar” todo o território que não está sob controle do regime. Ele fez uma aparição pública durante a oração de Eid al-Adha, a festa muçulmana do sacrifício, em uma mesquita de Daraya, antigo reduto rebelde próximo de Damasco.

— O Estado sírio está determinado a recuperar todas as regiões que estão nas mãos dos terroristas e a restabelecer a segurança — declarou Assad à imprensa estatal.

O regime utiliza a palavra terrorista para fazer referência a rebeldes e jihadistas.

— As Forças Armadas vão continuar seu trabalho sem hesitação (...) e independente dos fatores externos e internos — completou Assad, a poucas horas do início do cessar-fogo, programado para 19h locais (13h de Brasília).

OPOSIÇÃO PEDE GARANTIAS

Enquanto isso, a oposição síria pediu garantias sobre a aplicação do acordo de cessar-fogo. Esta é a segunda tentativa de Washington e Moscou para conter a guerra neste ano.

— Queremos saber quais são as garantias (...) Esperamos que existam garantias e pedimos garantias especialmente dos Estados Unidos, que é parte envolvida no acordo de trégua — afirmou Salem al-Muslet, porta-voz do Alto Comitê de Negociações (ACN) da oposição Síria.

Mesmo após o anúncio do pacto de trégua, regiões do país foram bombardeadas e o número de mortos, inicialmente registrado em 25, ultrapassa 100, segundo agências internacionais e locais. Mais bombardeios aéreos atingiram as províncias de Aleppo e Idlib no domingo, após inserções aéreas deixarem dezenas de mortos no sábado. Um ataque na cidade Saraqeb atingiu um centro de defesa civil que era base de socorristas, informou o OSDH, entidade sediada no Reino Unido que monitora a guerra no país.

A guerra civil na Síria envolve múltiplos atores e já dura cinco anos. Mais de 290 mil pessoas já morreram neste período, enquanto outras milhões já deixaram suas casas na fuga dos conflitos. A violência no país desencadeou uma grande crise migratória, enquanto muitos tentam chegar aos países europeus em busca de uma vida melhor.