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Chanceler da Colômbia renuncia após condenação internacional do governo Duque por excessos policiais em protestos

Claudia Blum é segunda ministra a deixar o governo desde que as manifestações, que deixaram 42 mortos, começaram, no fim de abril
Claudia Blum discursa durante encontro em Bogotá, em fevereiro: chanceler renunciou após condenação internacional a protestos na Colômbia Foto: DANIEL MUNOZ / AFP
Claudia Blum discursa durante encontro em Bogotá, em fevereiro: chanceler renunciou após condenação internacional a protestos na Colômbia Foto: DANIEL MUNOZ / AFP

BOGOTÁ — A ministra das Relações Exteriores da Colômbia, Claudia Blum, apresentou sua renúncia “irrevogável”, em um momento em que o governo enfrenta fortes críticas e condenações pela repressão aos protestos que pressionam o presidente Iván Duque. Em carta datada de 11 de maio, mas divulgada por seu gabinete nesta quinta-feira, Blum pede demissão do gabinete sem especificar os motivos. Ela é a segunda ministra a deixar o governo desde que os protestos, que deixaram até agora 42 mortos mais de 1.500 feridos, começaram, no fim de abril.

“Tenho a certeza de que o país continuará no caminho do desenvolvimento sustentável, na recuperação social e econômica dos efeitos da pandemia e na consolidação de consensos que ratifiquem a unidade e fortaleçam nossa nação”, escreveu.

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Blum deixa o cargo, que ocupava desde novembro de 2019, em um momento delicado para a imagem externa do país. A ONU , os Estados Unidos, a União Europeia, além de diversas ONGs internacionais, denunciaram graves excessos cometidos pela polícia nas manifestações.

Relutante em admitir os excessos policiais, Duque afirma que a força pública tem agido com “absoluta obediência à Constituição” e que os abusos, “por condutas individuais”, estão sendo “judicializados”. A polícia nacional iniciou dezenas de investigações disciplinares, e anunciou a suspensão de cinco policiais até agora.

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De acordo com a imprensa colombiana, a ministra planejava viajar em breve à Europa para compartilhar a versão do governo sobre a crise desencadeada pelas manifestações, em meio à aguda deterioração econômica provocada pela pandemia de Covid-19.

O primeiro ministro a renunciar foi o chefe do Tesouro, Alberto Carrasquilla , que deixou o cargo pelas críticas à sua proposta de aumentar os impostos da classe média em plena crise sanitária e econômica. Apesar de Duque ter retirado o projeto legislativo , a violenta repressão aos protestos por parte das forças de segurança alimentou o descontentamento.

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A oposição reagiu à saída da chanceler. No Twitter, o senador Wilson Arias, natural de Cali, uma das cidades mais afetadas pela violência, celebrou a renúncia. “Outra conquista: seu debate internacional derruba a chanceler Claudia Blum”, escreveu.

No poder há quase três anos, Duque é alvo de enormes protestos desde 2019, que foram interrompidos durante parte do ano passado, por causa da pandemia. Com a crise sanitária, que deixou mais de 78 mil mortes, o desemprego na Colômbia chegou a quase 17% em áreas urbanas em abril. Somado a isso, o país enfrenta um aumento sem precedentes da violência no campo contra centenas de lideranças sociais e ex-combatentes das Farc.