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Chile aperta quarentena na capital diante do aumento de contágios de coronavírus

Endurecimento acontece duas semanas após Piñera afirmar que país caminhava para retomada econômica, o que reduziu medidas de autocontrole da população
Mulheres carregam um carrinho com comida em frente a um veículo militar na Plaza de Armas, em Santiago, onde a quarentena será endurecida Foto: MARTIN BERNETTI / AFP
Mulheres carregam um carrinho com comida em frente a um veículo militar na Plaza de Armas, em Santiago, onde a quarentena será endurecida Foto: MARTIN BERNETTI / AFP

SANTIAGO —  As autoridades sanitárias chilenas reforçaram as medidas obrigatórias de contenção em Santiago nesta quarta-feira, após um aumento nas duas últimas semanas dos casos de coronavírus no país, que totalizam 23.048 infectados confirmados e 281 mortes.

Enquanto o confinamento é flexibilizado em outros países —  e dois meses desde o primeiro caso relatado no Chile — 12 comunas de Santiago entrarão em quarentena obrigatória a partir desta sexta-feira à noite. Assim, cerca de 80% da população da capital chilena de sete milhões de habitantes estarão em confinamento total.

Essas 12 comunidades se somam a outras 14 que já estavam em quarentena, algumas desde o início da semana, quando o número de novas infecções começou a crescer acima de mil por dia.

— É essencial que o número de casos em Santiago diminua rapidamente,  e a única maneira de fazer isso é através das medidas que indicamos, por mais dolorosas que sejam — disse o ministro da Saúde Jaime Mañalich, que descreveu a luta para reduzir infecções na capital como "a batalha de Santiago".

Mañalich enfatizou, no entanto, que, em geral, e "comparado a outras nações", o Chile está "relativamente melhor" no controle da pandemia, especialmente considerando-se o número de pessoas que morreram. As comparações dependem da extensão dos testes em cada país, que variam muito.

Especialistas chilenos lamentam que o presidente Sebastián Piñera tenha feito um chamado duas semanas atrás para a retomada gradual das atividades econômicas, em uma mensagem ao público que levou ao relaxamento das medidas de autocontrole e que explicaria o aumento repentino de infecções de acordo com os balanços oficiais desde o último final de semana.

Assim como outros lugares, o país discutia como promover um “ retorno seguro ”, ou seja, como sair do isolamento social sem provocar uma segunda onda de infecções e, ao mesmo tempo, como minimizar prejuízos econômicos.

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Desde o início da crise, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as autoridades locais indicaram que o pico projetado de infecções em Santiago seria entre a última semana de abril e a primeira semana de maio.

No entanto, devido ao baixo número de pessoas no primeiro mês e meio, o governo de Piñera começou a comemorar ter atingido um "platô" de infecções, com uma média de 400 a 500 infectados diariamente, com base em uma estratégia de "quarentena seletiva” e a execução de um grande número de testes.

As quarentenas seletivas permitiram às autoridades não encerrar completamente as atividades produtivas, podendo escolher as áreas a serem fechadas com base no número de infecções e no nível de superlotação local, entre outros fatores.

Além disso, há um toque de recolher noturno em todo o território, os centros comerciais estão fechados e as aulas, suspensas.

O país também lançou uma extensa rede juntando laboratórios públicos, privados e universitários para a realização de testes de PCR, considerados os que apresentam os resultados mais confiáveis.

De acordo com o ministro da Saúde, Jaime Mañalich, os critérios para determinar as medidas de restrição são a taxa de incidência, a concentração de casos por quilômetro quadrado e a disponibilidade de infraestrutura sanitária para o referido território. Ele afirmou que a mudança no cenário de Santiago se deve a uma maior aplicação de testes, mas também porque "a doença está sendo transmitida a comunidades de maior risco".

O país também procura evitar que a pandemia se propague de modo intenso simultaneamente na captal e em Valparaíso, a terceira maior cidade do Chile, atrás apenas de Santiago e de Concepción.

— A disseminação da doença da Grande Santiago para Valparaíso seria algo extremamente sério, com que devemos nos preocupar .Temos que travar uma batalha de cada vez e agora corresponde à batalha por Santiago —  disse Mañalich.