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China diz que pressão dos EUA por maior presença de Taiwan na ONU é 'grande risco' para relações entre potências

Para Pequim, posição americana viola a política de "uma só China" estabelecida entre Pequim e Washington desde a retomada de relações
Veteranos prestam continência à bandeira de Taiwan durante cerimônia militar em Kinmen Foto: ANN WANG / REUTERS
Veteranos prestam continência à bandeira de Taiwan durante cerimônia militar em Kinmen Foto: ANN WANG / REUTERS

PEQUIM — A China criticou o mais recente posicionamento dos EUA em relação a Taiwan , advertindo nesta quarta-feira que ele representa um "grande risco" para as relações entre as duas potências, às vésperas de uma cúpula virtual entre Xi Jinping e Joe Biden, prevista para este final de ano.

O comunicado emitido na terça-feira em que o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken , pede uma maior participação da ilha no Sistema ONU — formado pela  agências, fundos e programas da organização — violou a política de "uma só China" estabelecida entre Pequim e Washington, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian, em entrevista coletiva nesta quarta-feira.

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— Se os EUA continuarem a jogar a carta de Taiwan, isso certamente trará mudanças no jogo e enormes riscos para as relações entre China e EUA — disse Zhao.

Pela política de "uma só China", que os EUA se comprometeram a respeitar desde que reataram relações com Pequim em 1979, o governo chinês é o único representante da China.

O comunicado de Blinken coincidiu com os 50 anos do aniversário da decisão da Assembleia Geral da ONU que em 1971 deu a Pequim a cadeira chinesa na organização, antes ocupada por Taiwan, para onde os nacionalistas fugiram ao serem derrotados pelos comunistas na guerra civil, em 1949. Desde então, Pequim considera a ilha uma "província rebelde".

Antes do pronunciamento da Chancelaria chinesa, o Escritório de Assuntos de Taiwan em Pequim havia instado Taipé a "abandonar a ilusão de confiar nos EUA para a independência", dizendo que a ilha "não tinha o direito" de aderir à ONU meio século depois de ser afastada.

O quanto o desentendimento em relação a Taiwan terá impacto nos laços entre EUA e China, incluindo a planejada cúpula de vídeo entre Biden e Xi , não está claro. Taiwan tem sido um fator histórico de discórdia  entre os dois países.

Quando Pequim substituiu Taipé como representante da China na ONU, permitiu que representantes da ilha participassem de algumas organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas Pequim procurou derrubar esses acordos desde que a presidente Tsai Ing-wen foi eleita em 2016 em Taiwan e adotou uma posição pró-independência, se recusando a aceitar que ambos os lados fazem parte de "uma só China".

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"A exclusão de Taiwan prejudica o importante trabalho da ONU e de seus órgãos, todos os quais se beneficiam muito de suas contribuições", disse Blinken na declaração. "O fato de Taiwan ter participado de forma robusta de certas agências especializadas da ONU durante boa parte dos últimos 50 anos é uma prova do valor que a comunidade internacional dá às contribuições de Taiwan", completou,

Os comentários de Blinken ocorrem depois de Biden dizer, na semana passada, que os EUA estavam empenhados em defender Taiwan de um eventual ataque chinês , um de seus posicionamentos mais fortes até agora.

Em 1979, o Congresso americano aprovou uma lei estabelecendo os parâmetros para as relações com Taiwan: apesar de não reconhecer o governo da ilha como um Estado soberano, o texto criou as bases para a manutenção dos laços bilaterais, especialmente os militares, com a promessa de apoiar a autodefesa da ilha. A lei, porém, não contempla uma intervenção direta americana.

O governo Biden tem tentado equilibrar as exigências daqueles que internamente buscam maior apoio para Taiwan e os que temem um potencial confronto militar com a China com armas nucleares. Depois que Biden, em agosto, equiparou o compromisso de segurança dos EUA com Taiwan a suas alianças formais com nações como Japão e Coréia do Sul, a Casa Branca havia negado uma mudança na política de "uma só China", mas a dubiedade tem aumentado.

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Xi fez críticas veladas a Washington na segunda-feira, dizendo em um discurso que marcou o 50º aniversário de Pequim na ONU que a China "se opôs de maneira firme ao hegemonismo e à política de poder".  Ele argumentou que as regras internacionais só podem ser estabelecidas pelos 193 países-membros da organização.

O Global Times, jornal em inglês ligado ao Partido Comunista, publicou hoje um editorial acusando Blinken de tentar mudar a política de Washington em relação a Taiwan. A China não "recuará um centímetro" no assunto, disse o jornal, argumentando que o apelo pela maior participação de Taiwan seria rejeitado pela maioria dos membros da ONU.