Clima e ciência
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Por AFP — Genebra

As temperaturas médias mundiais durante os três meses do verão no Hemisfério Norte (junho a agosto) foram as mais elevadas já registradas, anunciou nesta quarta-feira o Serviço Copernicus sobre Mudanças Climáticas, entidade meteorológica ligada à União Europeia (UE), para o qual 2023 provavelmente será o ano mais quente da História.

"A estação junho-julho-agosto 2023", que corresponde ao verão no Hemisfério Norte, "foi de longe a mais quente já registrada no mundo, com uma temperatura média mundial de 16,77°C", anunciou o Copernicus.

O resultado ficou 0,66°C acima da média do período 1991-2020, que também registrou um aumento das temperaturas médias do planeta devido à mudança climática provocada pela atividade humana. E muito superior — 0,29ºC — ao recorde anterior de 2019.

Só na Europa a temperatura foi 0,83°C acima da média – o quinto verão mais quente já registrado no continente, um período marcado por desastres, com muitas áreas devastadas por inundações e incêndios florestais.

Ondas de calor, secas, inundações e incêndios também afetaram Ásia e América do Norte durante o verão boreal em proporções dramáticas e, em alguns casos, sem precedentes, com mortes e danos elevados para as economias e o meio ambiente. O Hemisfério Sul, com recordes de calor em pleno inverno, também foi afetado.

Julho foi o mês mais quente já registrado na História, e agosto o segundo, detalhou o Copernicus. Nos oito primeiros meses do ano, a temperatura média do planeta ficou "apenas 0,01°C atrás de 2016, o ano mais quente já registrado".

Apesar de três anos consecutivos de La Niña, fenômeno climático que compensa parcialmente o aquecimento gerado pelo El Niño no Oceano Pacífico, o período 2015-2022 foi o mais quente já registrado.

O superaquecimento dos oceanos, que continuam absorvendo 90% do excesso de calor provocado pela atividade humana desde o início da era industrial, tem um papel crucial no processo.

Desde abril, a temperatura média de superfície dos oceanos registra níveis de calor inéditos. "De 31 de julho a 31 de agosto, essa temperatura superou todos os dias o recorde anterior, de março 2016", que também foi um ano de El Niño, destacou o Copernicus, atingindo a marca simbólica inédita de 21°C, muito acima de todos os números registrados até então.

— O aquecimento dos oceanos leva ao aquecimento da atmosfera e ao aumento da umidade, o que provoca chuvas mais intensas e um aumento da energia disponível para os ciclones tropicais — declarou à AFP Samantha Burgess, vice-diretora do serviço de mudança climática (C3S) do Copernicus. — Dado o excesso de calor na superfície dos oceanos, 2023 provavelmente será o ano mais quente (...) que a Humanidade já conheceu — afirmou.

O superaquecimento também afeta a biodiversidade:

— Há menos nutrientes no oceano (...) e menos oxigênio, o que ameaça a sobrevivência da fauna e da flora — disse Burgess.

Mais quentes em quase 120 mil anos

A base de dados de observatório remonta a 1940, mas pode ser comparada com o clima dos milênios anteriores, estabelecido graças aos anéis das árvores e aos núcleos de gelo e sintetizado no relatório mais recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU.

A partir dessa base de dados, "os três meses que acabamos de vivenciar foram os mais quentes em quase 120 mil anos, ou seja, desde o início da história da Humanidade", afirmou Burgess.

"O colapso climático começou", lamentou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em um comunicado. "O clima está implodindo mais rapidamente do que podemos enfrentar, com fenômenos meteorológicos extremos que afetam todos os cantos do planeta", completou.

Os humanos e os seres vivos também são ameaçados pela poluição atmosférica, agravada pelos incêndios e ondas de calor cada vez mais intensas e frequentes, advertiu a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

— O aquecimento climático continua porque não paramos de queimar energias fósseis. É muito simples — afirmou a climatologista Friederike Otto.

A rede científica World Weather Attribution (WWA) calcula que as ondas de calor de julho na Europa e América do Norte foram 2,5°C e 2°C mais quentes devido às emissões de energias fósseis.

'Poção diabólica'

As ondas de calor estão gerando uma "poção diabólica" de poluentes que ameaça os seres humanos e todos os seres vivos, alertou a ONU nesta quarta-feira.

As camadas de fumaça causadas pelos incêndios que cobriram Atenas e Nova York são a parte mais visível da poluição atmosférica causada pelas ondas de calor, mas na realidade desencadeiam uma série de processos químicos muito mais perigosos para a saúde.

— As ondas de calor deterioram a qualidade do ar, com repercussões na saúde humana, nos ecossistemas, na agricultura e na nossa vida cotidiana — afirmou o secretário da OMM, Petteri Taalas, na apresentação do boletim sobre qualidade do ar e clima.

Um estudo recente do Instituto de Política Energética da Universidade de Chicago (EPIC) estabeleceu que a poluição por partículas finas – emitida por veículos motorizados, indústria e incêndios – representa "a maior ameaça externa à saúde pública" em todo o mundo.

As alterações climáticas e a qualidade do ar "andam de mãos dadas e devem ser combatidas em conjunto para quebrar esse círculo vicioso" afirmou o responsável pela OMM, salientando que, embora o relatório trate de dados de 2022, "o que vemos em 2023 ainda é mais extremo".

As alterações climáticas aumentam a frequência e a intensidade das ondas de calor, e esta tendência continuará no futuro.

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