Clima e ciência
PUBLICIDADE

Por AFP — Santa Cruz, EUA

Não havia tubarões-brancos jovens rodeando as famosas praias do centro da Califórnia, nos Estados Unidos, mas à medida que as mudanças climáticas aceleram o aquecimento dos oceanos, as águas mais quentes atraem os animais para o norte — um movimento que pode ter consequências graves para o ecossistema local.

Os tubarões-brancos se tornaram temidos pelos banhistas depois do sucesso da franquia cinematográfica "Tubarão", na década de 1970,mas quem corre mesmo risco com a presença destes predadores são as lontras.

— Descobrimos que, com o tempo, o número de mordidas em lontras-marinhas aumentou drasticamente nesta região. Isso gera um impacto real na população de lontras — explica o ecologista marinho Salvador Jorgensen, da Universidade do Estado da Califórnia.

Em uma verdadeira demonstração de como os ecossistemas estão interligados, esta situação pode gerar consequências de longo prazo para todo o tipo de espécies nesta região rica em vida selvagem.

Águas quentes

Com um tamanho em torno dos 4,9 metros, os tubarões-brancos originalmente se alimentam de focas, leões-marinhos e golfinhos. Podendo viver mais de 70 anos, dão à luz a ninhadas de filhotes, que abandonam à própria sorte desde cedo.

Vista aérea de tubarão próximo à praia Marina State em Marina, na Califórnia. — Foto: AFP PHOTO / DYLAN MORAN / SALVADOR JORGENSEN
Vista aérea de tubarão próximo à praia Marina State em Marina, na Califórnia. — Foto: AFP PHOTO / DYLAN MORAN / SALVADOR JORGENSEN

Mas como são animais endotérmicos — de corpo quente, como os mamíferos — estes bebês são vulneráveis ao frio das profundezas do oceano, o que os faz passar um tempo em águas mais quentes nas regiões costeiras. Até cerca de uma década atrás, isso significava que espécies mais jovens de tubarões só eram encontradas em áreas no sul da Califórnia. Mas segundo Jorgensen, isso está mudando.

— Documentamos a aparição repentina de tubarões muito menores do que já se tinha visto por aqui. À medida que as temperaturas dos oceanos aumentaram devido a uma série de [fenômenos] El Niño e ondas de calor, muitas espécies têm migrado mais para o norte, para áreas historicamente mais frias — disse ele, sobre a baía de Monterey, a centenas de quilômetros ao norte da área onde são tradicionalmente observados. Esta alteração de curso os coloca em contato com as lontras-marinhas, que rondam as ricas florestas de algas.

— Os tubarões menores estão deixando de comer peixes e lulas, para um ponto em que vão começar a comer mamíferos marinhos — explicou o ecologista.

Efeito cascata

Jorgensen explica que, para um tubarão inexperiente, as lontras podem parecer um objetivo adequado, mas estes animais não possuem uma rica camada de gordura e acabam não sendo consumidos. No entanto, mesmo que sejam apenas mordidas, "muitas vezes essas interações são fatais para a lontra", concluiu ele.

A consequência é um efeito cascata que afeta todo este ecossistema. As lontras se alimentam de ouriços-do-mar, uma espécie que, se não for controlada, transformará uma floresta de algas em um deserto árido, destruindo um habitat marinho vital, que oferece alimento e abrigo para uma variedade de invertebrados, peixes, mamíferos e aves.

Para Eric Mailander, cientista amador e capitão do barco que ajuda o ecologista a identificar os tubarões-brancos, a presença destas espécies jovens na baía de Monterey oferece a oportunidade de observar estes animais de perto. Jorgensen alerta, no entanto, que a presença destes animais enormes tão perto da costa é uma demonstração da rapidez com que o planeta está sendo alterado pela queima descontrolada de combustíveis fósseis.

— Sempre pensei que é uma forma muito tangível de as pessoas entenderem a mudança climática — explicou, contando que os frequentadores destas praias começam a se acostumar com a aparição destes animais nadando a até seis metros de distância.

— Não se pode olhar para o oceano e pensar que a mudança climática não está acontecendo — concluiu.

Mais recente Próxima Papa pede que COP28 imponha transição energética 'obrigatória': 'o mundo está desmoronando'
Mais do Globo

Especialistas preveem que regras sejam publicadas ainda este ano. Confira o que está para sair

Depois do CNU: Banco do Brasil, Correios e INSS, veja os concursos com edital previsto

Em 2016, com recessão e Lava-Jato, rombo chegou a R$ 155,9 bilhões. Pressão política para investir em infraestrutura preocupa analistas, que defendem regras de gestão mais rígidas

Fundos de pensão de estatais ainda têm déficit de R$ 34,8 bi e acendem alerta sobre ingerência política

Ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, afirmou que Madri atendeu a um pedido de González ao conceder asilo e disse que portas estão abertas para outros opositores

Espanha não ofereceu 'contrapartida' a Maduro para retirar González Urrutia de Caracas, diz chanceler da Espanha

Dispositivos finalmente ganharão atualizações relevantes, depois de dois anos sem novidades

Além do iPhone 16: veja os novos Apple Watch e AirPods que serão lançados hoje

Suspeito do crime, Tiago Ribeiro do Espírito Santo foi preso momentos depois e autuado por feminicídio

Garota de programa é morta estrangulada em hotel no Centro do Rio

Fazendeiro receberá compensação anual de R$ 54 mil, pois a aeronave impede o plantio de grãos no terreno

Empresa aérea começa a desmontar avião preso em campo de trigo na Sibéria um ano após pouso de emergência

Gorki Starlin Oliveira conta como uma estratégia de aquisições garantiu a sobrevivência de sua empresa em meio ao colapso das grandes redes de livrarias do Brasil

‘Compramos editoras para brigar por prateleira’, diz CEO da Alta Books

Homem foi descredenciado sob a alegação de que tinha anotações criminais em seu nome

Uber é condenado a pagar R$ 40 mil a motorista de aplicativo por danos morais

Texto ainda depende de aval do presidente para ser enviado ao Congresso; proposta também prevê reduzir negativas a pedidos via LAI

Governo discute projeto para acabar com sigilo de 100 anos após críticas a Lula por veto a informações