Um novo relatório divulgado pelas autoridades indianas nesta sexta-feira aponta que pelo menos 40 pessoas morreram e milhares ficaram desalojadas após as inundações causadas pelo transbordamento do lago glacial Lhonak, localizado no estado de Sikkim, nordeste da Índia, na quarta-feira. O lago está situado na base de uma geleira próxima à terceira montanha mais alta do mundo, a Kangchenjunga. Segundo o Exército indiano, cerca de 1,5 mil pessoas de fora do estado ainda estão presas nas áreas mais afetadas.
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O secretário-chefe de gabinete e secretário de Finanças de Sikkim, Vijay Bhushan Pathak, informou que "dezenove corpos foram encontrados". Entre os mortos, estão seis soldados do Exército indiano destacados no estado, perto das fronteiras com o Nepal e a China, onde existe uma presença militar significativa. A fronteira compartilhada com o gigante asiático, de 3,5 mil quilômetros, tem sido uma fonte perene de tensão, com partes de Sikkim sendo reivindicadas por Pequim.
Em Bengala Ocidental, um estado vizinho, 21 corpos foram recuperados nos últimos três dias, disse Shama Parveen, magistrado do distrito. Além disso, quase 8 mil pessoas tiveram que se refugiar em acampamentos montados em escolas, repartições públicas e albergues, conforme nota divulgada pelo estado de Sikkim.
Uma torrente de água do Lhonak correu rio abaixo, somando-se às águas de um rio que já havia transbordado pelas monções. A água danificou uma represa e destruiu edifícios, pontes e linhas telefônicas, o que tem dificultado a retirada da população e a comunicação com milhares de pessoas isoladas do restante do país. Os danos se estendem por mais de 120 quilômetros, as estradas da região estão "gravemente" danificadas, e 14 pontes foram destruídas, segundo as autoridades.
No último comunicado, divulgado nesta quinta-feira pelas autoridades, eram pelo menos 14 mortos. O número foi subindo durante a noite, quando as equipes de busca e resgate recuperaram mais corpos, enquanto a torrente de água se dirigia para o golfo de Bengala.
Exército mobilizado
Um comunicado do Exército indiano indicou que os soldados envolvidos nas operações de resgate contabilizaram cerca de 1,5 mil pessoas de fora do estado presas nas áreas mais afetadas. A melhora nas condições meteorológicas sugerem que, segundo o relatório divulgado nesta sexta, "pode haver uma janela de oportunidade para retirar de helicóptero os turistas presos".
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Os helicópteros militares também levaram suprimentos para as pessoas que ficaram isoladas, disse Pathak. "Estamos fazendo todo o possível para levar materiais de socorro à população e para restaurar infraestruturas", declarou.
Mudança climática como causa principal
O governo indiano declarou ter desbloqueado financiamento público para restaurar a situação. O primeiro-ministro Narendra Modi prometeu dar "todo o apoio possível" às pessoas afetadas. O lago perdeu quase dois terços de seu tamanho, devido ao transbordamento, uma área equivalente a 150 campos de futebol, segundo imagens de satélite divulgadas pela Organização Indiana de Pesquisa Espacial.
Entre 2011 e 2020, as geleiras do Himalaia derreteram 65% mais rápido do que na década anterior, de acordo com um relatório publicado em junho pelo Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado de Montanhas (ICIMOD, na sigla em inglês) — e desastres semelhantes podem se tornar um perigo cada vez maior, os cientistas alertam.
— A principal causa é a mudança climática, e a situação vai piorar no futuro — disse Arun Bhata Shrestha, especialista em mudança climática do ICIMOD, à AFP. — Nenhuma das situações possíveis é boa. Mesmo o cenário mais modesto mostra que estes eventos de cheias de lagos glaciais serão muito prováveis.
A temperatura média na superfície da Terra aumentou quase 1,2°C, em comparação com a era pré-industrial, mas as regiões montanhosas estão aquecendo a uma taxa dez vezes superior, segundo climatologistas.