O que os últimos meses tiveram em comum? Junho de 2023 superou as temperaturas médias. Julho foi o mês mais quente registrado na história. Agosto? O segundo mais quente. Setembro? As maiores temperaturas de todos os tempos.
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Frente a essas sucessivas quebras de recordes, cientistas veem que 2023 provavelmente será o ano mais quente da história, que no momento está apenas 0.01ºC atrás de 2016 em média de temperatura, faltando apenas quatro meses para acabar o ano.
As temperaturas médias mundiais durante os três primeiros meses do verão no Hemisfério Norte (de junho a agosto) foram as mais elevadas registradas, com uma média de 16,77°C, 0,66°C acima da média. Nesse período, também foram observadas anomalias recordes de alta temperatura na superfície do mar no oceano global.
O mês mais quente da história
Setembro foi o mês mais quente do mundo na história. A temperatura média na superfície do planeta foi de 16,38ºC, o que “rompeu o recorde por uma margem extraordinária”, afirmou Samantha Burgess, vice-diretora do Serviço de Mudança Climática Copernicus (C3S).
Um relatório do Copernicus informa que a temperatura média de setembro ficou 0,93ºC acima da média do período entre 1991 e 2020 para o mês e 0,5ºC acima do recorde anterior, de 2020. O mês também foi quase 1,75ºC mais quente que a média para o mês no período pré-industrial, de 1850 a 1900. Os recordes de temperatura geralmente são quebrados por margens muito mais estreitas, de 0,1ºC.
Dois meses para a COP28
Líderes mundiais se reunirão em Dubai a partir de 30 de novembro para a reunião de cúpula do clima COP28, em um momento de aceleração das consequências do aquecimento global.
— As evidências científicas são esmagadoras e continuaremos a ver mais registros climáticos e eventos extremos mais intensos e frequentes com impacto na sociedade e nos ecossistemas, até deixarmos de emitir gases com efeito de estufa — disse Burgess. Agora, faltando dois meses para a COP28, ela declara que o sentido de urgência para uma ação climática ambiciosa nunca foi tão crítico.
As temperaturas médias do planeta de janeiro a setembro foram 1,4ºC superiores às registradas no período de 1850 a 1900, quase superando o teto de 1,5ºC como limite de aquecimento estabelecido no Acordo de Paris de 2015. O limite é o objetivo mais ambicioso do acordo, considerado essencial para evitar as consequências mais catastróficas da mudança climática.
No entanto, 2022 também foi um ano de extremos, com recordes de temperatura quebrados e um aumento contínuo das concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera, e 2023 se encaminha para ser o ano mais quente da história.
Os dados começaram a ser medidos em 1940 pela Copernicus, o Programa de Observação da Terra da União Europeia, que publica boletins climáticos mensais analisando as alterações na temperatura global do ar, com análises geradas por computador através de medições de satélites, navios, aeronaves e estações meteorológicas em todo o mundo.
El Niño e mudanças climáticas
Cientistas acreditam que os piores efeitos do atual El Niño serão sentidos no final de 2023 e no início de 2024.
O El Niño é um fenômeno climático que aquece as águas na porção equatorial do Oceano Pacífico, na costa oeste da América do Sul e causa anomalias climáticas ao redor do mundo. O evento está relacionado às altas temperaturas porque o fenômeno mantém a frequência e a intensidade do calor e acontece, em média, a cada dois ou sete anos e costuma durar de nove a 12 meses.
Mas embora o El Niño tenha influenciado as temperaturas elevadas ao redor do mundo em setembro, “não há dúvida de que a mudança climática o tornou muito pior”, disse à AFP o diretor do C3S, Carlo Buontempo.
— A mudança climática não é algo que acontecerá daqui a 10 anos. A mudança climática está aqui — acrescentou.
Em abril deste ano, a ONU alertou que as geleiras do mundo derreteram em velocidades recordes no ano passado. Foi uma perda média de mais de 1,3 metro de espessura entre outubro de 2021 e outubro de 2022, muito maior do que a média dos últimos dez anos.
A temperatura média da superfície do mar, excluindo as zonas polares, também atingiu um recorde histórico em setembro, a 20,92ºC.
Os cientistas afirmam que a temperatura mais elevada da superfície do mar, provocada pela mudança climática, faz com que os eventos meteorológicos extremos sejam mais intensos, como foi o caso da tempestade Daniel, que provocou inundações devastadoras na Líbia e na Grécia em setembro.