Clima e ciência
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Por — São Paulo

Um dos maiores cientistas do mundo no campo da Química, o escocês David MacMillan desembarcou no último fim de semana no Brasil para uma série de palestras com jovens estudantes e cientistas no Rio e em São Paulo, a convite da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Professor da Universidade de Princeton, nos EUA, MacMillan recebeu o Prêmio Nobel de Química de 2021 pela criação de catalisadores (substâncias que aceleram reações químicas) mais ambientalmente sustentáveis, para emprego na indústria farmacêutica, agroquímica e de materiais. Egresso de uma família de classe operária em Glasgow, o cientista promete falar ao público não só sobre temas técnicos de sua área de pesquisa, mas também sobre como o espírito de curiosidade pode impulsionar uma carreira acadêmica de sucesso.

MacMillan se junta a outros dois colegas laureados pelo Nobel, a neurocientista May-Britt Moser e o físico Serge Haroche no evento promovido pela ABC esta semana para estimular a ciência entre jovens. Em entrevista ao GLOBO, contou um pouco sobre o que espera para o encontro, que ocorre nesta segunda-feira, no Rio, e na terça, em São Paulo.

O senhor fará apresentações aqui no Brasil para plateias de jovens cientistas que buscam inspiração. Que conselhos de carreira costuma dar nessas situações?

Meu conselho é bem simples. A primeira coisa é que você busque ser você mesmo. Seja autêntico e siga o caminho que pretende seguir, sendo muito cuidadoso em não tentar seguir o de outras pessoas. Ou seja, saber qual é seu próprio talento e ir em frente. Eu cresci num ambiente de classe operária na Escócia. Meu pai era metalúrgico, minha mãe empregada doméstica, e entrar na universidade, por si só, já era um salto enorme para mim. Mas, em certo estágio, eu já sabia que era isso que eu queria fazer. Me dei conta de que, no caminho que você escolhe, há uma escada de muitos degraus, e é preciso olhar para cima e pensar. Se você olha para o topo de uma escada muito alta, a tarefa parece impossível. Mas se você olha para o próximo degrau, sempre vai parecer razoável. Se você sabe quais são seus objetivos e o que lhe é caro, sobe no próximo degrau e segue em frente. Sempre haverá fracassos no meio do caminho. Falhar é normal, mas se você mantiver a paixão e o entusiasmo pelo que gosta, vai chegar a um lugar positivo.

O senhor não veio de uma família de cientistas e acadêmicos. O que o atraiu para a carreira científica?

Esse é o caso de muita gente. Eu acho que não é uma questão de querer se tornar um cientista. Isso nasce de você ser uma pessoa curiosa. Quando eu era criança, sempre achava fascinante descobrir como as coisas funcionam. Muita gente é assim. Mas, talvez ainda mais empolgante, seja a ideia de inventar coisas. A relação entre essas coisas é um pouco confusa, porque a ciência na verdade trata de observar e medir as coisas, enquanto a invenção seria tarefa para a engenharia. Eu sou da opinião de que a ciência realmente boa se faz da combinação entre observação e invenção. Eu sempre tive interesse em inventar coisas. Nós podemos fazer isso só por curiosidade, não porque achamos que a invenção será útil ou valiosa, mas às vezes a mera curiosidade leva a uma ideia razoavelmente nova e inovadora.

Apesar de eu não ter crescido em uma família de cientistas, na minha família as pessoas eram curiosas e interessadas em coisas novas e divertidas. Acho que isso resultou de alguma maneira em meu apreço pela ciência, porque esse é o caminho que permite que o entusiasmo por coisas completamente novas se mantenha. Muita gente não percebe isso, e eu digo isso a estudantes de Ensino Médio. A ciência sempre pode parecer complicada, distante e difícil de aprender, mas a todo momento nós estamos em situações beirando a ciência. É muito fácil ir até essa fronteira, olhar o que há do outro lado e começar a pensar em coisas novas para fazer. Às vezes eu trago estudantes para trabalharem no meu laboratório, e os faço criarem moléculas novas, que nunca foram vistas no universo antes. Digo a eles: ‘Você acabou de fazer algo que não existia antes, de que ninguém nunca ouviu falar, nem nunca tinha pensado em criar’. Tento dar a eles aquela sensação incrível de espanto, e basta isso para que se deem conta de que a ciência está ao alcance deles. Isso é muito importante.

Muitos cientistas ganhadores do Nobel defendem espaço para uma ciência mais solta e criativa, sem objetivo de aplicações imediatas. Seu trabalho ganhou muitas aplicações na indústria química. O senhor se guia muito por aplicações ou é movido mais pela busca de conhecimento puro?

A minha ciência até agora tem sido muito aplicável, mas eu também acredito que a ciência básica fundamental é muito importante. E nós tentamos fazer as duas coisas juntas. Eu sou grande defensor do valor do impacto na ciência. Se eu puder impactar o mundo hoje, em vez de ter que esperar 30 anos, porque não fazer agora? É muito mais divertido ver as coisas poderem ser usadas imediatamente. No meu laboratório, por exemplo, nós desenvolvemos ideias que rapidamente são adotadas por empresas farmacêuticas. Podemos literalmente inventar uma reação química na terça-feira, para a indústria usá-la na sexta. Isso é sensacional e muito gratificante, porque você percebe que está contribuindo para o conhecimento do mundo. Com sorte, é possível ajudar o progresso da medicina, pouco a pouco, mas de forma real. Sendo franco, nós damos sim muito valor à praticabilidade, à adoção e, em última instância, ao impacto. Não há nada de errado em cientistas pensarem assim.

Muito do impacto do seu trabalho está em criar processos químicos ambientalmente sustentáveis. Como estão conseguindo fazer isso?

Há muitas maneiras de fazer isso, mas posso destacar algumas mais diretas. Alguns metais são mais abundantes no planeta, como o cobre, mas outros são muito raros e muito preciosos. Um exemplo é o paládio, usado em carros, dentro de conversores catalíticos, e outras aplicações. Mas, acredite se quiser, o planeta tem reservas de paládio que só vão durar mais 90 anos antes de consumirmos tudo. Você se dá conta que o que a humanidade está fazendo em um intervalo de tempo muito curto é consumir as coisas e torná-las indisponíveis. Isso não é sustentável. Nesse caso, o que nós fizemos foi inventar uma nova maneira de fazer catálise, algo crítico para o planeta, usando moléculas orgânicas. O orgânico é sustentável. Por isso pensamos: será que podemos usar moléculas orgânicas em vez de metais como catalisadores? E criamos uma maneira de fazer isso. Isso, porém, se aplica à produção de moléculas em grande escala para o planeta inteiro. Quando planejamos criar moléculas em pequena escala e testar essas moléculas como medicamentos, por exemplo, ainda precisamos inventar novos tipos de reatividade o tempo todo. Essas são as duas grandes áreas em que estamos trabalhando: sustentabilidade em grande escala, e novos tipos de catalisadores que vão ajudar o mundo na pequena escala.

Vocês têm gerado muitas patentes ou produzido mais conhecimento aberto?

É muito raro patentearmos alguma coisa. O que nós produzimos, em geral, está disponível de graça para o mundo inteiro. Eu sou um grande defensor disso, porque somos financiados por recursos públicos. Temos recursos de diversas fontes. De vez em quando a universidade nos pede para patentear alguma coisa que os interessa, mas é bastante raro.

Como a conquista de um prêmio Nobel mudou sua vida nos últimos anos. Ser uma celebridade da ciência o ajuda ou o atrapalha de alguma forma?

Existem os dois lados, mas é algo maravilhoso em geral. A vida realmente mudou do dia para a noite de maneira surpreendente. Na frente científica é incrível, porque você pode conversar com praticamente qualquer outro cientista do planeta sobre colaboração. As portas realmente se abrem quando você é um ganhador de Nobel. Mas além disso, existem pedidos para que façamos tantas outras coisas, como conversar com políticos no mundo todo. Uma coisa maravilhosa que me aconteceu é que eu sou fanático por futebol, e estou recebendo convites para ver times no mundo inteiro. O meu time local na Escócia me concedeu um passe vitalício para assistir a todos os jogos de graça. Encontro celebridades. Acontecem essas coisas malucas que para mim seria impossível conquistar sendo um químico. É muito fácil gostar disso tudo, mas é preciso ter um pouco de cuidado para que não afete o caráter e nem a ciência que eu faço.

Para que time o senhor torce na Escócia?

Eu torço para os Glasgow Rangers. Eles fizeram um jogo incrível no domingo passado, empataram em 3 a 3 com o Celtic. A seleção da Escócia já disputou muitos jogos interessantes contra o Brasil. Assistir a esses jogos no estádio é incrível, porque a mistura das torcidas é incrível. Agora no Rio eu vou ao Maracanã. É uma peregrinação que quero fazer a esse que é um dos grandes templos do futebol mundial. Eu estava trocando mensagens nesta semana com o Alex Ferguson, que é mais famoso técnico de futebol escocês. Ele já dirigiu o Manchester United em jogo no Maracanã e me contou que a visita é uma experiência única.

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