Clima e ciência
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Por O Globo — Washington

O que você costuma fazer em situações de perigo? São muitos os mecanismos de defesa utilizados pelos seres humanos e principalmente pelos animais em episódios de estresse intenso. Um dos mais comuns no reino animal é fingir-se de morto, tática usada por peixes, insetos, anfíbios, pássaros e até alguns mamíferos. No caso das cobras-dado (Natrix tessellata), observadas em um estudo publicado nesta quarta-feira, o método conta com alguns toques teatrais: sujar o próprio corpo com fezes e até deixar sangue escorrer.

— Há teorias conflitantes sobre a origem da simulação da morte — explicou Vukašin Bjelica, pesquisador associado da Universidade de Belgrado e um dos autores da pesquisa publicado pela Biology Letters, à CNN. — Alguns dizem que é uma resposta consciente, enquanto outros afirmam que não é. Uma teoria é que é a resposta de defesa 'mais primitiva', semelhante ao congelamento em uma situação de alto estresse.

Bjelica queria entender se fingir a própria morte era, de fato, efetivo como mecanismo de defesa contra predadores ou não — até porque, ficar parado com partes vulneráveis à mostra poderia ser bastante arriscado. Nesse sentido, levando em consideração as cobras, ele e outros cientistas levantaram a hipótese de que quanto mais dramático fosse o teatro, menos tempo elas passariam em perigo. Mas era preciso testar.

Tipos de resposta

A equipe de pesquisadores da Universidade de Belgrado, na Sérvia, viajou para Golem Grad, uma ilha localizada no norte da Macedônia, onde as cobras são bastantes comuns. Ali, coletaram 263 cobras-dado não venenosas e as beliscaram com os dedos, simulando as ações de um predador. Elas foram libertadas, e, enquanto fugiam, seu comportamento foi observado. Algumas deixaram a boca bem aberta, e outras se sujam em suas próprias fezes, com um grupo jorrando também sangue pela boca. Teve ainda aquelas que não apresentaram reação.

Do total, 124 recorreram ao mecanismo de sujar-se no próprio excremento, enquanto o sangramento pela boca foi um comportamento relativamente incomum, avistado em apenas 28. Apesar disso, o estudo constatou que aquelas que sangravam passavam, em média, dois segundos a menos fingindo a própria morte. Ele também observou que, embora algumas não tivessem feito todo o teatro, elas também passaram menos tempo paralisadas, talvez por questões como temperatura, sexo ou tamanho. No geral, as cobras ficaram entre seis e 24 segundos "atuando".

No caso das fezes, sujar-se com elas tornaria a cobra menos apetitosa para seu predador, o que explicaria porque elas passam menos tempo nesta situação. Já o sangue, embora não seja diretamente esguichado no potencial predador, ele deixaria claro a morte para ele. Os pesquisadores acreditam que o sangramento seja causado pelo aumento na pressão sanguínea provocado por altos níveis de hormônios do estresse.

Reações variam

Bjelica, que conversou com a rede americana por e-mail, explicou que o comportamento contra um predador depende de muitos fatores, como o sexo do indivíduo, a temperatura corporal, o tamanho, a idade, se tinha ou não alimentos no intestino, a presença de ovos em fêmeas, experiências anteriores e lesões pré-existentes.

Por exemplo, nem todas as serpentes da amostra fingiram a própria morte, enquanto cobras mais jovens passaram menos tempo paralisadas e sangraram menos também. O comportamento também esteve ausente em cobras recém-nascidas de uma espécie semelhante, apontou o estudo, talvez por conta dos perigos associados à tática.

O pesquisador afirmou à CNN que ainda não ficou claro como cada indivíduo "adapta" sua resposta e que as observações foram "limitadas", já que os estímulos foram provocados por interações humanas e não de observações com predadores reais. Os resultados, agora, precisam ser replicados em outras espécies e outros ecossistemas, explicou o grupo de cientistas, afirmando que as próximas pesquisas devem se concentrar na sequência precisa do comportamento.

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