Clima e ciência
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Por AFP — Lamjung

RESUMO

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GERADO EM: 12/07/2024 - 04:00

Desafios na produção do mel alucinógeno do Himalaia

As alterações climáticas ameaçam a produção do 'mel alucinógeno' do Himalaia, levando a uma queda no número de abelhas e do mel colhido. Os coletores enfrentam desafios como incêndios, secas e pesticidas, resultando em aumento do preço e escassez do produto.

Pendurados em uma corda e empoleirados em uma escada de bambu para recolher um tipo de mel com propriedades alucinógenas em uma falésia dos Himalaias, alguns alpinistas nepaleses mantêm viva uma prática antiga, ameaçada pelas alterações climáticas.

Envolto em fumaça para se proteger dos ataques de um enxame de abelhas gigantes e pendurado a 100 metros do solo, Som Ram Gurung, de 26 anos, corta seções gotejantes de várias colmeias selvagens no distrito de Lamjung, no centro do Nepal.

O "mel alucinógeno", proveniente do néctar do rododendro, que as abelhas adoram, tem sabor picante e, segundo seus seguidores, leve efeito alucinógeno.

Devido à altitude em que é produzido, não é fácil de coletar. É obra da espécie Apis laboriosa, a maior abelha do mundo (tem até três centímetros de comprimento), que costuma estar presente nos desfiladeiros mais inacessíveis.

Mas esse não é o único desafio que os caçadores de mel enfrentam hoje, uma vez que as alterações climáticas colocam desafios adicionais nestes vales remotos, 100 quilômetros a noroeste de Katmandu.

Doodh Bahadur Gurung, 65 anos, passou suas habilidades para seu filho, Som Ram. Segundo ele, os coletores observaram uma rápida queda no número de colmeias e na quantidade de mel colhido.

— Quando éramos jovens, havia colmeias em quase todos os penhascos graças à abundância de flores silvestres e fontes de água — explica Doodh Bahadur. — Mas a cada ano é mais difícil encontrar [colmeias].

Pesticidas, incêndios e escassez de água

O declínio do número de abelhas é explicado por múltiplas causas. Segundo Bahadur, os cursos d'água secam devido a projetos hidrelétricos e chuvas irregulares, por exemplo. Além disso, as abelhas que voam para as explorações agrícolas também enfrentam o problema dos pesticidas, que as matam.

A combinação de invernos cada vez mais secos, chuvas cada vez mais irregulares e um calor sufocante fez com que os incêndios florestais se tornassem mais comuns na região.

Este ano, mais de 4.500 incêndios florestais eclodiram no Nepal, quase o dobro do número do ano anterior, segundo o governo.

Há dez anos, até 1.000 litros de mel podiam ser recolhidos por estação na aldeia de Doodh Bahadur. Hoje, os colecionadores têm sorte se conseguirem 250 litros.

Os cientistas confirmam estas observações, salientando que as alterações climáticas são um fator determinante.

— As abelhas são muito sensíveis às mudanças de temperatura — diz Susma Giri, especialista em abelhas do Instituto de Ciências Aplicadas de Katmandu. — São criaturas selvagens que não conseguem se adaptar às atividades humanas ou ao ruído.

Preço 'explode': Mais demanda e pior qualidade

O Centro Internacional para o Desenvolvimento Integrado de Montanhas (ICIMOD), com sede no Nepal, observou um derretimento das geleiras do Himalaia a uma velocidade nunca vista antes e também um "declínio brutal na população de abelhas".

A nível económico, as perdas anuais causadas pela menor polinização no Nepal ascenderam a US$ 250 (R$ 1,3 mil) por habitante em 2022, de acordo com um estudo publicado esse ano na revista Environmental Health Perspectives. Esta é uma soma enorme, considerando que o rendimento médio anual dos nepaleses é de US$ 1,4 mil (R$ 7,5 mil).

A diminuição das reservas fez com que o preço deste mel tão escasso disparasse. Há vinte anos, um litro valia US$ 3,5; agora, é vendido por US$ 15 — na cotação atual, de R$ 18 para R$ 80.

Segundo comerciantes, sua procura aumentou nos Estados Unidos, Europa e Japão devido aos seus supostos efeitos benéficos, amplamente divulgados nas redes sociais. Os comerciantes de mel de Katmandu estimam que cerca de 10.000 litros são exportados a cada ano.

Um pote de 250 gramas de "mel alucinógeno" pode chegar a US$ 70 online (R$ 377). A procura "aumenta todos os anos, mas a produção e a qualidade diminuíram", afirma Rashmi Kandel, exportadora de mel na capital nepalesa.

Há cada vez menos jovens dispostos a se dedicar a esta atividade, que dura um mês para ser concluída. Tal como acontece em todo o país, os jovens estão abandonando a vida rural para procurar empregos mais bem remunerados no exterior.

Som Ram Gurung abre os braços e as pernas inchados após descer o penhasco.

— Tenho mordidas por todo o corpo — diz. Segundo ele, estaria disposto a trabalhar em uma fábrica em Dubai por um salário mensal de cerca de US$ 320 (R$ 1,7 mil).

O pai dele, Doodh Bahadur, lamenta o desaparecimento das abelhas e a partida dos jovens.

— Perdemos tudo — diz ele. — O futuro é incerto para todos.

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