Mundo Coronavírus

Com epicentro em Nova York, surto de Ômicron aumenta tensão sobre festas de fim de ano nos EUA

Já responsável por quase três quartos dos casos no país, nova cepa deixa centros de testagem lotados e ameaça sobrecarregar hospitais
Pessoas fazem fila para serem testadas contra a Covid em Nova York Foto: ANDREW KELLY / REUTERS
Pessoas fazem fila para serem testadas contra a Covid em Nova York Foto: ANDREW KELLY / REUTERS

As incertezas ao redor da variante Ômicron , que em menos de um mês se tornou predominante nos Estados Unidos e já responde por 73,2% dos novos casos, são cada vez mais uma ameaça para as festas de fim de ano dos americanos.  Diagnostica-se uma média de 140 mil casos diários — 17% a mais do que há uma quinzena, enquanto as internações cresceram 14%. Em Nova York, de novo o epicentro da pandemia, filas para testes de Covid dobram quarteirões, alguns restaurantes e bares voltaram a fechar as portas, e vários shows na Broadway e no circuito off-Broadway anteciparam o recesso. Para enfrentar a nova onda, o presidente Joe Biden convocou médicos militares e anunciou a criação de centros federais de testagem — os primeiros serão em Nova York — e a compra de 500 milhões de testes rápidos.

Veja mais: EUA vão distribuir meio bilhão de testes gratuitos para conter avanço da Covid Ômicron no país

A nova cepa, que os especialistas ainda tentam entender, se dissemina rapidamente e passou de menos de 1% dos novos casos no início do mês para quase três quartos de todas as infecções no país, segundo dados das autoridades sanitárias.  Em Washington, onde o uso de máscaras voltou a ser obrigatório em espaços fechados na segunda-feira, registra-se mais que o triplo dos casos diários vistos no início do mês. Os diagnósticos voltam a crescer também em Boston, que recentemente baniu os não vacinados de restaurantes, e em Los Angeles.

É Nova York, no entanto, que se vê novamente no epicentro da crise sanitária nos EUA. Os casos no estado aumentaram mais de 80% nas últimas duas semanas. Na segunda-feira, foram registrados 23.391 testes com resultado positivo para o vírus, um recorde pelo quarto dia consecutivo — apenas na cidade de Nova York, foram mais de 15,2 mil casos, um aumento de 277% nas últimas duas semanas. Mas enquanto as internações também subiram 55%, as  mortes continuam baixas, na casa de 0,16 por 100 mil habitantes — o número é inferior à média nacional, de 0,39 por 100 mil. Estima-se que mais de 90% das infecções na área sejam causadas pela Ômicron.

Veja também: EUA chegam a 800 mil mortes por Covid em meio a novas preocupações por Ômicron e inverno

Ao anunciar o novo plano anti-Covid, Biden procurou tranquilizar a população diante da Ômicron, dizendo que "todos devemos estar preocupados, mas não alarmados", uma vez que "200 milhões de pessoas estão completamente vacinadas". O presidente, no entanto, mandou um recado direto a quem ainda não se vacinou — apenas 61% dos americanos tomaram as duas doses.

— Se você não está completamente vacinado, tem boas razões para se preocupar — disse.

Com Nova York sob nova pressão, o prefeito eleito, Eric Adams, adiou a posse prevista para 1º de janeiro. A prefeitura, por sua vez, avalia se prosseguirá ou não com os planos para o tradicional Ano Novo na Times Square, que demandará comprovantes de vacinação. A possibilidade de cancelar os festejos — tal qual fizeram Londres, Paris e Roma — não é descartada pelo prefeito Bill de Blasio, que destaca a gravidade do surto, mas faz uma ressalva:

“Não estamos em março de 2020”, tuitou no domingo, referindo-se à primeira onda da Covid, que pôs a cidade em quarentena e sobrecarregou os hospitais.

Vacinas fazem a diferença

A principal diferença agora está nas vacinas, amplamente disponíveis e eficazes na prevenção de casos graves e mortes. Cerca de 80% dos nova-iorquinos receberam ao menos uma dose, e 71,3% tomaram as duas, mais do que a média nacional de 61%. A cidade de mais de 8 milhões de habitantes já aplicou 1,7 milhão de doses de reforço.

O outro fator-chave é que são testadas mais pessoas do que em qualquer momento da pandemia, apesar da demanda pelos exame ser muito maior do que a oferta. Segundo De Blasio, há 89 centros para testagem nos cinco distritos de Nova York, que registram longas filas apesar das temperaturas negativas — muitas pessoas buscam garantir que não estão infectadas antes de viajar ou se encontrar com suas famílias no Natal.

Perguntas e respostas : O que já se sabe sobre a variante Ômicron

Até o fim da semana, disse o prefeito, deve haver 112 centros de testagem, junto com iniciativas para a entrega de testes rápidos, PCR caseiros e a distribuição de máscaras KN95:

— Esperamos que a Ômicron seja um fenômeno rápido e temporário. Até agora, baseado no que vimos, são casos mais brandos — afirmou. — Vamos ver um aumento de casos por algumas semanas e, depois, devem cair. A resposta é a vacinação.

As particularidades da Ômicron ainda são desconhecidas, ressaltam os especialistas, mas os números da cidade parecem confirmar a tendência vista no Sul da África, o berço da nova variante: ela se dissemina mais rapidamente que cepas anteriores, mas causa quadros menos graves, principalmente nos já imunizados. E por mais que haja algum escape vacinal com duas doses, tanto a Pfizer quanto a Moderna já afirmaram que injeções de reforço são eficazes.

Veja também: Plano de Biden para conter avanço da Covid-19 nos EUA evita restrições duras

Viagens normais

Nacionalmente, o quadro americano também é de piora, mas embora os novos casos e as internações tenham aumentado, a  média de mortes passou de 1.578 há 14 dias para 1.226 na segunda-feira, Há, no entanto, tendência de alta. Até o momento, há notícia de apenas uma vida perdida para a Ômicron no país: um homem texano não vacinado, que morreu na segunda-feira.

O temor, contudo, é que a situação piore, especialmente diante da relativamente baixa taxa de imunização nacional, ainda menor em regiões onde o Partido Republicano é popular, como o Texas:

— [Nova York] é um presságio do que o resto do país verá em breve e, do mínimo que outras partes do país vão vivenciar em cidades e estados menos vacinados — disse à Reuters Georges Benjamin, diretor executivo da Associação de Saúde Pública dos EUA.

Os dados mais recentes do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) que comparam o status de vacinação com a incidência de casos e mortes ainda não levam em conta o surto de Ômicron ou a terceira dose, aplicada em 18% dos americanos. Até novembro, no entanto, uma pessoa não vacinada tinha cinco vezes mais chances de se infectar e 13 vezes mais chances de morrer do que alguém com duas doses.

Leia mais: Trump teve teste positivo para a Covid três dias antes de debate presidencial contra Biden, diz ex-chefe de Gabinete

Para combater o surto, o presidente Joe Biden anunciou que deslocará mil médicos e profissionais da saúde militares para hospitais sobrecarregados, criará novos centros de testagem federais — os primeiros em Nova York — e comprará 500 milhões de testes rápidos. A Casa Branca, contudo, resiste às conversas sobre quarentena e também não pede diretamente para que as pessoas suspendam seus planos de viagem para o fim de ano, algo que parte dos especialistas considera ser prudente para evitar uma sobrecarga dos hospitais.

A expectativa das companhias aéreas é que a Ômicron não atrapalhe muito as viagens domésticas: a United Airlines está voando o maior número de aeronaves neste mês desde que a pandemia começou. Decolam, por dia, uma média de 4 mil aviões, e mais de 200 voos domésticos adicionais foram criados para atender à demanda.

A Delta, por sua vez, disse na semana passada que a nova cepa reduziu as reservas internacionais, conforme vários países voltam a acirrar suas restrições. Ao canal CNBC, no entanto, o diretor da companhia, Ed Bastian, disse que as reservas deste fim de ano não devem ser impactadas.