As incertezas ao redor da variante Ômicron , que em menos de um mês se tornou predominante nos Estados Unidos e já responde por 73,2% dos novos casos, são cada vez mais uma ameaça para as festas de fim de ano dos americanos. Diagnostica-se uma média de 140 mil casos diários — 17% a mais do que há uma quinzena, enquanto as internações cresceram 14%. Em Nova York, de novo o epicentro da pandemia, filas para testes de Covid dobram quarteirões, alguns restaurantes e bares voltaram a fechar as portas, e vários shows na Broadway e no circuito off-Broadway anteciparam o recesso. Para enfrentar a nova onda, o presidente Joe Biden convocou médicos militares e anunciou a criação de centros federais de testagem — os primeiros serão em Nova York — e a compra de 500 milhões de testes rápidos.
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A nova cepa, que os especialistas ainda tentam entender, se dissemina rapidamente e passou de menos de 1% dos novos casos no início do mês para quase três quartos de todas as infecções no país, segundo dados das autoridades sanitárias. Em Washington, onde o uso de máscaras voltou a ser obrigatório em espaços fechados na segunda-feira, registra-se mais que o triplo dos casos diários vistos no início do mês. Os diagnósticos voltam a crescer também em Boston, que recentemente baniu os não vacinados de restaurantes, e em Los Angeles.
É Nova York, no entanto, que se vê novamente no epicentro da crise sanitária nos EUA. Os casos no estado aumentaram mais de 80% nas últimas duas semanas. Na segunda-feira, foram registrados 23.391 testes com resultado positivo para o vírus, um recorde pelo quarto dia consecutivo — apenas na cidade de Nova York, foram mais de 15,2 mil casos, um aumento de 277% nas últimas duas semanas. Mas enquanto as internações também subiram 55%, as mortes continuam baixas, na casa de 0,16 por 100 mil habitantes — o número é inferior à média nacional, de 0,39 por 100 mil. Estima-se que mais de 90% das infecções na área sejam causadas pela Ômicron.
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Ao anunciar o novo plano anti-Covid, Biden procurou tranquilizar a população diante da Ômicron, dizendo que "todos devemos estar preocupados, mas não alarmados", uma vez que "200 milhões de pessoas estão completamente vacinadas". O presidente, no entanto, mandou um recado direto a quem ainda não se vacinou — apenas 61% dos americanos tomaram as duas doses.
— Se você não está completamente vacinado, tem boas razões para se preocupar — disse.
Com Nova York sob nova pressão, o prefeito eleito, Eric Adams, adiou a posse prevista para 1º de janeiro. A prefeitura, por sua vez, avalia se prosseguirá ou não com os planos para o tradicional Ano Novo na Times Square, que demandará comprovantes de vacinação. A possibilidade de cancelar os festejos — tal qual fizeram Londres, Paris e Roma — não é descartada pelo prefeito Bill de Blasio, que destaca a gravidade do surto, mas faz uma ressalva:
“Não estamos em março de 2020”, tuitou no domingo, referindo-se à primeira onda da Covid, que pôs a cidade em quarentena e sobrecarregou os hospitais.
Vacinas fazem a diferença
A principal diferença agora está nas vacinas, amplamente disponíveis e eficazes na prevenção de casos graves e mortes. Cerca de 80% dos nova-iorquinos receberam ao menos uma dose, e 71,3% tomaram as duas, mais do que a média nacional de 61%. A cidade de mais de 8 milhões de habitantes já aplicou 1,7 milhão de doses de reforço.
O outro fator-chave é que são testadas mais pessoas do que em qualquer momento da pandemia, apesar da demanda pelos exame ser muito maior do que a oferta. Segundo De Blasio, há 89 centros para testagem nos cinco distritos de Nova York, que registram longas filas apesar das temperaturas negativas — muitas pessoas buscam garantir que não estão infectadas antes de viajar ou se encontrar com suas famílias no Natal.
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Até o fim da semana, disse o prefeito, deve haver 112 centros de testagem, junto com iniciativas para a entrega de testes rápidos, PCR caseiros e a distribuição de máscaras KN95:
— Esperamos que a Ômicron seja um fenômeno rápido e temporário. Até agora, baseado no que vimos, são casos mais brandos — afirmou. — Vamos ver um aumento de casos por algumas semanas e, depois, devem cair. A resposta é a vacinação.
As particularidades da Ômicron ainda são desconhecidas, ressaltam os especialistas, mas os números da cidade parecem confirmar a tendência vista no Sul da África, o berço da nova variante: ela se dissemina mais rapidamente que cepas anteriores, mas causa quadros menos graves, principalmente nos já imunizados. E por mais que haja algum escape vacinal com duas doses, tanto a Pfizer quanto a Moderna já afirmaram que injeções de reforço são eficazes.
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Viagens normais
Nacionalmente, o quadro americano também é de piora, mas embora os novos casos e as internações tenham aumentado, a média de mortes passou de 1.578 há 14 dias para 1.226 na segunda-feira, Há, no entanto, tendência de alta. Até o momento, há notícia de apenas uma vida perdida para a Ômicron no país: um homem texano não vacinado, que morreu na segunda-feira.
O temor, contudo, é que a situação piore, especialmente diante da relativamente baixa taxa de imunização nacional, ainda menor em regiões onde o Partido Republicano é popular, como o Texas:
— [Nova York] é um presságio do que o resto do país verá em breve e, do mínimo que outras partes do país vão vivenciar em cidades e estados menos vacinados — disse à Reuters Georges Benjamin, diretor executivo da Associação de Saúde Pública dos EUA.
Os dados mais recentes do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) que comparam o status de vacinação com a incidência de casos e mortes ainda não levam em conta o surto de Ômicron ou a terceira dose, aplicada em 18% dos americanos. Até novembro, no entanto, uma pessoa não vacinada tinha cinco vezes mais chances de se infectar e 13 vezes mais chances de morrer do que alguém com duas doses.
Para combater o surto, o presidente Joe Biden anunciou que deslocará mil médicos e profissionais da saúde militares para hospitais sobrecarregados, criará novos centros de testagem federais — os primeiros em Nova York — e comprará 500 milhões de testes rápidos. A Casa Branca, contudo, resiste às conversas sobre quarentena e também não pede diretamente para que as pessoas suspendam seus planos de viagem para o fim de ano, algo que parte dos especialistas considera ser prudente para evitar uma sobrecarga dos hospitais.
A expectativa das companhias aéreas é que a Ômicron não atrapalhe muito as viagens domésticas: a United Airlines está voando o maior número de aeronaves neste mês desde que a pandemia começou. Decolam, por dia, uma média de 4 mil aviões, e mais de 200 voos domésticos adicionais foram criados para atender à demanda.
A Delta, por sua vez, disse na semana passada que a nova cepa reduziu as reservas internacionais, conforme vários países voltam a acirrar suas restrições. Ao canal CNBC, no entanto, o diretor da companhia, Ed Bastian, disse que as reservas deste fim de ano não devem ser impactadas.