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Com social-democratas avançando nas pesquisas, Merkel pede votos para seu partido em nome da ‘moderação’

Em seu último discurso no Parlamento alemão, chanceler que deixa o cargo após eleições de 26 de setembro defendeu candidato conservador e criticou rival por possível coalizão com a extrema esquerda
A chanceler Angela Merkel pede votos a candidato da sua legenda, em último discurso no Bundestag Foto: TOBIAS SCHWARZ / AFP
A chanceler Angela Merkel pede votos a candidato da sua legenda, em último discurso no Bundestag Foto: TOBIAS SCHWARZ / AFP

BERLIM —  A chanceler alemã, Angela Merkel, interveio pela primeira vez de forma contundente na campanha para as eleições gerais do próximo dia 26, fazendo um apelo aos eleitores para que apoiem seu candidato à chefia do governo, Armin Laschet , em nome da manutenção de uma coalizão "moderada" à frente da Alemanha. O apelo veio no momento em que o bloco conservador formado pela União Democrata Cristã (CDU) de Merkel e seu partido irmão da Baviera, a União Social-Cristã (CSU), atinge sua pior marca histórica nas intenções de voto.

— A melhor via para o nosso país é um governo liderado pela CDU e pela CSU, com Armin Laschet como chanceler — disse Merkel aos deputados em seu provável último discurso no Bundestag, o Parlamento alemão. — Seu governo será marcado pela estabilidade, confiabilidade e moderação, e é disso que a Alemanha precisa.

As eleições deste mês marcam a despedida de Merkel do comando da Alemanha após 16 anos e cinco mandatos. No entanto, uma vitória dos democratas cristãos, que era dada como certa há apenas dois meses, foi posta em dúvida com a ascensão nas pesquisas do Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda.

Contexto : A três semanas da eleição, candidato de Merkel apresenta equipe política para tentar recuperação nas pesquisas

O SPD assumiu a liderança em meados de agosto e desde então vem aumentando sua vantagem sobre o bloco CDU/CSU. Uma nova sondagem do instituto Forsa, divulgada nesta terça-feira, mostra que o apoio aos social-democratas chegou a 25%, enquanto os conservadores caíram dois pontos e têm 19% das intenções de voto, sua menor marca desde o fim da Segunda Guerra. Na média das pesquisas, o SPD tem 25%, a CDU, 20%, e os Verdes, 17%.

Atualmente, o SPD e os conservadores, embora rivais históricos na política alemã, estão juntos na coalizão de governo liderada por Merkel. No entanto, uma vitória eleitoral dos social-democratas abriria a possibilidade de formação de uma nova aliança governista.

Na segunda-feira, o partido Die Linke (A Esquerda) , que tem 6% das intenções de voto e ocupa a extrema esquerda no espectro dos partidos alemães com representação parlamentar, se mostrou disposto a formar uma coalizão com os social-democratas e com os Verdes. De acordo com o Linke, a parceria daria às legendas as melhores probabilidades de implementar suas políticas sociais.

— Os cidadãos têm a escolha em alguns dias: ou um governo que aceita o apoio do partido Die Linke, com o SPD e os Verdes, ou pelo menos não o exclui, ou um governo federal liderado pela CDU e a CSU,  um governo que conduzirá nosso país ao futuro com moderação —  disse Merkel em seu discurso.

O candidato a chanceler pelo SPD é Olaf Scholz, que é hoje ministro das Finanças no governo de Merkel e, com uma marca de eficiência, é mais popular nas pesquisas do que Laschet, seu rival conservador na disputa eleitoral.

Scholz não fechou questão a respeito de uma aliança com o Linke, afirmando que o partido só estará apto a compor o governo se assumir compromissos claros com a manutenção da Alemanha na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a alança militar ocidental, e com a austeridade fiscal. Falando depois de Merkel neste terça, Scholz disse ao Bundestag:

— Um novo começo é necessário, e espero e estou certo de que terá sucesso.

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Merkel vinha se mantendo relativamente à margem da campanha, e apenas nas últimas semanas começou a se posicionar a favor de Laschet, que preside a CDU. No último domingo, ela visitou a Renânia do Norte-Vestfália, região governada pelo candidato conservador e a mais devastada pelas enchentes de julho que deixaram 180 mortos. Segundo ela, o governo de Laschet na região foi “muito bem-sucedido” e “quem comanda essa região pode comandar o país”.

Laschet, por sua vez, buscou ressuscitar sua titubeante campanha para substituir a chanceler, e apresentou, na semana passada, uma equipe política composta por quatro homens e quatro mulheres. O mais famoso entre os anunciados é Friedrich Merz, um antagonista de Merkel que por pouco perdeu duas disputas para chefiar a CDU.

Na semana passada, Scholz, o candidato social-democrata, esteve em Paris, e na próxima quarta-feira será a vez de Laschet, que também visitará o presidente francês Emmanuel Macron. O eixo Berlim-Paris costuma dar a palavra final nas políticas da União Europeia, e a ausência da liderança de Merkel  — que enfrentou crises como a financeira de 2008 e a onda de refugiados de 2015 — põe em questão o futuro dessa articulação.