PARIS — O candidato centrista pró-europeu Emmanuel Macron, de 39 anos, foi eleito presidente da França neste domingo — o mais jovem da História do país — e substituirá o socialista François Hollande. Com todas as urnas apuradas, Macron venceu a candidata da extrema-direita, Marine Le Pen, com 66,06% dos votos contra 33,94%. Estimativas indicam que a abstenção ficará entre 25,3% e 27%, a maior taxa desde 1969.
Os dois candidatos tiveram uma conversa breve e cordial por telefone, antes de divulgadas as primeiras estimativas oficiais, segundo a equipe de Macron. Logo que a vitória se confirmou, uma explosão de alegria invadiu a esplanada do Louvre, em Paris, lotada de simpatizantes do Em Marcha!, que agitavam a bandeira da França.
— Obrigado, obrigado, obrigado! — agradeceu o jovem Emmanuel Macron ao discursar para a multidão, após surgir no pátio do Museu do Louvre, embalado pelo hino europeu diante de milhares de simpatizantes e correligionários para celebrar sua vitória.
Ele também se dirigiu aos eleitores que votaram nele para fazer oposição a Le Pen:
— Obrigado aos que votaram em mim sem ter nossas ideias. Sei que não se trata de um cheque em branco afirmou — acrescentou, em tom bastante solene, aos pés da Pirâmide, prometendo que fará tudo que for possível para que os franceses "não tenham mais qualquer motivo para votar nos extremos". — Não cederemos nada ao medo, não cederemos nada à divisão.
![O centrista pró-europeu Emmanuel Macron, de 39 anos, foi eleito neste domingo presidente da França - o mais jovem da história do país -, evitando, assim, que esta potência econômica mundial caísse nas mãos da adversária de extrema-direita, Marine Le Pen - AFP](https://s01.video.glbimg.com/x360/5852520.jpg)
A vitória de Macron já se refletiu no mercado. A cotação do euro passou de US$ 1,0998 a US$ 1,1010 nas primeiras transações do dia no mercado asiático
Líderes de todo o mundo felicitaram Macron pela vitória. O porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, qualificou a vitória do centrista de uma "vitória para uma Europa forte e unida".
"Felicidades, @EmmanuelMacron. Sua vitória é uma vitória para uma Europa forte e unida e para a amizade franco-alemã", publicou Steffen Seibert, em alemão e francês, no Twitter.
Também no Twitter, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, assegurou que os franceses elegeram "um futuro europeu".
"Feliz de que os franceses tenham eleito um futuro europeu", declarou Juncker na rede social.
Já o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, elogiou a decisão dos franceses a favor da "liberdade, a igualdade e a fraternidade".
FRANÇA DIVIDIDA
Macron vai governar uma França muito dividida politicamente entre zonas urbanas (privilegiadas e reformistas) e as despossuídas (tentadas pelos extremos). Ele se confrontará com uma série de grandes desafios, como um desemprego endêmico de 10%, a luta antiterrorista e a crise da União Europeia (UE).
Em discurso em seu QG de campanha, em Paris, após o anúncio da vitória, Macron afirmou que "combaterá as divisões" entre os franceses. Disse ainda que está consciente "da raiva, da ansiedade e das dúvidas" dos cidadãos e garantiu que trabalhará para "reconstruir a relação entre a Europa e os cidadãos".
Ainda que Marine Le Pen, de 48 anos, tenha perdido por ampla margem, o resultado está longe de ser uma derrota absoluta para ela e para seu partido, a Frente Nacional (FN), que convenceu de 33,9% a 34,5% do eleitorado com promessas contra a imigração e contra a zona do euro. Não apenas isso: criou-se um vácuo entre as principais forças políticas do panorama nacional.
Marine desejou sucesso a Macron, lembrando-o de que estará "à frente do combate" nas eleições legislativas de junho. Também comemorou o resultado histórico obtido por seu partido neste segundo turno.
MUDANÇA NO TABULEIRO POLÍTICO
Em apenas um ano, desde que fundou o movimento de centro Em Marcha!, Macron abriu caminho em um país onde os dois grandes partidos tradicionais de esquerda e direita se alternavam no poder há meio século.
No primeiro turno, superou-os com um programa europeísta e liberal em temas econômicos e sociais. Foi para o segundo com uma confortável vantagem nas pesquisas, reforçada no debate com sua adversária. Isso não impediu que levasse um susto de última hora, com um ataque maciço de "hackers", cuja origem é desconhecida e está sendo investigado pelas autoridades.
Para o mundo, essas eleições funcionaram como um termômetro para mensurar a força dos populistas e retomar o pulso da União Europeia, após a vitória do Brexit no Reino Unido.
A aposta política de Macron foi um sucesso, mas o passo seguinte é uma incógnita. Após eleger seu presidente, os franceses voltam às urnas em junho para votar nas eleições legislativas, dominadas pela incerteza.
O baque político da direita e dos socialistas no primeiro turno e o avanço da extrema-direita no segundo geram pelo menos uma dúvida: Macron será capaz de conseguir uma maioria parlamentar e evitar uma coabitação complicada, apesar de não dispor da máquina de um partido tradicional?
Marine Le Pen pode eleger muitos mais deputados do que tem atualmente, com sua campanha anti-UE, contra a globalização, contra os imigrantes ilegais e contra as "elites", em um país corroído pelo desemprego e traumatizado com a onda de atentados extremistas.
![Partidários de Macron comemoram resultados das eleições Foto: CHRISTIAN HARTMANN / REUTERS](https://ogimg.infoglobo.com.br/in/21307678-b3e-2b9/FT1086A/FRANCE-ELECTION_-GVJ37R0AP.1.jpg)
BRAÇO DIREITO DE MACRON
O homem que sacudiu a política com um novo partido fascina pessoas próximas, assim como desconhecidos. Não apenas por sua juventude, mas por ser casado com uma mulher 24 anos mais velha: Brigitte, a futura primeira-dama que foi sua professora de teatro e se tornou onipresente na campanha.
Líderes mundiais do porte da chanceler alemã, Angela Merkel, e do ex-presidente americano Barack Obama apoiaram seu programa, centrado no slogan: "uma França aberta, confiante e conquistadora" dentro de "uma Europa protetora".
Macron será o presidente mais jovem da história da França — mais jovem até mesmo do que Louis-Napoléon Bonaparte, que tinha 40 anos quando foi eleito em 1848 — e um dos mais jovens do mundo.
Ele tem cinco anos pela frente para comandar um país com armas nucleares, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, e motor, juntamente com a Alemanha, da União Europeia, cuja zona do euro ele espera dotar de um orçamento, de um Parlamento e de um ministro das Finanças próprio.
A vitória desse homem com cara de bom moço, formado nas escolas da elite francesa, encerra uma campanha eleitoral repleta de sobressaltos, na qual os imbróglios judiciais ofuscaram durante um bom tempo os temas de fundo, somando-se ao cansaço de uma população desencantada com os políticos.